Manila, Filipinas — O ex-presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, deu um passo inesperado ao registrar sua candidatura à prefeitura de Davao, sua cidade natal, mesmo diante de um legado controverso marcado por uma violenta campanha de combate às drogas, que está sendo investigada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) como uma possível violação dos direitos humanos. Este anúncio, feito na última segunda-feira, resgata um dos temas mais debatidos não apenas nas Filipinas, mas em todo o mundo, o impacto da política antidrogas de Duterte, que resultou na morte de mais de 6.000 pessoas, a maioria delas suspeitas de envolvimento com drogas, de acordo com dados do governo. Porém, organizações de direitos humanos clamam que o número real é significativamente maior.

Duterte, que tem agora 79 anos, fez a inscrição de sua candidatura na Comissão Eleitoral em Davao, onde já exerceu o cargo de prefeito por cerca de duas décadas, antes de se tornar presidente em 2016. Para a próxima eleição, seu filho, Sebastian Duterte, atualmente prefeito de Davao, também participou da chapa como candidato a vice-prefeito. Essa dinâmica familiar ressalta o contínuo poder e influência da família Duterte na política local, mas coloca em evidência as polêmicas que rondam suas ações como governantes.

Durante sua presidência, Duterte tornou-se conhecido por sua abordagem impiedosa em relação ao combate às drogas, dando ordens para que a polícia lidasse com suspeitos de tráfico e consumo de forma brutal. Enquanto ele nega ter tolerado assassinatos extrajudiciais, frequentemente provoca atentados públicos à vida de suspeitos, o que levantou críticas de organizações de direitos humanos e de líderes internacionais. As declarações dele, que incluem a ordem a policiais de “atirar em suspeitos que ofereçam resistência”, foram amplamente divulgadas e amplificaram a percepção negativa sobre sua administração.

Apesar da alegação de que sua administração enfrentou uma epidemia de drogas, Duterte reconheceu em várias ocasiões que o problema das drogas é persistente no país. Durante sua campanha presidencial, prometeu erradicar o problema em um curto período, mas após sua vitória, admitiu que havia subestimado a complexidade da situação. Esse reconhecimento dos desafios da luta contra as drogas apresenta um contraste marcante entre suas promessas e a realidade enfrentada pelas autoridades durante seu mandato.

Em 2019, Duterte retirou as Filipinas do TPI, uma ação considerada por muitos críticos como um movimento para evitar a responsabilização por seus atos. O promotor do TPI deixou claro que o tribunal ainda mantém jurisdição sobre supostos crimes cometidos durante seu governo e que a retirada do país não anula investigações em andamento. Essa situação gera incertezas e gera discussões entre os defensores dos direitos humanos e o governo atual das Filipinas.

Após concluir seu tumultuado mandato em 2022, ele afirmou em várias ocasiões que se afastaria da política. No entanto, essa afirmação foi colocada à prova com o anúncio da candidatura e das movimentações de outros membros da família Duterte, que continuam a buscar posições de poder. Sua filha, Sara Duterte, que atualmente ocupa o cargo de vice-presidente, também palestrou sobre a possibilidade de que seu pai e seus irmãos concorressem a assentos no Senado. Recentemente, Sara se demitiu de seus cargos na administração de Ferdinand Marcos Jr. em um sinal de que as relações familiares estão passando por tensões.

A dinâmica política entre Marcos e Duterte não é simples. Os conflitos públicos entre eles, incluindo declarações sobre fraquezas de liderança e alegações de uso de substâncias, refletiram um rompimento nas relações familiares e políticas que uma vez foram aliadas. Essa complexidade na política filipina também é potencializada pela crescente retirada do apoio chinês durante o governo de Duterte. Em contraste, Marcos está estabelecendo relações mais estreitas com os EUA, especialmente em meio a crescentes disputas territoriais com a China no Mar do Sul da China. Essa nova direção pode influenciar não apenas o futuro político do país, mas também o papel da família Duterte na arena nacional.

Duterte ainda possui uma base de apoio considerável entre a população, refletindo sua imagem de político forte e autêntico, mas enfrente resistência substancial por parte de grupos de direitos humanos e adversários políticos que trabalham para reverter sua influência. O resultado das próximas eleições em Davao pode ser um reflexo das divisões profundas na sociedade filipina, e uma possível reeleição de Duterte pode reabrir velhas feridas sobre a brutalidade de seu governo. À medida que o cenário eleitoral se desenrola, resta saber como essas tensões se manifestarão nas urnas e como o legado de Duterte será avaliado pela população. Um retorno ao poder pode não apenas revitalizar as políticas controversas de seu governo, mas também acentuar os debates sobre a ética e os direitos humanos em uma nação que ainda lida com as consequências de sua administração anterior.

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