Na última terça-feira, o Departamento da Justiça dos Estados Unidos anunciou a condenação de dois piratas somalis a 30 anos de prisão pela sequestro do jornalista americano Michael Scott Moore, que foi mantido como refém por impressionantes 977 dias. O caso, que atraiu atenção internacional, destaca não apenas as travessuras da pirataria moderna, como também as complexidades e os horrores do sequestro e extorsão na Somália.
Michael Scott Moore, um jornalista freelancer inconformado, viajou para a Somália em 2012 com o intuito de investigar a pirataria e a economia local. Entretanto, seu projeto tomou um rumo inesperado quando, em 21 de janeiro, ele foi sequestrado por um grupo de homens armados que o transportaram para uma localidade isolada, onde ficou preso, juntamente com dois pescadores das Seychelles. Durante os três primeiros meses de cativeiro, Moore foi transferido várias vezes, até que culminou em seu transporte para o barco sequestrado F/V Naham III. Ele e um dos pescadores foram mantidos reféns naquele barco, que também continha 28 membros da tripulação, por vários meses. Os promotores destacaram que um dos pescadores foi submetido a tortura, e que Moore soube que o capitão do navio foi morto na hora do sequestro.
O cativeiro de Moore se estendeu por mais dois anos. Durante esse tempo, ele foi continuamente deslocado entre abrigos, permaneceu sob forte vigilância armada e, para evitar fugas, foi frequentemente acorrentado à noite. O desespero e o terror foram constantes, como revelaram os relatos dos procuradores. Moore foi obrigado a gravar vídeos solicitando resgates exorbitantes, algo que não deve ter sido fácil, considerando a situação angustiante em que se encontrava. Em 2014, um grupo de negociadores pagou um resgate de $1,6 milhão para garantir a libertação de Moore, uma quantia expressiva que, segundo ele, foi financiada por sua própria família. Em 2018, ele publicou um livro que narra sua experiência devastadora.
Os dois piratas condenados, Abdi Yusef Hassan, de 56 anos, e Mohamed Tahlil Mohamed, de 43 anos, foram considerados culpados de desempenharem papéis significativos no cativeiro de Moore. Hassan, que se naturalizou cidadão americano e nasceu em Mogadishu, foi ministro do interior da província somali onde Moore foi capturado. Segundo as autoridades, Hassan não só liderou os esforços para extorquir um resgate substancial da mãe idosa de Moore, mas também organizou a produção dos vídeos que supostamente comprovavam que Moore estava vivo, além de participar ativamente das negociações pelo resgate. Também foi mencionado que ele usava sua residência como base para as operações dos piratas. Hassan foi preso em Minneapolis em 2019.
O segundo homem, Tahlil, também originário de Mogadishu, tinha um passado militar e atuou como supervisor dos piratas que vigiavam Moore durante os meses iniciais de seu cativeiro. Ele utilizou sua posição e experiência militar para servir como responsável pela segurança dos piratas, sendo o encarregado das transferências de Moore entre locais. Tahlil também ficava responsável por fornecer e consertar as armas utilizadas para manter Moore cativo. Ele foi detido em Nova Iorque em 2018.
A condenação de ambos foi resultado de um julgamento que durou três semanas em fevereiro de 2023, onde foram considerados culpados por situação de refém, terrorismo e delitos relacionados a armas. Na terça-feira, o tribunal os sentenciou a 30 anos de prisão, sem que o Departamento de Justiça tenha fornecido detalhes sobre onde os condenados cumprirão suas sentenças. Além das penas de prisão, ambos foram condenados a um dia de liberdade supervisionada.
Essa história é mais um lembrete sombrio de como a pirataria e o sequestro continuam sendo questões graves em algumas partes do mundo, especialmente na região da Somália. É difícil não se indignar ao pensar que, enquanto alguns buscam entender e relatar a realidade sombria de países afetados pela pirataria, outros se aproveitam da fragilidade e do desespero alheio para sua própria ganância. A condenação de Hassan e Tahlil, embora traga um certo alívio, serve como apenas uma parte de uma narrativa muito maior sobre as complexidades e os desafios enfrentados por jornalistas e cidadãos comuns em zonas de conflito.