O clima a portas fechadas no G20 em Rio de Janeiro já está borbulhando com as repercussões da recente eleição de Donald Trump, que, mesmo fora do cargo, mostra que ainda exerce uma considerável influência sobre os líderes mundiais. As conversas ao redor das mesas de negociações nesse evento crucial revelam que a sombra do ex-presidente dos Estados Unidos ainda paira sobre os palácios políticos, provocando divisões e disputas que podem ter um impacto significativo nas relações internacionais nos próximos anos. Com menos de dois meses até a posse de Trump, os países estão começando a considerar como sua política pode moldar o futuro das relações globais e isso se reflete em decisões já tomadas por líderes como o presidente argentino Javier Milei.

No âmbito das discussões do G20, começaram a surgir tensões logo no início das negociações, quando Milei ameaçou bloquear um comunicado final, especialmente em relação a questões de tributação dos ultra-ricos e problemas de gênero. Este movimento é visto como uma manobra destinada a angariar o apoio de Trump e seus aliados, uma verdadeira dança de poder que muitos observadores interpretam como um gesto de subserviência ao novo governo americano que se aproxima. O presidente argentino, que foi o primeiro líder mundial a se encontrar com Trump após sua vitória, parece estar adotando uma posição de força, desafiando acordos previamente estabelecidos que Argentina havia assinado no verão.

A questão em disputa destaca um fenômeno comum em cúpulas globais, mas o contexto que rodeia essa discórdia é peculiar. A expectativa de que Trump retorne à Casa Branca provocou uma ansiedade palpável entre muitos dos presentes, que veem a possibilidade de seu retorno às políticas e posturas que caracterizaram seu primeiro mandato. Vários diplomatas expressaram que Milei está se aproveitando da situação para consolidar uma nova aliança de líderes conservadores, e isso poderia indicar um desvio nas negociações e colaborações que antes eram consideradas irreversíveis.

Enquanto isso, Joe Biden, que se dedica a cimentar seu legado e os laços dos Estados Unidos com seus aliados em suas últimas cúpulas internacionais, se vê numa posição da qual pode apenas observar os movimentos. Em conversas com líderes do Japão, Coreia do Sul e Peru, o ex-presidente não foi chamado diretamente ao assunto, mas a menção ao novo governo foi indiscutivelmente uma pauta presente. Xi Jinping, presidente da China, fez referência ao novo cenário político ao afirmar que seu país estaria pronto para trabalhar com a nova administração, uma linha diplomática que sugere uma nova dinâmica nas relações entre EUA e China no futuro.

Além disso, a nova equipe de Trump em potencial, composta por figuras como Tulsi Gabbard e Pete Hegseth, levantou questões entre diplomatas sobre a direção que a política americana poderá tomar. Este novo elenco de personagens na administração Trump pode alterar a forma como os EUA se relacionam com aliados e adversários ao redor do mundo, especialmente em temas sensíveis como a guerra na Ucrânia e as mudanças climáticas. A reflexão sobre os impactos que as ações de Trump terão já gera receio em negociações que, por sua vez, podem criar uma nova fissura entre as nações unidas pela G20. Como mencionado por um dos diplomatas, “a vantagem conservadora de Milei é visível; ele está se antecipando a mudanças que Trump ainda nem implementou pessoalmente.”

Ainda em meio a essas complexidades, Biden enfatiza a urgência de se trabalhar para combater a fome e a pobreza, temas que, mesmo que sejam a prioridade da sua agenda enquanto presidente, podem não ter a mesma força quando a nova administração assumir. Em sua última turnê pelo Brasil, acompanhado de autoridades locais, Biden fez promessas sobre o clima e o desenvolvimento, mas muitos pares no G20 validam essas promessas como simbólicas, reconhecendo que é apenas uma questão de tempo até que o próximo governo reverta estes compromissos.

Num cenário de incertezas, o Brasil se encontra no olho do furacão político e ambiental enquanto se prepara para receber lideranças nacionais e internacionais. A possibilidade de Trump abandonar acordos climáticos, como o Acordo de Paris, certamente deixará seu rastro, fazendo com que outros líderes, como Milei, se sintam encorajados a fazer o mesmo. O drama político que se desenrola em torno da cúpula reflete a agitação global gerada pelas relações de poder. Para muitos envolvidos nas discussões, a contenda que caracterizou as cúpulas mundiais, durante o primeiro mandato de Trump, parece estar voltando com força.

Com a proximidade do término da presidência de Biden, a busca por um ambiente internacional coeso e colaborativo pode ser mais desafiadora do que nunca, levantando a pergunta: como será o novo estado das relações internacionais sob a égide de Donald Trump? À medida que os debates do G20 continuam, os líderes globais estão prestando atenção e se mobilizando. É uma verdadeira dança de esperanças e desafios, enquanto se antecipam os próximos passos de um antigo ator que ainda pode alterar o jogo a nível global.

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