O prestígio do Oscar, um dos prêmios mais cobiçados da indústria cinematográfica, é frequentemente acompanhado por uma análise minuciosa sobre as indicações dos artistas. Neste contexto, um tema recorrente e intrigante emergiu ao longo dos anos: a aparente resistência da Academia em reconhecer talentos oriundos do programa de comédia Saturday Night Live, um dos pilares da televisão americana. Com uma trajetória de 50 temporadas e mais de 100 prêmios Emmy, como isso pode acontecer com um programa que lançou estrelas como Eddie Murphy, Bill Murray, e Kate McKinnon?
A produção cinematográfica inspirada no ambiente de SNL para este ano, intitulada Saturday Night, apresenta um elenco enérgico e grandes expectativas em relação ao Oscar. Entretanto, a triste verdade é que, apesar do sucesso do programa e de seu impacto cultural, apenas seis de seus mais de 150 membros já foram reconhecidos com indicações ao Oscar — uma estatística que deixa muitos fãs perplexos e descontentes. Isso se torna ainda mais curioso quando se considera o fato de que o único vencedor que emergiu dessa galáxia é Robert Downey Jr., que conquistou a estatueta recentemente por sua atuação em Oppenheimer — com seu breve passado no programa sendo quase um mero detalhe de carreira.
Ao investigar mais a fundo, parece haver uma desconexão entre o humor irreverente de SNL e as premiações tradicionais de Hollywood. Dave Karger, apresentador de Turner Classic Movies e notório prognosticador de Oscars, menciona que essa disparidade não é um fenômeno intencional, mas que “existe uma linha entre SNL e os prêmios da indústria cinematográfica”. Para os comediantes, o caminho para o reconhecimento muitas vezes exige que se abandonem suas raízes cômicas em favor de papéis mais dramáticos, o que é uma exigência que não se aplica igualmente a atores de outros gêneros.
A história de snubs, ou indicações perdidas, pelos comediantes de SNL remonta a 1981, quando os ícones Chevy Chase e Bill Murray foram ignorados por suas performances em Caddyshack e The Blues Brothers, respectivamente. Por outro lado, Goldie Hawn, de Laugh-In, recebeu uma indicação por Private Benjamin do mesmo ano. Apesar de Eddie Murphy ter gerado sucesso inquestionável em sua carreira pós-SNL, incluindo filmes como Trading Places e Beverly Hills Cop, ele só foi indicado ao Oscar por um papel dramático, em Dreamgirls, mais de 20 anos depois de sair de SNL.
O contraste se agrava quando se analisam comediantes como Billy Crystal, cuja carreira se destaca no cinema e que, apesar de suas contribuições significativas, permanece sem uma única indicação ao Oscar. O público talvez encontre humor na ironia desta situação: enquanto atores de sitcoms como Tom Hanks conseguiram indicações pitando um papel memorável em Big, os comediantes de SNL parecem ter maior dificuldade para quebrar esse teto de vidro. Para muitos, essa situação é frustrante — e há esperanças de um futuro mais justo à medida que a Academia se torna mais diversificada.
Nos últimos anos, a Academia tem mostrado sinais de mudança, com uma base de votantes mais jovem e com maior representatividade, o que, segundo Karger, poderia beneficiar os comediantes em suas aspirações de prêmios. Karger acredita que “as barreiras e preconceitos estão desaparecendo” e que haverá uma maior receptividade a diferentes tipos de filmes e performances. Assim, há uma janela de esperança para que os aluns de SNL sejam adequadamente reconhecidos por seus talentos ao longo das próximas cerimônias.
O que pode ser percebido neste panorama é que, mesmo quando a Academia parece ressoar com seus notórios preconceitos contra o gênero cômico, a evolução nas preferências dos votantes abre um novo caminho. Com figuras como Chloe Fineman, atual comediante de SNL, buscando sua chance nas futuras edições do Oscar, há expectativa de que finalmente esses talentos possam ser apreciados numa nova luz.
Nosso olhar para os filmes e performances que emergem de SNL é refletido na capacidade de seus talentos de navegar e se reinventar em formatos mais sérios. É um teste de adaptabilidade que, se vencido, não apenas traria os devidos prêmios, mas também uma nova era de reconhecimento para a comédia no cinema.
Em última análise, a situação dos membros de SNL e o Oscar levanta questões pertinentes sobre o papel da comédia na narrativa cinematográfica e na percepção do que conta como uma performance digna de prêmios. Para os fãs, o desafio permanece: por que, em um mundo que valoriza tanto as contribuições cômicas, a Academia parece hesitar em celebrar tantos talentos de SNL? É uma questão que ainda precisa ser respondida pelos guardiões do cinema.