Na manhã do dia 30 de outubro, uma notícia que abalou a comunidade de criptomoedas no Canadá foi divulgada. Um corpo encontrado no parque Île-de-la-Visitation, em Montreal, foi identificado como de Kevin Mirshahi, um influenciador de criptomoedas que estava desaparecido desde 21 de junho. A revelação foi feita em um relatório do Montreal Gazette publicado em 12 de novembro. Mirshahi, de apenas 25 anos, foi seqüestrado juntamente com três outras pessoas de um condomínio na cidade, sendo que os outros três foram encontrados pela polícia apenas algumas horas após o incidente.

Os eventos que cercam o desaparecimento de Mirshahi tornaram-se ainda mais sombrios após a acusação de Joanie Lepage, de 32 anos, que foi formalmente indiciada por homicídio em primeiro grau e pelo seqüestro de Mirshahi e das outras três vítimas. Embora a ligação de Lepage com as atividades de criptomoedas de Mirshahi ainda permaneça indefinida, o contexto de sua morte está imerso em uma rede de fraudes e investigações relacionadas ao mundo das criptomoedas.

Na época de seu desaparecimento, Mirshahi operava um esquema de investimentos em criptomoedas chamado Crypto Paradise Island, um grupo no Telegram que exigia pagamento para oferecer aconselhamento sobre investimentos. Contudo, este empreendimento foi para o centro de um esquema fraudulento conhecido como ‘pump and dump’ envolvendo um token chamado Marsan ($MRS). Esse esquema fez com que os 2.300 membros do grupo, muitos deles na faixa etária de 16 a 20 anos, perdessem milhares de dólares, de acordo com o Le Journal de Montréal.

O token, que foi desenvolvido por Antoine Marsan e Bastien Francoeur através da Marsan Exchange, foi lançado em 14 de abril de 2021 e teve um pico de valor de 5,14 dólares canadenses (3,67 dólares) três dias após seu lançamento. Entretanto, em apenas poucos dias, dois grandes investidores liquidaram suas posições, fazendo com que o valor despencasse para apenas 0,39 dólares. Como resultado dessas ações danosas, Mirshahi e sua empresa foram alvo de uma investigação por parte do regulador de investimentos de Quebec, chamado Autorité des marchés financiers (AMF), desde 2021. Além disso, ele enfrentou uma série de sanções que incluíam a proibição de atuar como corretor ou conselheiro de investimentos, barramento em transações de valores mobiliários e ordens para retirar publicações em redes sociais, sendo que essa última sanção foi estendida recentemente em 4 de julho deste ano.

Apesar das proibições, Mirshahi supostamente continuou operando um grupo no Telegram promovendo investimentos em criptomoedas sob o nome de Amir. Esta série de eventos trágicos não é um caso isolado no Canadá, já que a segurança em torno de criptomoedas tem se tornado um verdadeiro desafio. Apenas uma semana antes do corpo de Mirshahi ser descoberto, um outro caso de sequestro envolvendo o mundo das criptomoedas ocorreu em Toronto. O CEO da empresa de holding de criptomoedas WonderFi, Dean Skurka, foi forçado a entrar em um carro por sequestradores que exigiram um resgate de quase 720 mil dólares. Embora tenha conseguido se libertar após pagar o resgate solicitado, esse evento lançou uma sombra sobre a segurança dos influenciadores de criptomoedas e investidores no país.

O fenômeno da violência associada a criptomoedas não está restrito ao Canadá. Em uma lista mantida por Jameson Lopp, cofundador e diretor de segurança da Casa, foram registrados 18 ataques relacionados a criptomoedas apenas neste ano. Entre eles estão casos de investidores atraídos para armadilhas sob o pretexto de realizar transações P2P presenciais, invasões domiciliares e até homicídios.

A trágica morte de Kevin Mirshahi, portanto, não é apenas uma história de crime, mas um sintoma das dificuldades crescentes que a comunidade de criptomoedas enfrenta. A luta contra fraudes e ataques físicos é uma batalha contínua, um lembrete de que, no mundo digital, a segurança e a vigilância são mais cruciais do que nunca, especialmente para aqueles que operam em tão arriscados domínios financeiros.

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