Johannesburgo — Em um ambiente opressivo e de crescente desespero, mais de 4.000 mineradores, envolvidos em um impasse com as autoridades sul-africanas devido à mineração ilegal, estão enfrentando condições alarmantes dentro de um poço de mina abandonado em Stilfontein, na província de North West. Na manhã de quinta-feira, a polícia da África do Sul confirmou a recuperação de um corpo parcialmente em decomposição de um minerador, levantando novas preocupações sobre a saúde e segurança daqueles que permanecem presos sob a terra. Entre os resgates realizados, cinco mineradores não licenciados foram puxados para fora da mina na quarta-feira. Todos estavam visivelmente debilitados, aparentando ter passado meses em condições extremas e insalubres.
Conhecidos localmente como Zama Zama, esses mineradores ilegais muitas vezes vêm de países vizinhos, sem a documentação necessária para se empregar legalmente na África do Sul. Para muitos, a mineração ilegal é vista como a única saída para garantir o sustento de suas famílias. A predação de minas de ouro abandonadas tornou-se um fenômeno recorrente, onde os mineradores buscam nos restos dos antigos empreendimentos comerciais os minerais que ficaram para trás.
A complexidade da situação é amplificada pela postura rígida do governo sul-africano. Khumbudzo Ntshavheni, Ministra na Presidência, deixou claro em recente coletiva de imprensa que as autoridades não têm intenção de ajudar os Zama Zama: “Nós não enviaremos ajuda a criminosos. Vamos expulsá-los”, declarou, afirmando que o governo não fornecerá nenhuma assistência a esses trabalhadores ilegais, que não foram para a mina com boas intenções e serão tratados como criminosos quando emergirem.
A operação em andamento, chamada Vala Umgodi, que se traduz em “Fechar o Buraco”, foi intensificada nas últimas semanas, com polícia e forças armadas bloqueando todas as entradas da mina para impedir que alimentos e suprimentos continuem sendo levados para os mineradores ainda dentro. Desde o início da operação, mais de 1.000 homens emergiram da mina e foram detidos.
Aqueles que conseguem retornar à superfície têm relatado que estiveram abaixo da terra por vários meses, e os relatos de voluntários que ajudam a trazer os mineradores para fora são preocupantes. Alguns desses voluntários afirmam ter sentido um forte odor de carne em decomposição nas profundezas da mina, reforçando o risco potencial de mais fatalidades. Além disso, cartas escritas por mineradores que permanecem sob a terra se tornaram uma ligação angustiante entre os que estão presos e suas famílias, revelando uma desesperada falta de energia para subir. Os protestos da comunidade local são igualmente aguçados, com cidadãos exigindo a libertação de seus entes queridos que há meses estão presos nas profundezas da mina.
Enquanto isso, do lado de fora da mina, mulheres têm se reunido para cozinhar grandes panelas de comida, oferecendo refeição aos mineradores que eventualmente apareçam. Um dos Zama Zama que se identificou apenas como um “trabalhador” destacou sua perspectiva de sobrevivência, afirmando: “Eu estou trabalhando aqui, mas não estou incomodando ninguém. Eu só estou alimentando minha família”.
Essa complexa interseção entre sobrevivência, ilegalidade e ativismo social na África do Sul requer uma análise cuidadosa e um diálogo significativo. À medida que a situação continua a evoluir, a sociedade deve refletir sobre os dilemas morais e legais que cercam a questão da mineração ilegal e suas implicações para todos os envolvidos, especialmente aqueles que, em busca de uma vida melhor, acabam se colocando em risco nas profundezas da terra.