Na manhã de uma segunda-feira fatídica, a pequena Ulyana Kulyk, com apenas dois meses de idade, foi retirada dos escombros após um ataque devastador que destruiu seu lar na cidade de Kryvyi Rih, Ucrânia. O ataque, resultado de um míssil russo, vitimou não somente Ulyana, mas também sua mãe, Olena, de 32 anos, e seus dois irmãos, Kyrylo, de 10 anos, e Demyd, de apenas 2. O único sobrevivente foi o pai, Maksym Kulyk, que estava na cozinha, preparando o café da manhã, quando o perigo se abateu sobre sua família. Com um frio na barriga e um coração partido, Maksym enfrentou o luto intransigente, enquanto tentava armazenar as memórias de um futuro que agora se dissipara em tragédia.
Esse ataque é apenas um episódio em uma sequência amarga de quase semanal de bombardeios direcionados a áreas residenciais, especialmente em Kryvyi Rih, uma cidade localizada a cerca de 70 quilômetros da linha de frente sul da Ucrânia. Segundo autoridades ucranianas, a manhã da tragédia foi marcada por uma série de ataques em cidades do sul e do centro do país. A agência de crianças da ONU, UNICEF, salientou que histórias dolorosas como a de Ulyana e sua família tornaram-se uma “norma” na Ucrânia, onde a violação da vida cotidiana por ataques a áreas povoadas continua a ceifar vidas inocentes.
Nos primeiros doze dias de novembro, pelo menos quatro crianças perderam a vida e mais de vinte ficaram feridas em uma série de ataques intensos. A cidade de Kryvyi Rih se tornou um símbolo do sofrimento da população civil, retratando o desespero e a luta pelas vidas de milhões de ucranianos. O impacto do ataque foi devastador, com imagens e vídeos do local do incidente mostrando o quão brutal a pequena família foi desdobrada pela força do míssil. O prédio de cinco andares parecia ter sido cortado ao meio, deixando um vácuo na estrutura que era antes um lar.
O funeral da família foi um evento emocional e triste para todos os presentes. Quatro caixões, cada um simbolizando um membro da família Kulyk, foram adornados com flores e brinquedos. Enquanto amigos e familiares, incluindo várias crianças, prestavam suas condolências, o lamento de um pai lutando contra a dor reverberou pelo espaço: “Eu não quero viver. E hoje eu deveria estar aqui com você, o quinto.” O som das sirenes de alerta alertava continuamente todos ao redor de que a guerra ainda estava em curso, servindo como um cruel lembrete da realidade que o povo ucraniano enfrenta diariamente.
Olena, que estava em licença maternidade, trabalhava para uma subsidiária do gigante global ArcelorMittal. A perda da esposa e do convívio com seus filhos transformou Maksym em um ícone da dor que o conflito impôs a tantas famílias, enquanto ele expressava seu amor e saudade por sua família: “Minha alma, meu sangue, meu coração, meu apoio e força, meu suporte. Eu te amo tanto. Eu sempre amarei você.”
No contexto de uma guerra que completa mil dias desde sua intensificação, a dor se acumula em histórias como a de Ulyana, Kyrylo e Demyd, crianças que nasceram no ocaso da paz e transformadas em cifras de uma estatística trágica. Segundo informações, as autoridades locais de Kryvyi Rih declararam um dia oficial de luto, sob a sombra do constante medo e incerteza que paira sobre a região.
A escalada dos ataques aéreos coincide com uma luta mais ampla da Ucrânia para repelir os avanços russos no leste do país. Dentre as estatísticas alarmantes mencionadas pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, um fato em particular se destaca: em apenas uma semana, foram lançadas mais de 900 bombas, além de cerca de 30 mísseis e perto de 500 drones contra alvos diversos, na vasta maioria, civis e infraestrutura crítica. Neste cenário caótico, o chamado de ajuda se torna cada vez mais urgente. “Nossa única esperança é que tal tragédia nunca mais aconteça novamente”, clama um povo cansado, mas resistente, que busca no mundo um eco solidário de sua luta.
Enquanto a dor e a perda se entrelaçam na narrativa da guerra atual, Maksym Kulyk se transforma em um porta-voz das memórias interrompidas de seus filhos e da luta pela vida em um país que, apesar de repleto de dificuldades, continua a clamar por paz e estabilidade. As lágrimas derramadas na cerimônia fúnebre ecoam a realidade de muitos, e o desejo é sempre um só: que as crianças, um dia, possam viver em um mundo onde a vida não seja marcada pelo terror da guerra.