O encontro final entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu colega chinês, Xi Jinping, acontece em um ambiente repleto de incertezas e expectativas. Na capital peruana de Lima, onde os líderes da Ásia-Pacífico se reúnem para discutir temas cruciais que moldam o futuro global, a presença marcante de Donald Trump, agora presidente eleito novamente, se torna um elemento predominante nas discussões. Os assessores de Biden destacam que este momento proporciona uma oportunidade única para refletir sobre uma relação bilateral que começou há mais de uma década, em uma longa refeição em Chengdu, na China. Tal reflexão, segundo eles, pode ser mais produtiva do que a tentativa de prever o que vem a seguir.

Desde seu primeiro encontro, Biden frequentemente relembra o impacto profundo dessa interação, especialmente quando é desafiado por Xi a definir os Estados Unidos em uma única palavra, a qual ele escolhe sabiamente: “Possibilidades”. Com esse espírito de recordações, tanto Biden quanto Xi se preparam para uma conversa que transcende as tensões atuais e as expectativas de um futuro incerto. A interação entre os dois líderes, marcada por suas complexas dinâmicas passadas, será mais do que um mero protocolo; será uma avaliação de uma relação que, ao longo do tempo, suportou significativas flutuações de amizade e rivalidade.

O cenário em Lima é, sem dúvida, sombrio, com a sombra da tumultuada administração Trump pairando sobre as conversações entre os líderes globais. Enquanto Trump volta à Casa Branca, os participantes da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (APEC) sentem o peso de propostas de políticas que desafiam a estabilidade construída nos últimos anos sob a liderança de Biden. A política externa de Trump, marcada por tarifas sobre importações chinesas, uma abordagem isolacionista e seu relacionamento ambíguo com autocratas, se coloca em contramão com as visões globais do presidente Biden.

Para os líderes reunidos em Lima, o que mais inquieta pode ser a imprevisibilidade de Trump, um fator que Xi e outros líderes mundiais atentam para esclarecer em suas estratégias diplomáticas. Durante um pronunciamento preparado para a cúpula da APEC, Xi destacou que o mundo entrou em “um novo período de turbulência e transformação”, alertando sobre os riscos do “unilateralismo crescente e do protecionismo”. Essa retórica reflete as preocupações de muitos líderes sobre o futuro das relações internacionais sob a iminente nova liderança dos EUA.

Na mesma linha de raciocínio, os líderes mundiais que se reúnem em Lima estão profundamente cientes das potenciais implicações das escolhas de Trump em sua nova administração. Há sinais que apontam para um possível retorno a uma postura mais agrestica e hostil em relação à China, com promessas de tarifas de 60% sobre produtos chineses, o que poderia intensificar ainda mais a tensão já existente. No entanto, as tentativas de Trump em cultivar uma relação mais amigável com Xi durante sua primeira administração, incluindo acordos comerciais promissores, contrastam com os novos desafios que esse encontro enfrenta.

Após a difícil relação entre Trump e Xi, acentuada por disputas comerciais e a pandemia de coronavírus, os líderes reconhecem que há muito mais em jogo. Para Biden, não há como oferecer uma carta de garantias a Xi sobre a continuidade de relações pacíficas entre Washington e Pequim, uma vez que os assessores do presidente afirmam ter pouco conhecimento sobre as intenções de um líder conhecido por sua natureza volátil. O caminho a ser percorrido é repleto de incertezas, mas Biden tentará ressaltar a importância da comunicação constante, mesmo à luz de prováveis contenciosos.

Em meio aos desafios contemporâneos, Biden enxerga a necessidade de promover estabilidade e clareza nas interações entre as duas potências nos próximos anos. Em reflexão, um de seus assessores de segurança nacional, Jake Sullivan, enfatizou a importância das transições políticas e como estas podem representar tanto oportunidades como riscos. Ele reiterou que é vital manter a comunicação para evitar desentendimentos que possam agravar as tensões.

Além do contexto de suas interações, esta reunião representa também uma oportunidade para o exame de uma décade de interações complexas entre Biden e Xi. Durante sua passagem como vice-presidente, Biden foi uma figura chave para compreender as dinâmicas e mudanças no governo chinês, especialmente quando Xi estava se preparando para assumir a liderança. No entanto, à medida que as nuvens tensionadas nas relações com os EUA se acumulam, não pode se ignorar os novos laços que Xi estabeleceu com outras potências, como a Rússia de Vladimir Putin.

Na verdade, o crescimento da parceria ‘sem limites’ entre a China e Rússia tem preocupado líderes globais que veem nessa aliança uma ameaça significativa às suas políticas e interesses. As recentes revelações sobre o suporte tecnológico da China à Rússia, especialmente na produção de armamentos para a guerra na Ucrânia, elevam os níveis de preocupação. Assim, Biden se depara com um ambiente complexo e hostil, onde suas ações na Ásia estão diretamente ligadas à proteção de sua própria administração e legado.

Em frente a tudo isso, os desdobramentos que se seguirão a este encontro final entre Biden e Xi em Lima tornam-se ainda mais significativos. A construção de alianças duradouras, como a parceria entre os EUA, Japão e Coreia do Sul, representa um dos legados principais que Biden espera deixar. Através de seus esforços, ele não apenas busca fortalecer relações que foram historicamente conturbadas, mas também estabelecer um contrapeso à crescente influência da China. Contudo, a confirmação de que essa aliança irá permanecer sob uma nova administração Trump permanece incerta.

Com a expectativa de mais tensões à frente, o que Biden pode afirmar é que, apesar das dificuldades, sua busca por colaborações frutíferas e a estabilização das relações com aliados na Ásia são considerações cruciais para a segurança futura. Dessa forma, com os desafios adiante, o jogo se torna equilibrado, onde o legado de Biden e as futuras ações de Trump se entrelaçam nas complexas teias da política global.

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