O filme “Dances With Wolves”, conhecido no Brasil como “Dances com Lobos”, é uma obra que, apesar de sua surpreendente semelhança com o romance do qual se originou, possui diversas diferenças significativas que merecem ser exploradas. Lançado em 1990, “Dances com Lobos” não só marcou a estreia de Kevin Costner como diretor, como é também um dos seus trabalhos mais celebrados no gênero western, ganhando sete Oscars, incluindo o de Melhor Filme. Esta produção deixou um legado duradouro, com uma pontuação de 87% no Rotten Tomatoes, o que atesta sua qualidade e relevância ao longo dos anos. No entanto, algumas escolhas criativas e logísticas ao adaptar a história para os cinemas resultaram em diferenças notáveis entre a narrativa escrita e sua execução visual.
as origens e o enredo de dances com lobos
A narrativa de “Dances com Lobos” teve início com um roteiro elaborado por Michael Blake, um amigo próximo de Costner. Blake, ao perceber que a história poderia se beneficiar de uma forma mais elaborada, reescreveu o material como um romance. Após a publicação, Costner adquiriu os direitos do livro, anseando pela oportunidade de dirigir e interpretar o protagonista, John Dunbar. A essência da história gira em torno de Dunbar, que se vê dividido entre as obrigações de sua posição militar e a empatia que desenvolve pelos Lakota Sioux, recebendo o título que dá nome à obra. Apesar das semelhanças entre o livro e o filme, as diferenças na narrativa e na profundidade dos personagens revelam nuances que são significativas para a compreensão total da história.
a perspectiva narrativa: um enfoque diferente
Uma das mudanças mais marcantes entre o livro e o filme é a perspectiva narrativa. A obra literária se distingue por ser contada através de múltiplos personagens, incluindo Wind In His Hair, Stands With a Fist e até Major Hatch, enquanto o filme se concentra quase exclusivamente na visão de Dunbar. Isso limita a profundidade em que o espectador pode compreender outros personagens e seus contextos, como a poderosa cena de luto ritual de Stands With a Fist, que é apresentada na narrativa original. Este ajuste pode ter sido uma escolha prática, considerando que Costner era o principal atrativo comercial, porém resulta em uma perda de detalhes que enriqueceriam a história.
discrepâncias em eventos e personagens
Outro aspecto relevante é a representação de Fort Sedgewick, que no livro é abandonado devido à insatisfação do Capitão Cargill com as condições de vida e as constantes ameaças de ataques. No filme, Dunbar chega ao forte já deserto, o que retira a ênfase sobre o estado precário em que os soldados viviam, um reflexo da desorganização da União na guerra. Igualmente, a narrativa do livro se leva em consideração a relação de Dunbar com os Comanche, enquanto na adaptação cinematográfica este é mostrado como tendo laços com os Sioux, por motivações logísticas de produção. Essa mudança se deve à escassez de atores que falassem a língua Comanche disponível, complicando ainda mais a fidelidade do filme ao romance.
estilo cinematográfico versus profundidade literária
Ao se debruçar sobre as características dos personagens, notamos que a Stands With a Fist do livro é retratada como uma mulher de 26 anos, com um físico mais delicado e uma aparência de “rústica”, enquanto no filme ela é interpretada por Mary McDonnell, que possuía 37 anos na época das filmagens. Curiosamente, Costner buscou uma atriz mais velha para o papel, o que contraria a tendência comum de Hollywood de colocar mulheres notavelmente mais jovens em papéis românticos ao lado de protagonistas masculinos. Além disso, a campanha publicitária do filme se dividiu em duas abordagens distintas para atrair tanto o público feminino, enfatizando o romance, quanto o masculino, focando em sequências de ação, uma estratégia estratégica que visou expandir sua audiência.
conclusões sobre a adaptação
A adaptação de “Dances com Lobos” para o cinema é um exemplo intrigante de como as diferenças entre uma obra literária e sua versão cinematográfica podem influenciar a recepção do público e a percepção histórica dos eventos retratados. Apesar das inúmeras divergências, o filme conquistou um espaço de destaque na indústria cinematográfica e continua a ser uma referência para discussões sobre representações de comunidades indígenas e a interpretação de narrativas históricas. Curiosamente, o romance original também ganhou uma sequência, intitulado “The Holy Road”, que explora a vida de Dunbar e sua luta por resgatar sua família. Embora os rumores sobre uma adaptação cinematográfica desta sequência estejam circulando há anos, a permanência de Costner fora do projeto deixa em aberto a questão se a história do “Dances com Lobos” continuará a ser contada.