Após um período de reflexão desde sua saída do ambiente conturbado da CNN há cerca de um ano e meio, Chris Licht compartilhou suas perspectivas sobre os futuros caminhos da mídia. Em uma palestra no Yahoo Finance Invest conference realizada em Nova York, Licht se apresentou mais como um consultor do que como um executivo de mídia em plena ação, relatando que já teve tempo para diversas atividades, como consultas em projetos variados, diversas reuniões – cerca de 275 no total –, lecionar sobre o futuro da mídia na Universidade de Syracuse, e até mesmo buscar a obtenção de sua licença de piloto.
Em suas reflexões, ele expressou um desejo de retornar ao setor de mídia, mas com a ressalva de que não tem certeza de qual formato essa volta deve assumir. Licht enfatizou que seu próximo passo deve ser “algo que construa e olhe para o futuro”, destacando a falta de certezas que permeiam o cenário atual da mídia. “A questão é: na ausência de um caminho claro, o que devemos priorizar em nossas ações futuras?”
Licht também abordou a crescente necessidade da audiência por novos conteúdos e a maneira como esse consumo está se diversificando ao longo dos anos. No entanto, ele alerta que essa transição é complexa e que o sistema atual, por mais adaptável que seja, pode não sobreviver aos novos desafios. “Existem pessoas extremamente brilhantes e inovadoras nesse espaço, e acredito piamente que alguns deles representarão o futuro do setor”, ele afirmou.
Um ponto crucial de sua fala envolveu uma crítica à confiança que o público deposita atualmente na mídia. Licht declarou que este é um tema já debatido entre executivos de mídia: “Não existe um único executivo que não esteja ciente dos problemas que enfrentamos. As pessoas perderam a confiança nas mídias tradicionais, e isso não é uma opinião pessoal, mas um fato demonstrável. Temos que nos questionar: será que a mídia tradicional conseguirá se reinventar para reconectar-se com seu público?”.
Nesse sentido, ele fez uma distinção importante: “É vital separar as fontes de informações confiáveis das opiniões. Os dois têm se misturado muito e as organizações de mídia têm tentado marcar fronteiras, mas na realidade as pessoas não veem essas distinções claramente.” Para Licht, é necessário que essa confusão seja resolvida, ou corremos o risco de comprometer ainda mais a credibilidade do setor.
Em suas previsões sobre o futuro das notícias, Licht comparou a situação atual ao que se viu durante a crise do rádio, quando muitos previram o colapso do meio, mas que, na verdade, evoluiu e se adaptou às circunstâncias contemporâneas. “O futuro não é sombrio, embora o caminho não esteja completamente claro. Não acredito que um dia acordaremos e não haverá mais assinaturas de serviços de TV a cabo, mas provavelmente o formato de consumo mudará”, analisou.
Dentre suas declarações, talvez a mais intrigante tenha sido a ideia de que em um mundo onde opinião e fatos estão cada vez mais misturados, os fatos podem se tornar uma mercadoria em si. Ele questionou: “E se um dia tivermos um terminal semelhante ao Bloomberg para a ‘verdade’? Uma ferramenta que forneça informações confiáveis, especialmente para aqueles que trabalham em áreas críticas como finanças e governo?” Isso poderia ser o futuro, acredita ele, já que a demanda por informações acuradas só tende a crescer, especialmente com a possível reeleição de Donald Trump, realidade que também enfatizou como um fator que exacerba as tensões em torno da necessidade de informações confiáveis.
Reconhecendo que essa transição não ocorrerá sem controvérsias, Licht sugere que deve-se manter o foco nas questões que realmente importam e que merecem a atenção da mídia. “Existem muitas questões controversas e, por mais que queiramos abordá-las, é importante entender que entre toda essa narrativa de ‘pornografia do outrage’, devemos ter discernimento e não nos perder no ruído”, afirmou. Essa é uma chamada à responsabilidade que Licht oferece à indústria da mídia, um lembrete de que a relevância dos fatos deve ser priorizada sobre a criação de paródias e sensacionalismos.
Ao concluir sua análise, Licht reiterou a importância de que as organizações de mídia reflitam sobre sua própria prática e se adaptem a um novo mundo que exige mais transparência e responsabilidade. É um apelo ainda mais relevante em um momento em que a desconfiança nas instituições nunca foi tão alta.
Como um veterano do setor de mídia, com experiências que vão desde a televisão a consultoria, Licht está em uma posição única para avaliar e entender as demandas futuras, o que faz de suas impressões e opiniões um guia fascinante para o que pode estar por vir. O desafio é grande, mas o retorno à essência do jornalismo verdadeiro e informativo pode ser a chave para revitalizar a confiança do público na mídia.