No ano de 1965, uma mulher norueguesa deu à luz uma menina em um hospital particular, um momento que deveria ser de celebração e alegria, mas que se transformou em uma história de confusão e dor. Apenas sete dias após o parto, ela voltou para casa com um bebê, sem saber que o filho que ela estava levando não era a sua verdadeira filha. O tempo passou, e, com ele, a identidade das duas meninas, que nasceram em dias consecutivos, estava entrelaçada em um erro monumental que seria revelado somente quase seis décadas depois.

Quando a menina que crescia sob seus cuidados, chamada Mona, começou a desenvolver cabelos cacheados, a mãe, Karen Rafteseth Dokken, acreditou que isso era apenas uma característica herdada de sua sogra. Entretanto, longe de ser uma simples questão de genes, essa diferença revelava um caso de troca de bebês na maternidade de um hospital no centro da Noruega. Essa descoberta aconteceu após um teste de DNA feito por Mona em 2021, que confirmava que ela não era a filha biológica de Karen. Agora, com 59 anos, ela e a mulher que foi trocada com ela, Linda Karin Risvik Gotaas, processam o Estado e o município, exigindo justiça e reparação pela violação de seus direitos humanos.

O caso, que teve início no tribunal do Distrito de Oslo, destaca a luta das mulheres para que o erro, que foi descoberto por autoridades da saúde quando as meninas eram adolescentes, não permanecesse em segredo. A Constituição Europeia dos Direitos Humanos garante o direito a uma vida familiar, e elas alegam que o encobrimento do erro imposto pelas autoridades norueguesas comprometeu esse direito fundamental. Rafteseth Dokken, agora com 78 anos, expressou sua profunda tristeza ao se lembrar do momento em que finalmente soube que sua filha verdadeira havia sido substituída. Em lágrimas, ela declarou no tribunal: “Nunca pensei que a Mona não fosse minha filha. Ela recebeu o nome de Mona em homenagem à minha mãe”. Essa revelação acentuou o drama emocional e as implicações sobre suas vidas: a conexão entre uma mãe e sua filha, que foi interposta por um erro trágico, desmoronou em um instante.

Mona, por outro lado, descreveu um sentimento incessante de não pertencimento enquanto crescia. Essa incerteza foi um motivador significativo para buscar sua verdadeira origem, que acabou sendo descoberta por meio do teste de DNA. Em contrapartida, a mulher que criou Linda, a outra menina trocada, já sabia sobre a troca desde 1981, quando um teste de sangue revelou a discrepância, mas optou por não buscar um processo de maternidade. Embora as autoridades de saúde tenham sido informadas do erro em 1985, elas não revelaram a informação às famílias afetadas, prolongando ainda mais o sofrimento de todas as partes envolvidas.

Ambas as mulheres trocadas se manifestaram, em entrevistas, sobre o choque ao descobrir a verdade, um conhecimento que agora ajuda a compreender as diferenças entre elas, não apenas fisicamente, mas também nas personalidades e nas experiências de vida. Kristine Aarre Haanes, advogada de Mona, salientou que o Estado “violou seu direito à própria identidade durante todos esses anos. Eles mantiveram em segredo.” Se a verdade tivesse sido revelada quando elas eram adultas, talvez a vida de Mona tivesse uma narrativa completamente diferente. Ambas lamentam a chance perdida de conhecer seus verdadeiros laços sanguíneos, com Mona afirmando que seu pai biológico já faleceu e que ela não tem contato com sua mãe biológica.

As circunstâncias da troca ocorrida no hospital Eggesboenes em 1965 permanecem nebulosas, mas relatos da mídia indicam que ocorreram vários casos de troca de crianças em instituições de saúde durante as décadas de 1950 e 1960. Naquela época, os bebês eram mantidos juntos enquanto suas mães descansavam em quartos separados, possivelmente criando um ambiente propenso a tais intercâmbios. Em outros incidentes, as autoridades perceberam rapidamente os erros antes que as crianças fossem efetivamente colocadas com as famílias erradas.

Um representante do Ministério da Saúde e Serviços de Cuidados da Noruega afirmou que o Estado não tinha conhecimento de casos semelhantes e não planejava uma investigação pública sobre o assunto. Asgeir Nygaard, advogado do Estado norueguês, argumenta no tribunal que a troca de 1965 ocorreu em uma instituição privada e que a diretoria de saúde não tinha autoridade legal para informar as famílias sobre o erro quando eles o descobriram. Segundo ele, a documentação da época revela que os funcionários públicos tiveram dificuldades de avaliação devido à ambiguidade legal sobre as ações a serem tomadas. Portanto, a defesa pretende alegar que não há fundamentos para compensação e que as reivindicações são, de maneira geral, prescritas.

O julgamento, que está programado para ser realizado até quinta-feira, permanece em aberto quanto à data em que uma decisão será anunciada.

Casos semelhantes de trocas de bebês também foram registrados em outros lugares. Por exemplo, em 1969, duas meninas foram acidentalmente trocadas em um hospital do Texas, e o erro só foi identificado em 2018, após a realização de um teste de DNA. As mulheres posteriormente processaram a corporação que havia adquirido o hospital. Dados de instituições adequadas revelam que nos Estados Unidos, até 500 mil bebês anualmente estão em “risco potencial de voltar para casa com os pais errados”. Entretanto, tais trocas são geralmente percebidas rapidamente após o incidente, com apenas oito casos documentados entre 1995 e 2008, uma estatística que provavelmente é subestimada.

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