O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ofereceu uma crítica contundente ao recente contato entre o chancellor alemão, Olaf Scholz, e o presidente russo, Vladimir Putin, descrevendo a conversa como a abertura de uma “caixa de Pandora”, que poderia comprometer os esforços internacionais para isolar o líder russo. Este diálogo, que ocorreu pela primeira vez em dois anos, e a provocativa resposta de Zelensky revelam as tensões latentes à medida que a guerra na Ucrânia se agrava e as incertezas políticas na Europa aumentam.
No último telefonema, o chancellor Scholz instou Putin a retirar suas tropas da Ucrânia e a estabelecer negociações com Kyiv visando um “paz justa e duradoura”. De acordo com informações do governo alemão, essa comunicação aconteceu para transmitir a posição de Alemanha e reforçar o compromisso do país em apoiar a Ucrânia o quanto for necessário diante da agressão russa. Porém, muitos líderes europeus, incluindo Zelensky, temem que tal conversa sirva apenas aos interesses de Putin em buscar uma normalização das relações, diminuindo sua posição isolacionista. Ao comentar sobre o telefonema, Zelensky declarou: “Isso é exatamente o que Putin sempre quis; é crucial para ele enfraquecer sua própria desolação, tendo negociações que não levarão a lugar algum.”
O contexto político da Alemanha também não pode ser ignorado, já que Scholz está se preparando para uma eleição antecipada programada para 23 de fevereiro. Como suas políticas têm sido questionadas por partidos populistas que favorecem um diálogo mais próximo com a Rússia, as pressões internas parecem ter influenciado a decisão de Scholz em tomar essa iniciativa aparentemente diplomática. No entanto, Zelensky e outros assessores europeus haviam advertido Scholz sobre essa movimentação, sugerindo que tal estratégia poderia não apenas enfraquecer a posição da Ucrânia, mas também ser vista como um movimento mais voltado para o consumo interno do governo alemão.
A conversa destaca também a pressão internacional sob a qual a Alemanha se encontra, especialmente após a eleição do presidente americano, Donald Trump, que insinuou que poderia ter uma abordagem mais suave em relação ao conflito, sem apresentar um plano de ação claro. O impacto que essa mudança poderia ter nas relações transatlânticas e nos esforços para manter a unidade contra a Rússia é uma preocupação para muitos diplomatas ocidentais. Um deles expressou a opinião de que a ligação entre Scholz e Putin poderia enviar um sinal negativo, especialmente em um momento tão delicado e, portanto, seria um movimento duplamente arriscado para a Alemanha.
consequências da conversa entre schollz e putin na guerra da ucrânia
O Kremlin, por sua vez, afirmou que a conversa ocorreu a pedido de Berlim e que Putin enfatizou que qualquer acordo para terminar a guerra na Ucrânia deve levar em consideração os interesses de segurança da Rússia e refletir as “novas realidades territoriais”. Com a Ucrânia enfrentando situações extremamente difíceis em suas linhas de frente, a eficácia deste e de outros diálogos agora é questionada. Zelensky e outros oficiais ucranianos argumentaram que as interações com Putin, como essa téléfonica, oferecem pouco valor em termos de progresso real em direção à paz e podem ser vistas como uma forma de Moscou mudar sua política sem sofrer as consequências.
As dificuldades enfrentadas por Kyiv são agravadas pela crescente presença de tropas norte-coreanas na Rússia, onde relatos apontam que cerca de 11.000 soldados estão envolvidos em operações de combate, aumentando a complexidade da situação. Além disso, a Alemã forneceu à Ucrânia aproximadamente 15 bilhões de euros em apoio financeiro, humanitário e militar desde o início do conflito em larga escala, consolidando sua posição como o segundo maior apoiador de Kyiv, atrás apenas dos Estados Unidos.
Ao final, enquanto a Alemanha busca maneiras de abordar a sua dependência energética da Rússia e tenta manter o apoio interno em meio a pressões externas, a interação recente entre Scholz e Putin destaca os desafios persistentes na busca por uma solução pacífica e duradoura na Ucrânia. Zelensky procurará avaliar a situação e se preparar para as implicações resultantes da conversa, sendo necessário que as decisões tomadas sejam com base em uma estratégia que proteja os interesses da Ucrânia, sem ser seduzido pelo brilho enganoso da diplomacia russa.
À medida que a situação continua se desenvolvendo, a comunidade internacional deve observar atentamente as ações da Alemanha e da Ucrânia enquanto tentam navegar por essas águas turbulentas, que envolvem tanto as relações com Moscou quanto os complexos interesses político-econômicos em jogo. E assim, a pergunta permanece no ar: como o futuro da guerra na Ucrânia será moldado por essas conversas e ações no eixo Berlin-Moscovo?