Ação provocativa da Coreia do Norte reflete crescente hostilidade em relação ao governo sul-coreano
No dia 15 de outubro de 2024, a Coreia do Norte realizou a detonação de partes das rodovias inter-coreanas, que não estavam mais em uso, como um ato de provocação durante uma crescente escalada de tensão entre as duas nações. A ação foi confirmada pelas autoridades da Coreia do Sul, na qual associaram a destruição das vias a um clima de hostilidade exacerbada, principalmente em razão da alegação norte-coreana de que drones sul-coreanos teriam sobrevoado sua capital, Pyongyang. Esta demolição, em caráter emblemático, evidencia o crescente desprezo da liderança norte-coreana, encabeçada por Kim Jong Un, em relação ao governo conservador da Coreia do Sul, ao mesmo tempo que reafirma a determinação de Pyongyang em romper vínculos diplomáticos e descartar a perspectiva de um eventual unificação pacífica da península coreana.
A resposta militar da Coreia do Sul e a escalada da retórica bélica
Frente a essa escalada de tensões, o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul revelou que suas forças armadas dispararam tiros de advertência em direção ao sul da Linha de Demarcação Militar que divide os dois países, embora não tenham causado danos do lado sul-coreano. No entanto, a reação da Coreia do Norte em resposta a essas ações não foi imediatamente registrada. Em um cenário de crescente preocupação com a segurança, o exército sul-coreano anunciou o fortalecimento da sua prontidão e postura de vigilância, em colaboração com as Forças Armadas dos Estados Unidos. Imagens fornecidas pela imprensa sul-coreana mostraram nuvens de fumaça se erguendo em decorrência dos explosivos utilizados na destruição das vias, acompanhadas de caminhões e escavadeiras norte-coreanas removendo os destroços nas áreas afetadas.
O especialista Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos da Coreia do Norte em Seul, sugere que essa ação poderia ser o início de uma construção de barreiras físicas ao longo da fronteira e que estas detonações nas rodovias poderiam, de fato, ser uma preparação para a edificação dessas estruturas defensivas. Historicamente, a Coreia do Norte já realizou atos ensaiados de destruição de instalações em seu território como forma de enviar mensagens políticas em resposta a ações percebidas como provocativas. Por exemplo, em 2020, Pyongyang detonou um edifício de escritório de ligação construído pela Coreia do Sul em retaliação a campanhas de panfletagem civis realizadas por Seul. Em outras ocasiões, como em 2008, o país havia detonando uma torre de resfriamento em seu complexo nuclear, resposta a negociações de desarmamento que estavam em pauta. Essas ações refletem a continuidade da política de Kim Jong Un de eliminar a meta de unificação pacífica e de definir a Coreia do Sul como seu “principal inimigo invariável”.
Retórica beligerante e as pressões geopoliticas atuais
Esse movimento provém de uma retórica beligerante crescente, onde a Coreia do Norte acusou repetidamente a Coreia do Sul de infiltração de drones para a distribuição de panfletos em território norte-coreano, culminando em ameaças de uma resposta militar severa caso essa situação se repetisse. Embora Seul tenha se recusado a confirmar as alegações sobre o envio de drones, também enfatizou que a segurança de seus cidadãos é a prioridade e que a Coreia do Norte enfrentará uma possível extinção de seu regime caso as ameaças se concretizem. Em uma demonstração de prontidão, o Ministério da Defesa da Coreia do Norte colocou sua artilharia de frente e outras unidades militares em estado de alerta, conforme afirma que poderia vingar-se com ataques que transformariam a Coreia do Sul em “pilastras de cinzas”. A imprensa estatal norte-coreana informou que Kim Jong Un teve uma reunião com seus principais oficiais militares e de segurança a respeito das “provocações sérias” consideradas pela ameaça sul-coreana, além de apresentar tarefas que envolviam ações militares imediatas e a operação de uma estratégia de “dissuasão de guerra”.
Impacto e futuro das relações inter-coreanas
As relações entre as duas Coreias, que chegaram a experimentar um período de détente no início da década de 2000, têm se deteriorado gradativamente, especialmente à medida que a Coreia do Norte intensificou seus testes de mísseis enquanto a Coreia do Sul e os Estados Unidos ampliaram suas manobras militares conjuntas. O que se observa agora é uma extensão dessa hostilidade, em que a Coreia do Norte não apenas destrói infraestruturas interconectadas, mas também tem evitado o diálogo e feito anúncios de bloqueios permanentes de fronteira e construções de estruturas de defesa na linha de frente. Esse ambiente torna-se complexo à medida que se observa a instalação de barreiras antitanque e o uso de minas na fronteira, além da remoção de elementos de iluminação nas seções das rodovias inter-coreanas sob controle norte-coreano.
Com a crescente militarização na península e uma postura de confronto assumida pelo regime de Kim Jong Un, o futuro das relações inter-coreanas torna-se mais incerto do que nunca. Assim, o que se espera é que a comunidade internacional esteja atenta a esses desenvolvimentos, que poderão impactar não apenas a estabilidade regional, mas também a dinâmica geopolítica global, levando em consideração as incessantes provocações de Pyongyang e a resposta de suas potências vizinhas.