A fascinação pelo Coliseu de Roma, ícone da antiguidade e um dos marcos mais emblemáticos do mundo, acaba de ser colocada em xeque devido a uma nova experiência oferecida pela plataforma Airbnb, que promete atrair visitantes para uma vivência peculiar e controversa. Batizada de “Gladiator II”, a iniciativa, que permitirá que os participantes vivenciem um combate de gladiadores em um cenário histórico, não agradou a todos. Autoridades, locais e profissionais da cultura estão se manifestando contra o que consideram uma mercantilização excessiva de um patrimônio que, para muitos, deve ser tratado com reverência e respeito.
De acordo com o anúncio feito em 13 de novembro, a experiência faz parte da série “Icons” da Airbnb, na qual os convidados terão a oportunidade de se vestir com “armaduras historicamente precisas” e testar suas habilidades em combate. “Treine na arte da luta de gladiadores e teste sua bravura enquanto enfrenta outros guerreiros. Um summa rudis – seu árbitro – determinará seu destino. Que você prove o sabor da glória com um polegar para baixo e se junte às fileiras dos gladiadores vitoriosos”, detalhes divulgados em um comunicado da empresa. O que pode parecer divertido para alguns, certamente está causando arrepios em muitos venenosos em Roma.
Erica Battaglia, presidente da Comissão de Cultura de Roma, se manifestou sobre a questão, destacando que essa proposta transforma o Coliseu em “um lugar de brincadeiras para poucos selecionados”. Para Battaglia, estamos tratando de um site que pertence à herança mundial e que deve ser protegido contra tais experimentos que mais se assemelham a atrações de parques temáticos do que a experiências culturais enriquecedoras. “O que o Coliseu representa é muito maior do que um mero espetáculo; é a própria história da civilização”, acrescentou, expressando preocupação com a degradação do valor cultural e histórico do local.
O conselheiro de cultura de Roma, Massimiliano Smeriglio, também manifestou seu descontentamento através de uma postagem nas redes sociais. Smeriglio afirmou que o Coliseu não deve ser transformado em “um parque temático”, ressaltando que a notícia de um espetáculo gladiatorial no local o deixou perplexo. Em um tom crítico, ele continua, “é preciso entender que a cultura deve ser acessível a todos, e não uma mercadoria para entretenimento.” Ele sente que essa nova empreendimento nos distancia do verdadeiro valor histórico que o Coliseu possui.
Além disso, o político do Partido Democrático, Enzo Foschi, expressou sua indignação através de um comunicado, onde mencionou que a histórica cidade de Roma está, por assim dizer, sendo apropriada por iniciativas que a transformam em um enorme parque de diversões. “Roma não é Disneyland”, ele ressaltou, enfatizando a natureza única e distinta do patrimônio da cidade em contraste com atrações comerciais.
Em contrapartida, o gerenciamento do Parque Arqueológico do Coliseu, que supervisiona o monumento romano, se defendeu e explicou que a intenção da Airbnb é, na verdade, enriquecer o patrimônio cultural por meio de atividades imersivas embasadas em pesquisa histórica rigorosa. A declaração diz que a experiência oferecida é uma forma de celebrar a rica história do Coliseu, ao mesmo tempo em que se respeita a integridade do monumento.
Entretanto, a Airbnb também destaca em seu comunicado que esta iniciativa é parte de uma série de medidas para revitalizar o turismo cultural na Europa, incluindo doações superiores a dez milhões de dólares para a conservação do patrimônio histórico. Além disso, a empresa assegura que está colaborando com projetos de restauração que visam aprimorar a condição do Coliseu para as futuras gerações.
À medida que a controvérsia se intensifica, a discussão sobre o modo como o patrimônio cultural deve ser tratado em uma era de turismo de massa continua. Esta situação também suscita debates sobre a linha tênue entre preservar a história e capitalizá-la. À luz dos diversos pontos de vista, parece claro que o Coliseu, sendo um símbolo da Roma antiga, merece um tratamento que reflita seu verdadeiro significado, longe das luzes brilhantes e das batidas de tambor de uma experiência de “gladiador” que, embora atraente para alguns, poderá ser vista como uma traição à sua essência.
Portanto, o futuro da experiência “Gladiator II” no Coliseu permanece incerto diante do crescente descontentamento da comunidade e das autoridades. O que se espera é que essa discussão não apenas salve o Coliseu de transformações indesejadas, mas também promova uma reflexão mais ampla sobre como devemos celebrar e preservar o legado cultural que nos foi deixado por nossos antepassados para as gerações futuras.