A política japonesa tem mostrado um movimento inovador e surpreendente com a nomeação de Ken Akamatsu, um renomado artista de mangá, como o novo Vice-Ministro Parlamentar de Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia, além de Vice-Ministro Parlamentar de Reconstrução. Esta nomeação ocorreu durante uma reunião emergencial do recém-eleito Primeiro-Ministro Shigeru Ishiba, no dia 13 de novembro. Tal escolha não apenas destaca a interseção entre cultura e política, mas também marca um importante passo para a representação de criadores de conteúdo no governo japonês, já que Akamatsu se torna a primeira pessoa do mundo dos mangás a ocupar um cargo na Câmara dos Conselheiros do Japão, o que é a câmara alta do Parlamento japonês, conhecido como Diet.
Ken Akamatsu, que pertence ao Partido Liberal Democrático (PLD) do Japão, sempre teve um foco claro nas questões que afetam os criadores de conteúdo no país, especialmente no que diz respeito à proteção de direitos autorais e questões regulatórias envolvendo a indústria de entretenimento. O artista não se tornou apenas um criador de sucesso, mas também um defensor ativo de questões que afetam seus colegas, como evidenciado por sua postura contrária à polêmica tributação sobre freelancers. Desde sua entrada na política, em 2011, suas críticas à proposta de mudança na Lei de Direitos Autorais mostraram sua disposição para lutar contra o que ele considerava uma ameaça ao mundo dos dōjins (obras auto-publicadas), alertando que tais mudanças poderiam “destruir” a criatividade e a liberdade na criação de conteúdo.
Akamatsu não hesitou em se manifestar contra emendas propostas às leis de pornografia infantil em 2013. Ele se uniu a outros criadores para criticar as mudanças que não diferenciavam entre a pornografia representando crianças reais e imagens estilizadas, o que poderia prejudicar severamente a indústria de anime e mangá. Suas visitas ao Diet e à sede do PLD, onde expressou suas preocupações diretamente, foram um reflexo da sua determinação em proteger as liberdades criativas no Japão. O resultado dessa luta se traduziu na versão final da legislação em 2014, que permitiu a produção de conteúdos em anime e mangá sem a imposição de restrições drásticas.
No ano de 2019, Akamatsu uniu-se a outros artistas em sua oposição a um plano de subcomitê governamental que buscava ampliar o escopo da lei de direitos autorais de uma forma que poderia penalizar artistas e criadores por práticas comuns, como o download de imagens ou a simples captura de tela de conteúdo ilegalmente postado. Esse tipo de abordagem revelava uma preocupação crescente sobre as possíveis repercussões que tais regulações poderiam ter na criatividade e na liberdade de expressão dentro da indústria criativa japonesa.
Embora enfrentasse críticas, incluindo de organizações internacionais como a ONU Mulheres, por sua defesa da liberdade de expressão, Akamatsu reafirmou a necessidade de abordar tais demandas com racionalidade e não ceder apenas por pressão externa. Ele identificou que “pressão externa” pode, de fato, vir de dentro do próprio Japão, como evidenciado pelo caso de um comercial removido por causa de sua associação com uma figura virtual famosa. Isso revela a complexidade do contexto em que os criadores de conteúdo operam, lidando frequentemente com dilemas éticos e regulatórios.
No campo da inovação digital, a contribuição de Akamatsu se estendeu ao lançamento do serviço de biblioteca digital “Zeppan Manga Toshokan” (atualmente conhecido como Manga Library Z), que começou a operar em 2008. Esta plataforma visualizou uma nova forma de compartilhar e distribuir mangás, permitindo que seus 14 volumes de “Love Hina” fossem disponibilizados gratuitamente por um mês para avaliar a viabilidade do modelo de negócios. Embora a plataforma tenha encontrado desafios financeiros e tenha sido anunciada a sua descontinuação, sua criação destacou um passo importante em direção à modernização da distribuição de mangás no Japão.
Finalmente, devemos reconhecer que a trajetória de Ken Akamatsu não se limita apenas a seus produtos criativos, mas também se estende ao seu impacto significativo na política e na defesa dos direitos autorais no Japão. Sua nova função é um exemplo do crescente reconhecimento da importância da cultura pop na formação de políticas e legislações que afetam diretamente a vida e o trabalho de criadores no país. À medida que o Japão se adapta a novas demandas e pressões sociais, a presença de Akamatsu no governo pode representar uma nova era de colaboração entre criadores e legisladores, onde as vozes criativas são ouvidas e levadas em consideração nas tomadas de decisões políticas essenciais. O futuro parece promissor, e Akamatsu sem dúvida desempenhará um papel crucial nesse desenvolvimento.