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Desde o resultado das eleições nos Estados Unidos, os líderes climáticos previam que a vitória de Donald Trump poderia ser um duro golpe nas negociações do COP29 em Baku. No entanto, o que ninguém esperava era que o próprio líder do Azerbaijão, Ilham Aliyev, promovesse um desmantelamento das discussões de dentro para fora. Este evento que deveria representar um dos encontros mais urgentes do ano, com o objetivo claro de mitigar uma crise climática crescente, rapidamente se transformou no que alguns chamam de um verdadeiro circo de boicotes, discursos políticos inflamados e celebrações da indústria dos combustíveis fósseis. Aliyev se destacou como o verdadeiro mestre de cerimônias desse espetáculo indignante.
Na quinta-feira, um grupo de renomados líderes climáticos globais lançou uma carta aberta exigindo uma “reforma fundamental” de todo o processo climático da ONU. O documento inicialmente descrevia as negociações anuais, conhecidas como Conferências das Partes (COPs), como “não mais adequadas ao propósito”, embora essa linguagem tenha sido rapidamente suprimida. Uma porta-voz do Club of Rome, que publicou a carta, comentou que a edição foi feita porque a “crítica construtiva” dos autores passou a ser utilizada por alguns grupos para impulsionar seus próprios interesses durante o evento, embora não tenha especificado quais partes foram afetadas.
Porém, essa alteração não altera a percepção de que as negociações estão, de fato, perdendo sua credibilidade. A realização do COP29 marca o terceiro ano consecutivo em que as negociações climáticas acontecem em um país que é um grande produtor de petróleo, com as edições anteriores ocorrendo nos Emirados Árabes Unidos e no Egito. Esses eventos foram criticados por supostas violações dos direitos humanos antes de suas realização, algo que parece se repetir agora em Baku.
Entre as recomendações da carta aberta está a necessidade de implementar critérios de elegibilidade rigorosos que excluam países que não apoiam a transição para longe dos combustíveis fósseis de ocupar posições de liderança nas COPs. O crescente acolhimento de interesses da indústria de combustíveis fósseis nas conferências anuais apresenta um grande desafio. Somente neste ano, mais de 1.700 lobbistas e representantes da indústria de combustíveis fósseis foram registrados para participar das negociações, segundo uma análise de um grupo coalizão chamado Kick Big Polluters Out. Isso levanta sérias preocupações com a integridade do processo, conforme expõe Alex Scott, um associado sênior em diplomacia climática de um think tank baseado na Itália. Scott expressou que Aliyev não se parece com um guardião do Acordo de Paris e questionou se o governo do Azerbaijão estaria cumprindo esse papel, especialmente considerando a presença massiva de lobbistas da indústria de combustíveis fósseis nos corredores.
Declarações Controversas do Presidente Aliyev Levantam Tensão nas Negociações
No início das negociações, Aliyev usou seu discurso de abertura para rebater críticas sobre os direitos humanos do Azerbaijão e defendeu suas riquezas de petróleo e gás como um “presente dos deuses”. O presidente não hesitou em apontar o dedo para as nações ocidentais, ONGs e a mídia global, acusando-os de “hipocrisia”. Durante um dia subsequente, ele fez uma feroz tirada contra a França e a Holanda, mencionando às nações insulares que enfrentam uma séria ameaça devido ao aumento do nível do mar. Aliyev denunciou a repressão “brutal” de vozes nas chamadas “colônias”, referindo-se aos territórios ultramarinos, e atribuiu à França a responsabilidade pela recente agitação fatal na ilha semi-autônoma de Nova Caledônia.
Essas acusações se basearam em argumentos sobre mudanças climáticas, mas Baku claramente já estava em pé de guerra com a França e a Holanda devido a suas posições no conflito territorial entre Azerbaijão e Armênia. A repercussão foi significativa, levando a ministra da Ecologia da França, Agnès Pannier-Runacher, a cancelar sua viagem. O chefe de assuntos estrangeiros da União Europeia, Joseph Borrell, expressou indignação via rede social, descrevendo as declarações de Aliyev como “lamentáveis” e advertindo que tais afirmações poderiam prejudicar os objetivos climáticos da conferência e a credibilidade da presidência de Aliyev na COP29.
O pano de fundo caótico da geopolítica surge em um momento crítico, uma vez que líderes climáticos globais se esforçam para encontrar formas de evitar retrocessos nas iniciativas climáticas em decorrência da vitória de Trump, que promete retirar os EUA do Acordo de Paris novamente. A medida que as negociações seguem, líderes em outros países, alinhados ideologicamente, estão reconsiderando suas ações climáticas. Recentemente, a Argentina retirou sua delegação do COP29, sem apresentar explicações. O ministro das Relações Exteriores, Gerardo Werthein, indicou à mídia que o país está reavaliando sua participação no Acordo de Paris, cuja “maioria dos elementos” conflitam com a visão do governo de Javier Milei, um cético das mudanças climáticas que rotulou o aquecimento global como uma “farsa socialista”. Ao mesmo tempo, as discussões ocorrem logo após o que deverá ser um dos anos mais quentes já registrados, enquanto furacões consecutivos causaram a morte de mais de 300 pessoas somente nos Estados Unidos.
Cientistas estão levantando a questão sobre a viabilidade de limitar o aumento da temperatura em 1,5 graus Celsius. Para que isso seja possível, a poluição por carbono deve ser reduzida pela metade nesta década e o mundo deve alcançar a neutralidade de carbono até meados do século. A urgência dessas ações é mais evidente do que nunca, e as incertezas em torno das negociações do COP29 tornam o cenário ainda mais complicado, à medida que a assembléia busca um caminho que atenda a necessidade urgente de ação climática, enquanto enfrenta a difícil realidade de interesses conflitantes e líderes muitas vezes hostis ao progresso ambiental.
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