Em uma decisão que tem gerado intenso debate e indignação, a Salford University, localizada no norte da Inglaterra, confirmou que o Centenary Building, uma estrutura premiada que conquistou o prestigioso Prêmio Stirling do Royal Institute of British Architects (RIBA) em 1996, será demolida. O anúncio vem a público menos de 30 anos após a construção do edifício, que agora se encontra vazio há algum tempo.

A decisão da universidade ressalta um contraste preocupante entre a importância histórica do Centenary Building, considerado um marco de inovação na arquitetura moderna, e a necessidade da administração de lidar com a infraestrutura moribunda e não adaptada às exigências contemporâneas. Em declaração à CNN, a universidade explicou que “embora o Centenary Building tenha feito parte do nosso patrimônio universitário por diversas décadas, infelizmente sua infraestrutura envelhecida significa que não atende mais aos padrões e requisitos modernos”. É uma frase que ecoa uma triste realidade: muitas vezes, o que é valorizado na arquitetura contemporânea é perdido em nome da inovação.

O espaço que há anos serve de vestígio de um passado glorioso agora será substituído, como afirmado pela universidade, numa “reurbanização abrangente” da região envolvente. O descontentamento começa a tomar forma entre arquitetos e grupos de preservação, destacando como a demolição de um edifício jovem, mas significativo, representa um descompasso nas agendas de sustentabilidade e preservação histórica da universidade.

O renomado arquiteto Stephen Hodder, em sua declaração sobre o caso, expressou sua profunda desilusão. Ele declarou que “não posso apoiar a demolição de um edifício que tem apenas trinta anos. A consideração deve definitivamente ser dada às emissões de carbono resultantes de sua demolição e substituição.” O arquiteto critica, ainda, a alegação da universidade de que a infraestrutura envelhecida não pode ser modernizada, argumentando que, para uma instituição que se orgulha de suas credenciais de sustentabilidade, a intenção de demolir o Centenary Building contraria a credibilidade de suas políticas.

A controvérsia não é isolada, pois em outubro, o Twentieth Century Society, um grupo que luta pela preservação de edifícios do século XX no Reino Unido, submeteu uma solicitação à Historic England para proteger o Centenary Building. De acordo com o comunicado divulgado pelo Society em sua solicitação, o edifício, com sua construção de paredes de concreto, foi projetado em torno de uma ‘rua interna’, com espaços de ensino e administração organizados de forma a criar um fluxo inovador dentro do espaço, conectados por galerias e pontes.

O Society expressou sua preocupação sobre como a saturação do desenvolvimento na área circundante poderia ameaçar a sobrevivência do edifício, e sua declaração à CNN sobre o tema foi clara: “É extremamente decepcionante que planos para transformar o edifício em uma escola ou centro comunitário não tenham avançado e agora esteja programado para demolição.” A declaração também frisou que destruir uma construção que tem um tácito valor arquitetônico e potencial de adaptação é “um resultado totalmente irresponsável e desnecessário”.

Enquanto essas discussões fervilham, um dos pensamentos que surgem é a responsabilidade das universidades em preservar a herança arquitetônica e o lugar que esses edifícios ocupam na narrativa cultural do Reino Unido. O presidente do conselho do RIBA, Jack Pringle, enfatizou que a invenção e o reaproveitamento de edifícios são cruciais para o futuro de emissões líquidas zero. “Deve-se argumentar a favor que todos os edifícios premiados do Stirling Prize sejam considerados para listagem”, afirmou Pringle, fazendo ecoar um chamado à ação para reconsiderar antes de sacrificar a diversidade arquitetônica por uma abordagem unidimensional de renovação urbana.

A demolição do Centenary Building não é apenas sobre a remoção de uma estrutura física, mas sobre o impacto cultural e ambiental que essa decisão traz a um futuro que busca ser mais sustentável. Assim, o que estava prometido como um símbolo de inovação e compromisso com o futuro se transforma numa história de perda, uma lição sobre como o progresso pode, por vezes, vir à custa do que já foi conquistado. Resta saber se a Salford University irá reconsiderar sua decisão ou se o Centenary Building se tornará, finalmente, uma memória perdida em meio ao caos da modernização.

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