Jon Batiste, o aclamado pianista e compositor, decidiu dar uma nova vida às composições de Beethoven, em uma empreitada que não apenas respeita o legado do maestro alemão, mas também o transforma em algo contemporâneo e vibrante. Esta ideia surgiu durante uma entrevista no programa de Chris Wallace, Who’s Talking to Chris Wallace. Batiste, que sempre se destacou por sua capacidade de unir diferentes gêneros musicais, foi desafiado por Wallace a demonstrar essa habilidade, e foi aí que nasceu o conceito do álbum Beethoven’s Blues, que será lançado no dia 15 de novembro.
Durante sua aparição no programa, Batiste foi solicitado a executar a famosa composição Für Elise de Beethoven. O que começou como uma simples improvisação, logo se transformou em uma apresentação eletrizante, onde ele misturou notas azuis e acordes de gospel, resultando em um som encorpado e vibrante que, segundo Wallace, é “incrível”. Este momento não só deu origem à criação do álbum, como também viralizou nas redes sociais, mostrando ao mundo que os clássicos ainda têm muito a oferecer quando reinterpretados com um toque de modernidade.
O álbum Beethoven’s Blues será uma reinterpretação audaciosa de algumas das melodias mais sagradas do renomado compositor. Batiste se propôs a reimaginar peças icônicas como “Ode to Joy” e as sonatas “Moonlight” e “Waldstein”, entre outras. Esse projeto vai além da simples fusão de estilos; é uma reflexão sobre a herança cultural e a necessidade de atualizar as tradições artísticas para torná-las mais acessíveis e relevantes nos dias de hoje. Segundo Batiste, “foram mais de 250 anos. Era necessário uma atualização. Um grande número de obras está no domínio público, fazendo parte da nossa memória compartilhada, mas que muitas vezes se torna um estigma”. Isso reflete a tensão entre o que é considerado arte de alto valor e o que é visto como trivial.
Em sua conversa com THR, Batiste também compartilhou seus sentimentos sobre os resultados de uma recente eleição nos Estados Unidos, ressaltando a resiliência do espírito humano. “As verdadeiras transformações neste país vêm das pessoas que estavam à margem”, afirmou. Essa filosofia não só permeia suas obras, mas também o inspira a continuar explorando as intersecções entre diferentes tradições musicais, como jazz, blues e música clássica.
Por que Beethoven, exatamente? Com 250 anos de história, ele é uma figura central na música ocidental. Batiste abilita que a música dele teve sua época e agora, há a necessidade de aplicar um frescor novo, questionando as barreiras que ainda existem entre gêneros. “As origens do jazz e da música clássica têm muito em comum”, afirma ele, sublinhando a ideia de que tanto uma quanto a outra incluem elementos de composição espontânea. “Pode-se atualizar se você tiver a linguagem e a habilidade para mesclá-las”, concluiu.
O pianista também reflete sobre a perda da tradição de improvisação na música clássica, um aspecto vital presente no jazz. Batiste acredita que isso está ligado a nossa relutância em abraçar os valores musicais provenientes de culturas marginalizadas, o que muitas vezes resulta numa ideia errada de que a composição clássica deve sempre ser tocada da maneira exata como escrita. “Por que a música não deveria evoluir? Temos que recontextualizar nossas maiores contribuições culturais na cultura contemporânea para que possam existir verdadeiramente,” defende Batiste de forma apaixonada.
E ao final da conversa, em um tom de leveza e humor, Batiste respondeu a pergunta sobre possíveis colaborações com artistas do passado, revelando seu desejo de jam com Louis Armstrong e até mesmo com o icônico Fred Rogers. Seria fascinante ver esse diálogo musical entre eras e estilos, mostrando que a música é uma linguagem universal que transcende o tempo. Através de seus projetos, Batiste continua a ampliar as fronteiras artísticas, representando a cultura e a música de maneiras que ecoam nas experiências humanas deste século e, com certeza, poderemos esperar ainda mais inovações dessa mente criativa nos próximos anos. Como ele mesmo disse: “A necessidade é a mãe da invenção; e a resiliência do espírito humano intensifica a busca por novos caminhos”.