À medida que líderes de diversas nações se reúnem para dois importantes cúpulas na América do Sul, a iminente volta de Donald Trump à Casa Branca gera uma onda de incerteza. Esse cenário provoca reflexões sobre o que a reintegração de Trump pode significar para a economia mundial e as concentrações de conflito na Europa e no Oriente Médio. Com o mundo observando atentamente, fica a pergunta: como Trump, conhecido por sua agenda “America First”, moldará as relações internacionais a partir de janeiro de 2025?
O evento reflete uma complexidade crescente nas interações entre as potências, com a China, em particular, se preparando para desafios nas relações com os Estados Unidos. Para Xi Jinping, essas reuniões apresentam uma oportunidade única para avançar os interesses de Pequim, potencialmente ampliando a tensão entre os Estados Unidos e seus aliados, ao mesmo tempo em que posiciona a China como uma alternativa estável no cenário mundial.
A importância das cúpulas em questão, o Encontro de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) no Peru e a cúpula do Grupo dos Vinte (G20) no Brasil, não deve ser subestimada. A forma como a China se apresentar nesses eventos pode ser decisiva para a gestão da futura tempestade geoecônomica, especialmente diante das políticas que Trump já sinalizou que pretende implementar. Durante sua primeira gestão, Trump provocou uma guerra comercial e tecnológica com a China, redefinindo a potência ascendente como uma rival dos Estados Unidos, um caminho que também tem sido seguido por Joe Biden.
Com a possibilidade de novas tarifas pesadas e incertezas adicionais, Xi e sua delegação se encontram em uma posição delicada. A presença de líderes mundiais como o presidente Biden, o primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba, e o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese nos eventos demonstra o peso dessas reuniões. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi também participará, colocando a Índia como outra peça-chave neste quebra-cabeça diplomático.
Embora o clima no cenário internacional seja preocupante, Li Mingjiang, professor de relações internacionais da Universidade Tecnológica de Nanyang, destaca a importância de moldar as narrativas durante essas cúpulas. Com a pressão do tempo até janeiro de 2025, a China vê uma janela para comunicar suas intenções.
Sentimentos conflitantes e estratégias ajustadas
As propostas de Trump, que incluem a imposição de tarifas superiores a 60% sobre todas as importações chinesas e uma maior restrição ao acesso de Pequim a tecnologias sensíveis, refletem um aumento nas tensões comerciais. Além disso, há uma expectativa de que Trump contribuirá com uma equipe de conselheiros que compartilham de sua visão conservadora e antagonística em relação à China, como o congressista Mike Waltz, cogitado para o cargo de Conselheiro de Segurança Nacional e Marco Rubio como possível Secretário de Estado.
O recente tom conciliador de Xi, que mencionou que ambos os países “se beneficiarão da cooperação e perderão com a confrontação”, ilustra as preocupações de Pequim diante da troca iminente de poder. Os especialistas acreditam que Xi usará os encontros com líderes mundiais para enfatizar a necessidade de comunicação e estabilidade nas relações sino-americanas.
Entretanto, as incertezas em relação a como as relações EUA-China serão afetadas colocam diversos líderes em situações desafiadoras. Com Trump em sua retórica caracteristicamente errática, as nações que antes colaboravam com Biden, temem como suas próprias relações podem mudar sob um novo regime.
A Rússia e a Europa observam atentamente o desenrolar das negociações, especialmente à luz da postura agressiva da China em disputas territoriais, como no Mar do Sul da China, e sua relação com a Rússia na questão ucraniana. Assim, enquanto Trump continua a pressionar aliados por maiores contribuições financeiras para a presença militar americana, Xi busca solidificar laços com parceiros internacionais, inclusive desafiando a hegemonia americana.
Além disso, a China tem realizado movimentos estratégicos, como a flexibilização das relações com países europeus e uma reunião bilateral com a Índia, que poderá ajudar a suavizar tensões em uma região instável. Recentemente, o premiê chinês, Li Qiang, em uma feira comercial, reiterou o compromisso de Pequim em abrir suas portas a oportunidades globais.
A luta pela confiança global
À medida que a China busca se estabelecer como um líder global em meio a incertezas, Xi e sua delegação enfrentam o desafio de reconquistar a confiança dos parceiros ocidentais. As maiores preocupações giram em torno das movimentos expansionistas e agressivos que a China tem demonstrado, que sublinham a dificuldade de Pequim em justificar sua posição para esses países em um ambiente repleto de rivalidade.
Independentemente das fricções com os EUA, é de se esperar que os países busquem uma maior colaboração com a China, caso o novo governo americano opte por uma estratégia de isolamento. Tal decisão poderia validar as intenções de Xi, que deseja remodelar a ordem internacional percebida como injusta. Essa é uma oportunidade que muitos países, especialmente aqueles na América Latina e na África, podem estar prontos para explorar.
A capacidade da China em assumir esse papel global depende, em última análise, de sua economia, que enfrenta desafios como crescimento lento e desemprego elevado. Portanto, o futuro das relações globais nos próximos anos permanecerá em uma linha tênue, com as negociações em Lima e Rio de Janeiro servindo como indicador crucial das direções possíveis para a política internacional.