A questão do crédito fiscal de US$ 7.500 para compradores de veículos elétricos está gerando um intenso debate à medida que a administração de Donald Trump se prepara para assumir o cargo. Embora esse crédito tenha sido implementado para incentivar a compra de veículos elétricos (EVs) nos Estados Unidos, os rumos políticos podem transformar esse crédito em uma lembrança do passado. Para a Tesla e seu CEO Elon Musk, uma eventual eliminação do incentivo pode ser uma boa notícia. Então, como essa mudança pode impactar o futuro da Tesla e da indústria automotiva como um todo? Vamos explorar isso a seguir.
O crédito fiscal de US$ 7.500, que é destinado a quem compra veículos elétricos, proporciona uma vantagem competitiva à Tesla, permitindo que a empresa mantenha preços mais elevados enquanto compete com carros movidos a gasolina. Quando uma versão anterior desse crédito foi reduzida anos atrás, a Tesla se viu obrigada a diminuir os preços de seus veículos em cerca de metade do valor do crédito que os compradores não estavam mais recebendo. Atualmente, a Tesla é a principal fabricante de veículos elétricos do mundo e a única montadora que registra lucros nas vendas de EVs nos EUA. Por outro lado, fabricantes tradicionais como General Motors e Ford estão enfrentando dificuldades e afirmam que estão perdendo dinheiro em cada veículo elétrico vendido, em parte pela baixa quantidade de veículos em comparação com a Tesla.
Se o crédito fiscal desaparecer, não é somente a Tesla que enfrentará mudanças. A expectativa é de que o preço de todos os veículos elétricos possa cair, mas isso ainda resultaria em uma diminuição nos lucros da Tesla, em vez de um aumento das perdas, o que seria o caso para montadoras estabelecidas que tentam se inserir no mercado. Algumas dessas montadoras poderão até reduzir a produção e as vendas de EVs para limitar os prejuízos, o que poderia significar menos concorrência para a Tesla, favorecendo a marca californiana.
A visão de Musk sobre o fim do crédito fiscal
Musk já deixou clara sua posição sobre o crédito fiscal em publicações anteriores, mostrando apoiar sua eliminação, mesmo que isso aumente o custo dos veículos Tesla para os compradores americanos. “Tirem os subsídios, isso apenas ajudará a Tesla”, escreveu ele em uma postagem em sua plataforma social, X, em julho. Essa visão contrasta com a opinião de outros na indústria automotiva, que veem a permanência do crédito fiscal como crucial para a competitividade. O Alliance for Automotive Innovation, um grupo comercial que representa grandes montadoras, exceto a Tesla, enviou uma carta ao Congresso em outubro, pedindo a manutenção do crédito, afirmando que os fabricantes americanos precisam dele para competir com os avanços das montadoras chinesas.
Nos últimos anos, à medida que as montadoras tradicionais introduziram mais modelos de EV para o público americano, as vendas da Tesla começaram a desacelerar. Além disso, a montadora enfrenta a crescente competição de fabricantes chineses de veículos elétricos, tanto no mercado interno quanto no europeu. As vendas da Tesla nos primeiros nove meses do ano mal alcançaram as do mesmo período em 2023, marcando a primeira vez em que testemunhou uma queda em um intervalo tão longo.
Vale ressaltar que Musk, atualmente o homem mais rico do mundo, com um patrimônio líquido avaliado em US$ 307 bilhões, doou US$ 119 milhões para um comitê de ação política que apoia a campanha de Trump. Com a eliminação do crédito fiscal, o impacto nas ações da Tesla não foi totalmente negativo; após uma queda nas cotações, os analistas concordam que o fim do crédito provavelmente se tornará um ponto positivo para a fabricante. Um analista da CFRA Research, Garrett Nelson, argumentou que a eliminação do crédito “alargará a margem competitiva da Tesla, tornando os modelos de concorrentes ainda mais inviáveis economicamente, já que acreditamos que a TSLA é a única fabricante lucrativa de EVs.”
Consequências da possível eliminação do crédito
Diante das promessas de campanha de Trump de acabar com o que ele chamou de “mandato sobre EVs” do presidente Joe Biden, que na verdade não existe formalmente na legislação federal, esse debate se intensifica. A Lei de Redução da Inflação, aprovada sob Biden, restabeleceu o crédito fiscal para muitas compras de veículos elétricos e forneceu empréstimos a juros baixos para montadoras que investem em fábricas de EVs e baterias.
Relatórios indicam que a equipe de transição de Trump planeja acabar com o crédito de US$ 7.500 como parte de uma reforma tributária mais ampla, e a Tesla já expressou apoio à eliminação do subsídio. Embora os investimentos do setor automotivo tradicional em veículos elétricos não sejam desprezíveis, o cenário em constante mudança gera um ambiente incerto tanto para os fabricantes como para os consumidores.
Por fim, enquanto alguns analistas acreditam que a eliminação do crédito pode prejudicar a demanda marginal nos Estados Unidos, outros argumentam que essa mudança pode, paradoxalmente, ajudar a Tesla a manter sua posição de liderança no mercado. A relação entre preço, lucro e competitividade se tornará ainda mais complexa à medida que esse cenário se desenrola. Em última análise, a trajetória da Tesla pode depender não apenas de decisões políticas, mas também de como ela enfrentará a crescente concorrência e responderá a um mercado em evolução que busca não apenas eficiência, mas também inovação.