Após mais uma acirrada eleição presidencial nos Estados Unidos, muitas pessoas se sentem esgotadas. Independente da opinião sobre os resultados, a extensa cobertura midiática e a avalanche de anúncios políticos deixaram todos um pouco exaustos e ansiosos. O clima de polarização política que permeia a sociedade tem gerado um estado de estresse emocional que muitos estão tentando gerenciar. Nesse contexto tumultuado, surge a necessidade de cuidar de nossas saúdes emocionais, e o Dia Mundial da Bondade é uma oportunidade ideal para adotarmos a prática da autocompaixão.

A autocompaixão, embora possa parecer um conceito simples, é uma prática que envolve uma complexidade que muitos não percebem. Dr. Kristin Neff, professora associada de psicologia educacional da Universidade do Texas em Austin, desenvolveu um quadro prático para medir e entender a autocompaixão, tornando esse processo vital mais acessível. Essa prática é fundamental para que possamos nos oferecer a mesma compreensão e apoio que habitualmente ofereceríamos a outros.

A mindful prática como componente central da autocompaixão

Um dos componentes essenciais da autocompaixão é a prática do mindfulness, que visa trazer consciência aos desafios que enfrentamos. Muitas vezes, negligenciamos nossa dor, mas é crucial fazer uma pausa e reconhecer a ansiedade que nos cerca, especialmente quando observamos a divisão política em nosso país. A pesquisadora Dr. Kimberly Horn destaca que a raiva e a agitação que sentimos ao assistir a um comercial ou a um debate político são emoções que podem surgir em um estado transitório, mas que podem alimentar a frustração e o ressentimento se não forem tratadas com cuidado. Pensar em como tratamos a nós mesmos com gentileza durante esses momentos pode ser uma ferramenta poderosa de autocuidado.

Reconhecer as emoções negativas é apenas o primeiro passo do processo de cura. Ao invés de permitir que esses sentimentos nos consumam, Neff sugere lembrar que sempre existe algo que podemos fazer, não importa como nos sintamos no momento. Ela nos encoraja a acolher a tristeza e o desespero, permitindo que esses sentimentos façam parte de nossa experiência, mas sem que se tornem nossa única realidade. “Devemos estar com essa tristeza e desesperança, deixá-las entrar, sentir tudo, reconhecer e dar a si mesmo compaixão pela dor incrível disso, e então começar a me mover novamente”, enfatiza Neff.

A humanidade comum nos ajuda a aceitar nossas diferenças

Embora possamos sentir que indivíduos de lados opostos do espectro político vivam em realidades diferentes, não estamos realmente sozinhos. Todos nós compartilhamos emoções, experiências e identidades comuns que nos unem mais do que as nossas divergências. A partir do interior, podemos encontrar uma chave para entender melhor aqueles que não concordam conosco. Um estudo de 2023 publicado na revista “Self and Identity” indica que quando nutrimos compaixão por nós mesmos, é mais provável que estendamos essa compaixão aos outros. Dr. Hanh Annie Vu, autora do estudo, reforça que “a autocompaixão está ligada à humanidade comum, portanto, ver a si mesmo e suas falhas como parte normal da experiência humana está associado a menos preconceito em relação a grupos externos”.

Encontrar um terreno comum, mesmo que pequeno — como reconhecer que todos enfrentaram estresse durante a eleição — promove a compreensão. Em momentos em que a bondade parece rara, é crucial fazermos um esforço consciente para enxergar o que há de bom nas pessoas ao nosso redor. Neff observa que a tragédia na divisão política é que quando as pessoas desumanizam umas às outras, é um sintoma de desespero e desespero que só perpetua mais divisão.

A bondade é uma prioridade para sua paz interior

Praticar a bondade, especialmente para consigo mesmo, envolve adotar uma mentalidade de apoio e encorajamento nas decisões cotidianas. Em tempos de tumulto e incerteza, é comum nos depararmos com desafios que nos fazem duvidar da nossa capacidade de superar as adversidades. A autocompaixão nos ajuda a estabelecer limites, o que é essencial para proteger nosso espaço interno e refinar nosso diálogo interno. Neff sugere que repita para si mesmo: “por mais desafiador que seja a situação, vou conseguir passar por isso”. Dessa forma, tomamos um dia de cada vez, mantendo uma base de apoio para nós mesmos, para podermos apoiar os outros ao nosso redor.

Essa prática de bondade pode assumir várias formas após a eleição: pode significar limitar discussões sobre política ou, em contrapartida, criar um espaço seguro para um diálogo respeitoso. Dr. Horn aconselha que estabelecer limites de diálogo ou revisar tópicos de conversa é uma abordagem de autocompaixão que varia de acordo com cada indivíduo.

Sugestões práticas para cultivar a autocompaixão

A autocompaixão é um aprendizado contínuo e, para aqueles que desejam implementá-la, aqui estão algumas sugestões para prática nos dias do Dia Mundial da Bondade e além:

– **Journaling diário**, onde você pode escrever sobre suas lutas e a aceitação delas para validar suas emoções.
– **Meditação guiada** para aliviar o estresse e trazer maior serenidade.
– Reserve **20 segundos de toque físico**, por exemplo, colocando as mãos sobre o coração para acalmar sua mente e corpo.
– **Desconectar-se das redes sociais**, mesmo que por um período breve, pode ajudar a rejuvenescer suas emoções.
– Se suas emoções se tornarem pesadas demais para carregar sozinho, **marque uma consulta com um profissional licenciado**.

Ao adotar a prática da autocompaixão, não apenas cuidamos de nós mesmos, mas também criamos um espaço para apreciar as legiões de humanos que, independentemente de suas crenças, estão todos passando por desafios em um tempo que pode parecer desolador. Como Neff coloca, mesmo não concordando com a visão de outra pessoa, sempre devemos reconhecer a humanidade que existe em cada um de nós, e isso é o que nos conecta em um mundo tão dividido.

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