Uma enorme e malcheirosa baleia esperma de 15 metros foi encontrada encalhada na costa do Mar Cáspio, o maior lago do mundo, desde a última segunda-feira. Este evento inusitado e visualmente impactante tem atraído a atenção de milhares de pessoas na capital do Azerbaijão, Baku, que provavelmente nunca viram uma baleia como essa. A presença desta criatura marinha em um local em que, normalmente, não existem baleias esperma tem gerado uma mescla de surpresa, curiosidade e até mesmo perplexidade.

No entanto, é importante esclarecer que esta baleia não é real. Trata-se de um modelo hiper-realista elaborado por um coletivo internacional de artistas, conhecido como Captain Boomer. Este grupo, baseado na Bélgica, reúne atores, escultores e cientistas que desejam iluminar a destruição ecológica global e os desafios da crise climática provocada pelo ser humano.

Para dar realidade à instalação, foram utilizados moldes de verdadeiras baleias, e o mau cheiro que emana do local é gerado por baldes de peixes podres escondidos nas proximidades, para aumentar a ilusão. Desde que foi criado, há uma década, o modelo já percorreu várias cidades e costas, de Europa a Austrália. Bart Van Peel, membro do grupo, comentou que eles surgem em diferentes lugares “quando achamos que a história está certa”.

Neste momento, a instalação foi colocada na costa de Baku, enquanto líderes globais se reúnem na cidade para a cimeira climática COP29 apoiada pela ONU, onde discutirão formas de enfrentar a crescente crise climática. O objetivo é brincar com a linha entre a realidade e a ficção, desafiando as crenças das pessoas e fazendo-as refletir sobre a relação com o meio ambiente. Van Peel observa que esse animal incongruente provoca uma sensação de que “o vínculo das pessoas com a natureza está perturbado”.

A jornada da baleia até o Azerbaijão foi longa. Os membros do Captain Boomer carregaram a instalação em um caminhão e atravessaram A Europa, Turquia e Geórgia, até finalmente chegarem a Baku duas semanas depois. O grupo recebeu a aprovação das autoridades do Azerbaijão para a instalação, com ajuda de um ativista local, Adnan Hussein, que iniciou a iniciativa FINS, focada na proteção de espécies marinhas. Eles planejam manter a baleia exposta durante toda a conferência climática.

A instalação é acompanhada por um tipo de teatro de rua, onde membros do coletivo desempenham papéis de cientistas tentando descobrir o que aconteceu com a baleia. Eles criam uma “tapeçaria de histórias”, sugerindo, por exemplo, que, devido às mudanças climáticas, a baleia teria mudado sua rota de migração. Este é um convite para reflexão sobre como o aquecimento global afeta não apenas a vida marinha, mas também os padrões de migração dos animais, tornando-os cada vez mais vulneráveis a atividades humanas, como o tráfego marítimo e a pesca.

Desde a instalação na manhã de segunda-feira, milhares de pessoas têm se reunido para observar a “baleia”, e muitas delas permaneceram mais de uma hora, tendo reações emocionais variadas. Van Peel relatou que as pessoas frequentemente expressam sentimentos de tristeza e desolação diante do que a instalação representa. Para ele, o poder desse evento está em reunir as pessoas em torno da presença anômala da baleia. Ele comentou que é como se “um monstro vindo de outro elemento se atirasse a nossos pés e dissesse: ‘Olhem, não consigo mais’”. Essa imagem provoca um questionamento profundo sobre o que as pessoas farão a respeito.

Em conclusão, a instalação da baleia na costa do Mar Cáspio não é apenas uma atração curiosa, mas também uma potente mensagem sobre a condição do nosso planeta e o impacto das ações humanas sobre a vida marinha. A arte, neste caso, se transforma em um meio eficaz para promover conscientização e diálogo sobre questões ambientais urgentes, desafiando os espectadores a reavaliar sua relação com a natureza e a agir em prol da preservação de nosso ecossistema.

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