A desinformação gerada pela inteligência artificial é uma preocupação crescente que inquieta especialistas e cidadãos. O professor Oren Etzioni, respeitado pesquisador de inteligência artificial e fundador da organização sem fins lucrativos TrueMedia, fez alertas importantes em uma recente entrevista ao TechCrunch sobre o impacto real dessa nova forma de desinformação. Embora muitos temessem que as eleições de 2024 fossem severamente afetadas por essa prática, a realidade parece ser ainda mais complexa. Na verdade, a desinformação existe, mas o perigo talvez não seja voltado diretamente para todos nós. A cada dia, um vasto número de conteúdos enganosos é criado e disseminado, mas apenas uma fração mínima chega ao conhecimento da maioria das pessoas.
De acordo com Etzioni, a variedade e a quantidade de deepfakes gerados são surpreendentes. Em suas palavras, “para cada coisa que você ouve, existem cem que não são direcionadas a você. Talvez mil”. Ele enfatiza que, por mais que todos nós tenhamos acesso a informações e canais de comunicação, a maioria das pessoas acredita erroneamente que suas experiências refletem a realidade de todos. Isso se torna especialmente evidente em campanhas de desinformação, onde a população americana, muitas vezes considerada bem informada, pode, de fato, ser um alvo difícil, mas ainda assim vulnerável.
A percepção comum sobre deepfakes se concentra em celebridades ou figuras públicas, como um vídeo de um artista famoso fazendo ou dizendo algo que nunca ocorreu. No entanto, Etzioni esclarece que a verdadeira ameaça reside em deepfakes que envolvem situações cotidianas ou indivíduos menos reconhecidos, tornando a identificação e a refutação dessas informações enganosas um desafio. A desinformação mais sofisticada pode criar realidades alternativas que, mesmo sem respaldo, se espalham para milhões de pessoas através de plataformas como Telegram e WhatsApp. Um exemplo alarmante citado pelo pesquisador foi de um vídeo que mostrava aeronaves iranianas sobre Israel, algo que nunca aconteceu, mas que poderia facilmente ser disseminado como verdade.
Em resposta a essa crescente ameaça, a TrueMedia oferece uma ferramenta gratuita, acessível via web e API, que busca identificar imagens, vídeos, áudios e outros conteúdos como verdadeiros ou falsos. O processo, complexo e manual, envolve um trabalho contínuo para construir uma base de dados de informações confiáveis a partir do material que é enviado pelo público global. Etzioni explica que a missão primária da TrueMedia é a detecção de desinformação, e embora os métodos tradicionais de avaliação estejam ultrapassados, novas abordagens estão sendo exploradas. “Treinamos nosso sistema com conteúdos enviados de diversas partes do mundo”, diz ele. “A partir daí, comparamos o que diferentes fornecedores afirmam e o que nosso modelo propõe”.
A determinação do impacto da desinformação está diretamente ligada a três questões centrais que Etzioni apresentou. O primeiro questionamento é sobre a quantidade de desinformação que existe; ele afirma que, sem uma “ferramenta Google” que quantifique isso, é difícil estimar a real extensão do problema. O segundo aspecto trata de quantas pessoas têm acesso a esses conteúdos falsos, o que é mais simples de mensurar. Por exemplo, a divulgação de uma informação por figuras conhecidas, como Elon Musk, pode resultar em milhões de visualizações instantâneas. Por último, e talvez o mais crucial, é a pergunta sobre qual impacto real essa desinformação tem nas decisões dos eleitores. Etzioni cita um exemplo preocupante: um caso recente em que uma campanha de desinformação na Eslováquia pode ter influenciado as eleições de forma decisiva, levando a uma perda inesperada de um candidato popular.
Para Etzioni, todos esses esforços são apenas o início de um trabalho contínuo que ainda está em desenvolvimento. Ele previu, com confiança, que nos próximos quatro anos, será criado um terreno mais sólido para medir e compreender a desinformação gerada por IA. “Precisamos começar de alguma maneira, e estamos apenas tentando lidar com isso por enquanto”, afirmou ele, colocando em perspectiva a natureza dinâmica da indústria de mídia e tecnologia na luta contra a desinformação.
Embora a situação possa parecer sombria, Etzioni menciona que as eleições mais recentes não foram marcadas por recrudescimentos significativos de desinformação gerada por IA. Ele sugere que esta ausência não é uma vitória, mas uma escolha deliberada dos criadores de desinformação, que optaram por não se engajar nesse ciclo. A maneira como cada um vê isso — se como uma esperança ou um presságio de desafios futuros — depende da perspectiva individual, mas não podemos ignorar a realidade de que, na nova era digital, a desinformação é uma força potente que continua a evoluir.