A controvérsia em torno da venda de Ben & Jerry’s em Israel: o início de uma batalha legal

Ben & Jerry’s, a famosa fabricante de sorvetes, decidiu dar um passo significativo ao processar sua empresa-mãe, Unilever, com o objetivo de impedir a venda de sua unidade de negócios em Israel. O caso, que foi apresentado na terça-feira no Tribunal Distrital dos EUA em Nova York, busca um mandado de segurança para preservar não apenas a integridade da marca, mas também os valores sociais que a marca desenvolveu ao longo de décadas.

O percurso da marca em Israel e a pressão que a levou a essa decisão

Desde 1987, Ben & Jerry’s tem uma presença firme no mercado israelense. Contudo, a empresa enfrentou crescente pressão e críticas por sua atuação nas localidades da Cisjordânia, consideradas ilegais sob a interpretação do direito internacional. Em julho de 2021, a marca anunciou que interromperia suas vendas nos assentamentos da Cisjordânia, uma decisão que rapidamente se transformou em um ponto de discórdia com a American Quality Products (AQP), seu distribuidor de longa data em Israel. Esta ação culminou em uma ação judicial apresentada por AQP em março, onde alegava que Ben & Jerry’s e Unilever estavam realizando a rescisão ilegal de sua relação comercial estabelecida há 34 anos, em um esforço deliberado para boicotar Israel.

Recentemente, foi revelado que Unilever havia vendido os direitos da marca em Israel para a AQP por um valor não divulgado, uma movimentação que pegou o conselho de Ben & Jerry’s de surpresa. De acordo com a documentação judicial, a presidente do conselho expressou estar “atônita” com a notícia da venda, que, segundo Ben & Jerry’s, fere a visão e os valores defendidos pela marca, que sempre foram opostos à venda de seus produtos em territórios ocupados.

As implicações da venda e a resposta de Unilever

Após a venda, Unilever anunciou que Ben & Jerry’s seria comercializada sob seus nomes em hebraico e árabe em todo Israel e na Cisjordânia. A empresa, reconhecida globalmente por suas marcas de consumo, incluindo produtos como Dove e Sorvetes Magnum, tentou encerrar o debate em torno da venda, reafirmando que as decisões sobre a missão social da marca eram responsabilidade do seu conselho independente, conforme um acordo estabelecido em 2000 com a Unilever. No entanto, a gigante do varejo se defendeu, afirmando que mantinha a responsabilidade primária sobre as decisões financeiras e operacionais, e, portanto, tinha o direito de proceder com o acordo.

Em resposta à apresentação da ação judicial por Ben & Jerry’s, um porta-voz da Unilever reiterou que a empresa tinha o direito de realizar a venda, afirmando que o negócio já havia sido fechado. No entanto, a Unilever não comentou sobre a litígios pendentes, destacando que revisou seus negócios em Israel ao longo de vários meses, levando em consideração a perspectiva do governo israelense sobre essa situação complexa e delicada.

A luta por valores e a conclusão do caso

Ben & Jerry’s não está disposta a abrir mão de seus princípios fundamentais e, com isso, segue determinada a enfrentar os desafios legais que se apresentarem. O conselho da marca buscou oficialmente a autorização para a ação legal numa reunião onde cinco diretores optaram por prosseguir com a litígio, sinalizando um compromisso coletivo em defesa de sua identidade e de seus valores. Este caso serve como um lembrete de que, para algumas marcas, o ativismo e a responsabilidade social não são apenas palavras de ordem, mas sim valores centrais que guiam suas decisões e ações.

Por fim, a continuidade desta disputa legal não apenas chama a atenção para os desafios que marcas enfrentam ao equilibrar interesses corporativos e valores sociais, mas também levanta questões sobre as consequências de se tomar uma posição em relação a temas controversos no cenário global atual. Ao que tudo indica, a batalha entre Ben & Jerry’s e Unilever apenas começou e, enquanto os cidadãos aguardam o desenrolar deste caso, a questão permanece: até que ponto as empresas devem estar dispostas a lutar por seus valores em um mercado em constante mudança?

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