Filme Baseado na Trajetória do 45º Presidente dos EUA Gera Polêmica e Críticas Acentuadas
Gabriel Sherman Abre o Jogo sobre o Processo Criativo e as Controvérsias Envolvendo a Produção
A recente estreia do filme ‘The Apprentice’, uma biografia indie que retrata a ascensão de Donald Trump nos anos 80 em Nova Iorque, tem gerado bastante repercussão, especialmente pela reação do próprio Trump, que não escondeu seu descontentamento com a produção. O filme, que traz o ator Sebastian Stan no papel do ex-presidente e Jeremy Strong como o advogado Roy Cohn, tem atraído atenções tanto pela narrativa quanto pelas críticas que tem enfrentado. No final de semana de estreia, Trump expressou seus sentimentos sobre o filme em uma postagem nas redes sociais, chamando-o de “falso” e “sem classe”, e fazendo referências específicas ao conteúdo da obra, que ele considera prejudicial à sua imagem e à sua trajetória política.
Trump criticou particularmente uma cena impactante do filme, onde uma alegação grave envolvendo sua ex-esposa Ivana é retratada, descrevendo-a como uma fatídica e desrespeitosa representação da vida pessoal de uma pessoa falecida. Ele não economizou nas palavras severas, referindo-se a Gabriel Sherman, o roteirista da obra, como um “indivíduo desprezível e sem talento”, alegando que o autor tinha consciência de suas distorções. As críticas de Trump não se limitaram apenas ao conteúdo do filme, mas também à forma como o filme foi promovido, levantando questionamentos sobre o uso do nome “The Apprentice” sem a devida autorização dos direitos.
O filme estreou em um cenário adverso, enfrentando desafios significativos para chegar ao público, incluindo tentativas de paralisação por parte da equipe de Trump. Ao ser lançado, ‘The Apprentice’ conseguiu arrecadar apenas US$ 1,6 milhão em seu primeiro final de semana, posicionando-se de forma modesta nas bilheteiras, fato que coincide com os desejos do ex-presidente de que o filme não obtivesse sucesso. Apesar disso, Gabriel Sherman, que é reconhecido também por seu histórico como jornalista, revelou que o processo de criação do filme foi marcado por incertezas e dificuldades. Ele destacou que até o início das filmagens, havia a preocupação real de que o projeto não fosse adiante, dado os constantes desafios financeiros e logísticos enfrentados.
Em uma entrevista com a imprensa, Sherman compartilhou sua experiência e sua abordagem em relação ao seu primeiro roteiro cinematográfico. Ele revelou que se aprofundou em pesquisas sobre Donald Trump e Roy Cohn, além de buscar compreender suas influências nas dinâmicas socioeconômicas de Nova Iorque durante os anos 70 e 80. O roteirista confessou que sua introdução ao mundo da escrita para telão foi impulsionada por seu trabalho anterior em televisões, mas que estava se aventurando pela primeira vez em uma longa-metragem. Ele afirmou ter se sentido compelido a retratar as complexidades humanas dos personagens, bem como a essência das suas interações, buscando uma interpretação que, embora pudesse gerar controvérsias, apresentasse uma visão mais multifacetada de figuras frequentemente demonizadas pela sociedade.
Com relação à relação entre Cohn e Trump, Sherman revela uma percepção de que havia uma dinâmica profunda, quase de amor, que se manifestava em vários níveis, incluindo um aspecto de admiração mútua e até uma subtexto homoerótico em sua interação. Ele enfatizou que a figura de Cohn é complexa e, embora muitas vezes seja vista sob uma luz negativa, há aspectos de sua humanidade que devem ser considerados. Esta tentativa de humanização para personagens historicamente criticados levantou questionamentos sobre o risco de suavização das suas vilanias, mas o roteirista defendeu sua abordagem dizendo que a arte deve buscar compreender além do ódio.
No que tange à direção do filme, Sherman mencionou que o trabalho de Ali Abbasi em ‘The Apprentice’ foi significativo, pois buscou criar uma narrativa que se distanciasse das biografias tradicionais e incorporasse aspectos do cinema novo de Nova Iorque, misturando drama com elementos de uma crítica social do sistema que caracteriza a cultura americana. A dinâmica e a energia frenética do filme geraram comparações com clássicos como ‘Scarface’, refletindo uma interpretação audaciosa do material. O filme foi projetado para criar discussões sobre as figuras que moldaram a história política dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que revela as vulnerabilidades humanas dos mesmos.
A recepção crítica até agora foi mista, com muitos se perguntando como um filme com uma narrativa tão polêmica poderia capturar a atenção do público em meio a um cenário saturado de produções. A posição de Trump e suas tentativas de descredibilizar a obra não apenas contribuirão para aumentar o interesse do público, mas também levantarão questões sobre a liberdade de expressão e o papel da arte em criticar e analisar figuras de poder. A situação em que o filme se encontra pode ser vista como um reflexo dos desafios contemporâneos em torno do discurso político e artístico, e como eles se interligam. Neste sentido, ‘The Apprentice’ é apenas o início de um debate mais amplo em torno das biografias políticas na era moderna e do impacto duradouro de líderes como Donald Trump na cultura popular.