Durante um painel na cúpula Delivering Alpha da CNBC, na última quarta-feira, Ben Affleck, que nunca hesita em expressar suas opiniões, comentou sobre a proposta da Skydance para adquirir a Paramount, assim como o crescente uso da inteligência artificial generativa na indústria cinematográfica. Como cofundador e CEO da Artists Equity, um empreendimento de produção que ele criou com Matt Damon e Gerry Cardinale, Affleck compartilhou sua visão sobre as mudanças necessárias no cenário atual da indústria do entretenimento.
Cardinale, que estava ao lado de Affleck no painel da CNBC, também está apoiando a oferta de David Ellison para a Paramount. Durante a discussão, Cardinale revelou pela primeira vez as finanças da Artists Equity, destacando que “pré-vendemos mais de 700 milhões de dólares em receita em sete projetos. Estamos positivamente com fluxo de caixa.” Esta declaração não apenas impressiona, mas também sugere um potencial crescente para esse novo empreendimento em um cenário que continua desafiador para os criadores de conteúdo.
Ao discutir as dificuldades enfrentadas pelos criadores, Affleck lamentou que se tornou mais difícil se destacar na indústria, devido à intensa concorrência pela atenção dos consumidores. “Agora, você realmente precisa se destacar mais, o consumidor tem mais opções. Não se trata mais apenas de três redes ou de alguns estúdios,” afirmou Affleck, citando o impacto de plataformas como o YouTube, que mudou profundamente a forma como as audiências consomem conteúdo.
O ator e diretor também abordou a diminuição da compensação para talentos na indústria, observando que atores, roteiristas e diretores estão vendo uma desaceleração nas receitas, enquanto os executivos geralmente são os últimos a sentir essas mudanças. “Mas isso também acontecerá, a menos que queiramos uma estrutura mais justa,” disse Affleck, destacando a necessidade de uma a gestão mais envolvida e comprometida com a criação de conteúdo significativo.
Affleck expressou esperança de que uma Paramount revitalizada sob a liderança de Ellison possa propiciar uma mudança positiva. Ele refletiu sobre os antigos estúdios liderados por proprietários como Harry e Jack Warner, que eram apaixonados por contar histórias. “Eles se importavam com as narrativas, e isso é o que construíram. Com a comercialização da indústria, a relação entre aqueles que contam a história e aqueles que a veem tornou-se diluída,” ressaltou o ator.
Ele fez uma distinção clara entre os “gerentes” típicos das empresas públicas e os “donos-operadores”, como Ellison e Cardinale. “Esses são aqueles que estão investidos emocional e financeiramente na narrativa. Hollywood precisa de mais entidades robustas como a Paramount. É prejudicial para a indústria quando a competição se esvai e se transforma em oligopólios,” explicou ele, sublinhando o potencial de crescimento no espaço audiovisual.
Ao abordar o uso de inteligência artificial generativa, Cardinale descreveu essa tecnologia como “uma ferramenta na caixa que rejuvenescerá a propriedade intelectual”. Ele acredita que a IA permitirá a criação de conteúdos originais por um custo reduzido. “Teremos mais propriedade intelectual com menos custo,” afirmou, destacando o potencial para inovações que a tecnologia pode trazer ao setor.
Affleck, embora otimista quanto ao potencial da tecnologia, foi cauteloso quanto ao impacto da IA nos filmes. Ele indicou que, apesar da IA ter a capacidade de gerar textos que imitam estilos, “não conseguirá criar Shakespeare”. Segundo ele, a essência da narrativa com interações entre os atores irá permanecer um aspecto que a inteligência artificial provavelmente não conseguirá replicar: “A função de ter dois ou mais atores em uma sala e discernir o gosto para construir a narrativa é algo que atualmente está além das capacidades da IA,” observou.
Affleck também comparou a situação da inteligência artificial com o potencial da indústria de DVDs, que poderia ser uma fonte de receita no futuro. Ele acredita que a longo prazo a IA será uma fonte adicional de receita, capaz de substituir a antiga estrutura da distribuição de DVDs. “Com a tecnologia, as pessoas poderão solicitar seus próprios episódios de suas séries favoritas, criando assim novos modelos de negócios que podem reverter a economia do cinema numa nova direção,” afirmou.
Ao final de sua apresentação, Affleck reiterou que, embora a indústria esteja passando por uma transição significativa devido ao crescimento da tecnologia, ainda existem enormes oportunidades a serem exploradas. A chave para esse sucesso reside na capacidade de se adaptar e inovar, garantindo que a essência da arte cinematográfica seja preservada enquanto navega em um futuro repleto de novas possibilidades.