Na última terça-feira, 12 de setembro, a Coreia do Norte detonou explosivos em trechos de duas importantes rodovias que conectam seu território à Coreia do Sul, de acordo com autoridades sul-coreanas. Esse ato ocorreu após Pyongyang comunicar que tomaria medidas para isolar completamente seu território em relação ao Sul, intensificando ainda mais as tensões entre as duas nações. As estradas afetadas foram a linha Gyeongui, na costa oeste, e a linha Donghae, na costa leste, ambas vitais para o intercâmbio entre as Coreias. Embora a destruição ocorra em um contexto em que esses trajetos estavam inativos há anos devido à divisão rigorosa imposta pela demarcação militar, a ação simboliza um aumento significativo na hostilidade entre os líderes das duas nações, conforme se observa a retórica acalorada que marca o atual cenário político.
Em imagens divulgadas pelo Ministério da Defesa sul-coreano, várias explosões podem ser vistas nas rodovias situadas no lado norte da linha de demarcação militar. Maquinário pesado, incluindo caminhões e escavadeiras, foi mobilizado para operar nas áreas afetadas, sendo que uma das estradas estava parcialmente obstruída por uma barreira preta. O Estado-Maior Conjunto (JCS) da Coreia do Sul relatou que a Coreia do Norte está realizando “trabalhos adicionais com maquinário pesado” nesses locais, embora não tenha fornecido maiores detalhes sobre essa movimentação. A rápida deterioração das relações intercoreanas é um fator que contribui para essa recente escalada, com a resposta militar da Coreia do Sul sendo uma demonstração de que o país está atento e preparado para qualquer eventualidade.
Na véspera da destruição, o governo sul-coreano detectou indícios de que a Coreia do Norte se preparava para demolir as estradas que conectam os dois países, o que levou a um alerta sobre a iminência das explosões. Funcionários do serviço militar sul-coreano expressaram preocupação ao observar movimentos de pessoas em áreas cercadas no lado norte da fronteira. Essas ações ocorreram em um contexto de hostilidade crescente, onde se intensificaram as acusações mútuas, com a Coreia do Norte condenando a Coreia do Sul por ter supostamente enviado drones de propaganda sobre sua capital, Pyongyang, e ameaçando represálias. Em resposta, o governo do Sul aumentou suas medidas de prontidão, com o compromisso de se manter em alerta total em cooperação com os Estados Unidos.
Esses desenvolvimentos não são isolados. A Coreia do Norte, sob o comando de Kim Jong Un, vem se distanciando cada vez mais da busca por uma reunificação pacífica, como evidenciado por sua declaração de que interações com a Coreia do Sul são uma “relação entre dois países hostis e beligerantes em guerra”. Com as tensões alcançando novos patamares, no dia 9 de outubro, o Estado-Maior do Exército Popular da Coreia (KPA) declarou que todos os meios de transporte rodoviários e ferroviários conectados ao Sul seriam completamente obliterados, reforçando as medidas de segurança ao longo da fronteira.
No comunicado divulgado, o KPA argumentou que a “situação militar aguda” que domina a península coreana justifica medidas mais resolutas para salvaguardar a segurança nacional. Segundo o comunicado, essas ações são uma resposta a exercícios militares recentes realizados na Coreia do Sul e à presença de ativos estratégicos nucleares dos Estados Unidos na região, que resultaram em reações extremamente negativas em Pyongyang. Desde o início do ano, esse último tem se empenhado em reforçar sua defesa, utilizando tácticas que vão desde a colocação de minas terrestres até a construção de armadilhas anti-tanque, além de desmantelar a infraestrutura ferroviária nas proximidades da fronteira.
A retórica embebida de hostilidade entre os líderes norte e sul-coreanos também se intensificou. Recentemente, Kim Jong Un fez declarações ameaçadoras sobre a possibilidade de uso de armas nucleares para destruir a Coreia do Sul em caso de ataque. Em contrapartida, o presidente sul-coreano advertiu ao seu vizinho do Norte que uma ação dessa natureza resultaria no “fim de seu regime”. Com a Coreia do Norte ampliando seus esforços de produção nuclear e estreitando laços com a Rússia, as preocupações ocidentais em relação ao destino daquele país são cada vez mais palpáveis.
Especialistas interpretam essa brusca mudança na política da Coreia do Norte como uma estratégia de Kim para desviar a atenção das falhas econômicas internas e justificar o significativo investimento em armamentos nucleares e mísseis, ressaltando ameaças externas que podem não ser tão iminentes quanto sugerido. A análise de Leif-Eric Easley, professor na Ewha Womans University, sugere que a posição do regime pode estar mais relacionada a vulnerabilidades políticas internas, ao invés de uma realidade de força militar. As constantes ameaças – sejam elas reais ou retóricas – não só evidenciam a estratégia de sobrevivência de um regime hereditário, mas também colocam a península diante de um cenário de contínua instabilidade.