A arqueologia frequentemente revela segredos enterrados pelo tempo, mas às vezes uma ajudinha dos céus pode tirar a poeira da história. Recentemente, um grupo de pesquisadores fez uma descoberta notável ao identificar o local de uma batalha antiga no Iraque, a Batalha de al-Qadisiyyah, com a ajuda de imagens de satélite desclassificadas. Este evento, que ocorreu entre os anos 636 e 637 d.C., foi crucial para os árabes muçulmanos na expansão de seu domínio além da Arábia, mas sua localização exata sempre foi um mistério. Agora, graças a um esforço colaborativo de investigadores da Universidade de Durham, no Reino Unido, e da Universidade de Al-Qadisiyah, no Iraque, este capítulo da história ganhou um novo contorno.
As imagens de satélite, que antes serviam a propósitos militares durante a Guerra Fria, se tornaram uma ferramenta poderosa para pesquisadores na área de arqueologia. Durante a análise de dados, os arqueólogos encontraram a localização da Batalha de al-Qadisiyyah, que foi um marco na conquista da Pérsia pelos muçulmanos. Este foi um conflito em que um exército árabe, numericamente menor, conseguiu superar um exército sasanida muito maior. A batalha é frequentemente considerada um ponto de virada no estabelecimento do Islã em regiões exteriores à Península Arábica.
A definição do local não foi uma tarefa simples. A equipe de pesquisa estava inicialmente focada em mapear a rota de peregrinação de Darb Zubaydah, que se estendia de Kufa, no Iraque, a Meca, na Arábia Saudita, quando decidiram usar algumas das mesmas técnicas e fontes de dados para tentar localizar este famoso campo de batalha. William Deadman, especialista em sensoriamento remoto arqueológico, expressou sua empolgação ao comentar: “Eu pensei que essa era uma boa oportunidade para tentar encontrá-la.” Ao plotar séries de círculos no mapa com base nas distâncias mencionadas em relatos históricos e examinando as áreas de sobreposição nas imagens de satélite, Deadman foi capaz de fazer progressos significativos.
Surpresas surpreendentes aguardavam os arqueólogos quando analisaram os dados. De forma impressionante, evidências de fortificações e uma estrutura de paredes duplas mencionadas nas crônicas históricas começaram a surgir em seu olho crítico. “Eu fiquei boquiaberto ao encontrar características que estavam descritas nas contas”, disse Deadman, refletindo sobre o impacto de sua descoberta. A análise realizada pela equipe indicou que a batalha ocorreu a cerca de 30 quilômetros ao sul de Kufa, na atual província de Najaf, uma informação corroborada por investigações no chão feitas por pesquisadores locais.
A Batalha de al-Qadisiyyah não apenas consolidou o controle árabe, mas também caracterizou um ponto crucial ao iniciar uma era de expansão significativa para os árabes muçulmanos. A vitória foi uma afirmação de poder contra um dos impérios mais impressionantes da época, os sasânidas, que dominavam a região. Este confronto não só alterou o curso da história para a Península Arábica, mas também afetou os próprios ares de civilizações que hoje consideramos parte do legado cultural do mundo.
Atualmente, o local da batalha é uma terra agrícola, e o que restou da muralha de seis milhas (cerca de 9,7 quilômetros) foi, em muitos casos, destruído ou incorporado às divisões agrícolas da região. Deadman indicou que a área onde supostamente se encontrava o antigo posto militar de al-‘Udhayb parece ter sido desmantelada. Para avançar, os pesquisadores planejam mapear o que sobrou e realizar levantamentos arqueológicos, embora a viagem à área tenha sido adiada devido às tensões políticas no Oriente Médio. De acordo com Deadman, “Foi um momento decisivo na história”, e a urgência desses estudos se torna cada vez mais clara à medida que novas gerações se conectam com o passado de sua terra.
A pesquisa realizada pela equipe foi documentada na renomada revista antiquity, e a equipe aguardará novos desdobramentos conforme buscam as camadas de história que estão profundamente enterradas na terra do Iraque, enquanto revelam a narrativa extraordinária da guerra e da conquista que moldaram o que conhecemos hoje.