Enquanto muitos comemoravam a notável recuperação econômica que se seguiu à pandemia na primavera de 2021, Larry Summers, renomado economista e ex-secretário do Tesouro, soou o alarme para a Casa Branca e para Washington, alertando que a inflação era um perigo real. Essa advertência, à época, foi considerada prematura por alguns, mas acabou se revelando profética ao longo dos meses seguintes, enquanto os preços disparavam no contexto da economia americana, causando um impacto direto na vida dos consumidores. Este aumento vertiginoso das tarifas trouxe consigo uma onda de dificuldades, levando o Federal Reserve a elevar os juros a níveis não vistos nas últimas décadas. O efeito dessa crescente inflação se refletiu nas pautas eleitorais, tornando-se o tema número um para os cidadãos e contribuindo até mesmo para o retorno de Donald Trump à Casa Branca nas últimas eleições.

Entretanto, apesar da sensação geral de que a inflação estava sendo controlada nos últimos meses de 2024, Summers trouxe uma nova advertência a Washington, ressaltando que a “genie da inflação” pode não estar completamente contida. O economista expressou suas preocupações sobre os possíveis direcionamentos da administração de Trump, que ele teme ter um caráter inflacionário bastante significativo, antes mesmo de seu novo governo iniciar.

Durante uma conversa promovida pelo New York Economic Club, Summers destacou que, em sua opinião, o Federal Reserve e os mercados ainda subestimam os riscos de superaquecimento da economia. Ele questionou: “Por que cortar as taxas de juros deveria ser uma prioridade em um ambiente como este?” Alinhando suas análises aos dados econômicos, o ex-presidente da Universidade de Harvard apontou para a inflação núcleos que ultrapassavam as metas, uma economia em crescimento acelerado e para um mercado financeiro que, segundo ele, estava “pegando fogo”.

O dilema da política monetária: uma lição do passado

Na última reunião do Federal Reserve, a instituição cortou as taxas de juros pela segunda vez consecutiva, sinalizando que mais cortes poderiam estar a caminho. Nesse cenário, Summers fez uma reflexão profunda, sugerindo que o Fed poderia estar cometendo um erro semelhante ao de 2021, quando em retrospecto foi tardio demais em responder ao aumento dos preços por meio de elevações nas taxas. “Estou receoso de que o Fed esteja mais para a ideia de ‘uma vez queimado, duas vezes queimado’, do que para ‘uma vez queimado, duas vezes tímido’, em relação aos riscos inflacionários”, disse ele.

Embora, atualmente, os preços não estejam subindo tão rapidamente como ocorria nos primeiros meses da administração Biden, e o crescimento no mercado de trabalho tenha diminuído significativamente, a expectativa é que as reduções nas taxas possam ajudar a reaquecer o mercado de trabalho. Segundo dados oficiais, os preços ao consumidor aumentaram 2.4% nos 12 meses encerrados em setembro, um alívio em relação ao pico de 9% de meados de 2022, quando os preços da gasolina atingiram valores superiores a US$ 5 por galão.

Olhando para frente, analistas esperam que o Índice de Preços ao Consumidor desta próxima quarta-feira mostre que a inflação acelerou novamente em outubro, subindo para 2.6%. O presidente do Fed, Jerome Powell, após a última redução nas taxas, argumentou que a inflação estava em um “caminho sustentável de volta” para a meta de 2% do banco central, embora reconhecesse que mais esforço ainda era necessário. “A tarefa não está concluída em relação à inflação”, comentou Powell quando indagado sobre a situação.

Summers também demonstrou preocupação com as promessas de campanha do presidente eleito Donald Trump, ressaltando os riscos de que suas políticas poderiam exacerbar a inflação. “Há um risco muito substancial de que o presidente tentará implementar o que discutiu. Se isso acontecer, as consequências podem ser uma inflação significativamente maior do que a provocada pela excessiva estimulação de Biden”, argumentou Summers, ao destacar as implicações que a política comercial e a migração podem ter sobre a economia.

Em particular, Summers alertou que a utilização agressiva de tarifas poderia causar um “choque considerável na oferta”, resultando em preços ainda mais altos para os consumidores. “Se Trump decidir não apenas ameaçar, mas realmente aplicar tarifas, isso terá um impacto muito negativo nos preços”, afirmou Summers.

Além disso, o novo presidente prometeu executar o maior programa de deportação da história americana, o que resultaria na expulsão de milhões de trabalhadores indocumentados. Apesar de reconhecer que é necessário abordar questões relacionadas à imigração, Summers ressaltou que tal medida poderia desencadear uma “escassez de mão de obra substancial”, o que, consequentemente, poderia se traduzir em uma força inflacionária significativa.

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