Rodrigo Duterte, o ex-presidente das Filipinas conhecido por sua retórica polêmica e estilo de liderança controverso, está tentando um retorno à política ao se candidatar novamente ao cargo de prefeito de Davao City, em sua cidade natal. Esta tentativa surge em meio a uma turbulenta batalha pelo poder entre as principais dinastias políticas do país, especialmente com os Marcos, que agora representam uma ameaça significativa para a família Duterte. A situação é digna de uma novela, repleta de rivalidades familiares, promessas de violência e uma luta quase épica por poder.
A ação de Duterte não é apenas uma busca pessoal por poder. Especialistas afirmam que sua candidatura visa fundamentalmente fortalecer o apoio à sua família, que se vê sob pressão diante de uma coalizão crescente de adversários liderados pelos Marcos, cuja visão política para o país contrasta drasticamente com a de Duterte. Enquanto os Marcos se alinham com os Estados Unidos, Duterte sempre teve uma postura mais favorável à China, uma diferença que agora divide a aliança anteriormente robusta entre os dois clãs.
O pano de fundo dessa disputa é um marco: a vitória esmagadora obtida por Duterte e Sara Duterte-Carpio na eleição de 2022, quando esta última foi eleita vice-presidente. Contudo, essa aliança já começa a se desmoronar, com questões de corrupção envolvendo a filha de Duterte surgindo no cenário político, desafiando a imagem de invulnerabilidade da família. A queda nas relações foi acentuada por uma troca de insultos públicos entre as duas famílias, algo que, para os observadores, era uma marca registrada da presidência de Duterte, conhecido por seu comportamento direto e sem filtros.
Diante desse contexto, Richard Heydarian, analista político e professor na Universidade das Filipinas, observou que a decisão de Duterte de retornar ao cenário político se dá em um momento de vulnerabilidade sem precedentes para sua família. Aparentemente, ele se vê cercado por inimigos em múltiplas frentes, tanto no âmbito das intrigas políticas quanto nas investigações públicas sobre sua administração, que foi marcada por um polêmico confronto contra as drogas, resultando em milhares de mortes questionáveis.
As consequências de uma guerra às drogas e seu legado sombrio
Duterte chegou ao poder prometendo uma violenta luta contra o crime, uma abordagem que resultou em mais de seis mil mortes na sua chamada “guerra às drogas”, embora especialistas acreditassem que o número real de vítimas tinha sido significativamente maior. A brutalidade de suas táticas levou a investigações internacionais, incluindo uma do Tribunal Penal Internacional, que analisou alegações de assassinatos extrajudiciais. Seu discurso beligerante o levou a desafiar investigadores e exigiu rápidas ações, mesmo afirmando que estava mais do que disposto a “enfrentar o ICC”.
O cenário atual exige que Duterte também se defenda de alegações de corrupção que cercam sua filha, o que demonstra que o legado de sua administração continua a atormentar seus descendentes. Além disso, sua confissão de ter contratado um “esquadrão da morte” enquanto era prefeito de Davao, durante uma audiência no senado, adicionou uma nova camada de controvérsia à sua figura pública.
As tensões não se limitam apenas ao escopo político, já que a relação com o polêmico pastor Apollo Carreon Quiboloy, um associado estreito e conselheiro espiritual de Duterte, que enfrenta sérias acusações de tráfico sexual, também se apresenta como um desafio. A prisão de Quiboloy após tensões dramáticas em um cerco policial sublinha o quanto as alegações de infrações legais e éticas têm afetado as dinâmicas familiares e políticas.
O impacto das divisões no cenário político filipino
A histórica aliança entre Duterte e Marcos se desintegrou, refletindo as complexidades da política filipina, onde rivalidades familiares se entrelaçam com questões de interesses nacionais. O relacionamento que antes parecia uma união de forças, agora está em um estado de constante tensão, com Duterte incendiando a situação ao fazer comentários depreciativos sobre Marcos e sua administração.
Além disso, a crescente insatisfação pública com a administração atual de Marcos complicou ainda mais a situação. A troca de declarações hostis apenas exacerba a percepção de que a ala Marcos busca um controle absoluto, enquanto os Duterte tentam se manter relevantes em um ambiente agora hostil. Com personagens como Karlo e Margarita Nograles, da família Nograles, buscando desafiar Duterte nas próximas eleições locais, a luta pelo poder em Davao vai muito além de um simples concurso eleitoral; ela é um teste de resistência para a dinastia Duterte.
O futuro no horizonte incerto
À medida que os membros da família Duterte se preparam para as eleições de maio de 2025, a batalha em Davao promete ser uma luta feroz pela sobrevivência política. Os indicadores apontam para um cenário desafiador, onde qualquer sinal de fraqueza pode significar não apenas a perda de poder local, mas também um impacto duradouro na influência da família a nível nacional. Para os analistas, um revés no seu reduto pode indicar uma severa mudança na paisagem política das Filipinas, possivelmente abrindo espaço para novos líderes e alianças políticas.
No entanto, Duterte se apresenta determinado, atraindo uma multidão sedenta por sua mensagem de “ordem” e sua promessa de que Davao pode ser “melhor do que ontem”. Está claro que, independentemente do resultado, a continuidade ou a fragmentação do legado Duterte será um tema central nas discussões políticas filipinas pelos próximos anos. Assim, essa disputa não é apenas uma competição por cargos; é uma questão de sobrevivência para um clã que, por muitos anos, dominou a política nas Filipinas e agora se vê em uma batalha épica com rivalidades familiares e questões políticas profundas que vão muito além dos interesses regionais.