Após a vitória do presidente Donald Trump, aliados descreveram os esforços de transição como significativamente mais disciplinados do que na primeira vez, em 2016. O início dessa nova fase deve trazer muitas surpresas e movimentos estratégicos que estão chamando a atenção tanto de seus apoiadores quanto de seus críticos. A seleção de um novo gabinete está se mostrando uma verdadeira montanha-russa, com escolhas audaciosas que ignoram as normas tradicionais e prometem acirrar ainda mais os ânimos na política americana.
A ênfase nas nomeações de Trump começou a ganhar fôlego em um primeiro momento de transição que parecia bastante organizado. Contudo, numa sequência de 24 horas preenchida com anúncios bombásticos, o presidente eleito fez uma série de escolhas que mudaram a narrativa de sua transição, revelando sua preferência por figuras controversas. O primeiro sinal dessa nova abordagem aconteceu quando Trump escolheu o apresentador da Fox News, Pete Hegseth, como secretário de Defesa. Isso foi seguido pela designação da ex-deputada democrata do Havaí, Tulsi Gabbard, para o cargo de diretora de Inteligência Nacional, e culminou com Matt Gaetz, congressista da Flórida conhecido por seu comportamento polêmico, sendo nomeado para a posição de procurador-geral.
As seleções que estão sendo feitas por Trump refletem uma tendência notável de se afastar do establishment republicano em favor de um grupo mais alinhado com sua visão do movimento “Make America Great Again”. A pressão para escolher pessoas leais e dispostas a desafiar o status quo é evidente, com a intenção do presidente eleito de causar um impacto não apenas na estrutura do governo, mas também nas dinâmicas de poder dentro do Congresso. A própria natureza das escolhas está destinada a gerar controvérsia e debate, com alguns aliados de Trump afirmando que provocar a indignação em Washington é uma estratégia intencional, uma forma de reafirmar sua base de apoio e o que muitos consideram um ataque ao sistema político tradicional.
Na quarta-feira, Trump visitou Washington, onde se encontrou com o presidente Joe Biden por quase duas horas e visitou um grupo de legisladores republicanos. Durante esses encontros, foram discutidas as novas lideranças do partido para o próximo Congresso, enquanto Trump passou a concentrar suas atividades em sua propriedade Mar-a-Lago, onde está cercado por aliados políticos e algumas figuras como Elon Musk, que foi convidado para assumir um papel controverso no que Trump chama de novo Departamento de Eficiência do Governo. A presença de Musk, por sua vez, tem gerado reações mistas tanto na mídia quanto entre os membros do partido, refletindo a natureza caótica e imprevisível da nova administração.
Os primeiros dias da transição se marcaram também pela inclusão de uma equipe de cerca de 100 pessoas que trabalham em Mar-a-Lago e no escritório de campanha em Palm Beach, desenvolvendo listas de candidatos e discutindo estratégias para implementar as políticas propostas. Uma característica notável desta transição em comparação com a de 2016 é a maior organização e preparação, reconhecendo as falhas do processo anterior, quando Trump praticamente abandonou o plano de transição de Chris Christie. A chefe de gabinete designada, Susie Wiles, é vista como uma figura central que trouxe uma nova disciplina ao processo, garantindo sigilo em relação a escolhas que surpreenderam até mesmo os mais próximos do ex-presidente.
Nomeações são vistas como uma ruptura entre tradição e inovação
A indicação de Hegseth para o cargo de secretário de Defesa simboliza essa nova abordagem de Trump, que passou a buscar figuras que defendem sua visão e que, até certo ponto, se consideram combatentes da antiga ordem. Gabbard, com suas posições frequentemente consideradas não ortodoxas, representa a fusão das ideias que Trump deseja promover, mesmo que isso signifique abrir uma batalha de confirmação acirrada no Senado. Assim como Gabbard, que possui um histórico militar no Exército, todos os escolhidos parecem compartilhar um elemento comum: a disposição de desafiar tudo que se opõe a suas visões de mundo.
Enquanto isso, a seleção de Gaetz para a posição de procurador-geral traz à tona uma série de preocupações a respeito de sua capacidade de confirmação no Senado. Críticos e aliados estão cientes de que a nomeação de Gaetz irá acirrar a rivalidade dentro do Partido Republicano, especialmente devido ao seu comportamento polarizador e ao recente envolvimento em controvérsias. A resiliência de Trump ao insistir em escolhas que provocam polarização política reflete um desejo mais profundo de reafirmar sua presença e controle sobre o partido, mesmo diante da resistência interna.
As discussões em torno da confirmação de Gaetz já prometem um clima de disputas acaloradas, com figuras de destaque do partido expressando suas reservas. Enquanto alguns veem a confirmação do representante da Flórida como uma questão inevitável, outros questionam a viabilidade de sua nomeação. A insatisfação já começou a surgir, com senadores como Susan Collins e Lisa Murkowski expressando a percepção de Gaetz como um candidato “não sério”, e isso indica que os debates sobre suas credenciais e comportamento provavelmente dominarão o cenário político nos próximos meses.
Ao final, a capacidade de Trump de fazer sua marca em Washington e no partido republicano dependerá muito de como a estratégia de nomeação será recebida e se seus escolhidos conseguirão se consolidar em suas posições. Resta saber se a insistência dele em nomear figuras que buscam desmantelar as estruturas que muitos consideram cruciais conseguirão alinhar os interesses do seu partido com sua visão individual de governo. O que vem pela frente parece promissor e turbulento, mas a trajetória ainda está por ser escrita, enquanto o ex-presidente se prepara para mais uma vez assumir o controle da política americana.