Conflito entre fundador e empresa intensifica-se com alegações de movimentação suspeita de recursos
Em um desdobramento significativo na disputa legal envolvendo a TuSimple, Xiaodi Hou, co-fundador e ex-CEO da startup de caminhões autônomos, acionou um tribunal de distrito da Califórnia. Hou solicitou que a corte emissasse uma ordem de restrição temporária, que impediria a empresa de transferir seus ativos remanescentes nos Estados Unidos para a China. Esta movimentação ocorre em um cenário de incerteza em relação à administração da empresa e a seus investidores, levantando preocupações sobre a segurança dos ativos que somam dezenas de milhões de dólares.
Com o próximo julgamento agendado para dezembro, Hou almeja que essa ordem judicial possa barrar a movimentação de um capital significativo, uma vez que, até setembro, a TuSimple possuía cerca de $450 milhões em capital disponível. Além disso, o ex-CEO pediu uma descoberta rápida de evidências que suportem seu pleito, o que indica a gravidade da situação e a urgência de suas ações.
Detalhes da disputa e os novos rumos da TuSimple
A declaração de Hou ao tribunal, apresentada na segunda-feira, marca um novo capítulo na batalha entre a TuSimple e alguns de seus acionistas, que questionam os esforços da empresa em utilizar capital de investidores para promover um novo negócio de animação e jogos gerados por inteligência artificial na China. Este é o primeiro momento em que Hou, que foi destituído da posição de CEO em 2022, faz acusações públicas contra a TuSimple e seus líderes, alegando que a companhia está desviando ativos para empresas de animação e jogos que pertencem ou estão diretamente conectadas a Mo Chen, co-fundador e presidente do conselho da TuSimple, sob a justificativa de uma mudança estratégica de negócios.
Alegações ainda mais contundentes surgem com a acusação de que a TuSimple não cumpriu com as regulamentações da SEC (Securities and Exchange Commission), ao não informar ou obter aprovação dos acionistas antes de mudar a direção dos negócios ou transferir fundos para fora dos Estados Unidos. Atualmente, Hou dirige a Bot Auto, uma nova startup de caminhões autônomos localizada no Texas, mas esta relação abala ainda mais a sua conexão com a TuSimple.
A TuSimple, que outrora era avaliada em $8,5 bilhões após sua IPO em 2021, enfrenta uma onda de revezes que culminaram em seu fechamento nos EUA e deslistagem em janeiro de 2024. A proposta original da empresa era comercializar sua tecnologia de veículos autônomos na China, porém, ao longo do último ano, a TuSimple fez cortes drásticos em sua equipe, interrompeu operações de direção autônoma e redirecionou seus esforços para áreas ligadas a jogos e animação por inteligência artificial.
Em agosto, acionistas alarmados enviaram uma carta ao conselho após a revelação de que a TuSimple estaria destinando recursos para áreas pouco convencionais. A resposta do conselho não tardou a chegar, com o anúncio público de um novo setor de negócios, o que acirrou ainda mais a tensão entre a direção e os investidores.
Preocupações sobre transferências emergentes de ativos e futuro da empresa
Recentemente, Hou fez um apelo ao tribunal para a emissão da ordem de restrição, após perceber um registro da TuSimple China que indicava a iminente transferência de dinheiro, ou a já realizada, dos Estados Unidos. Documentos públicos revelaram que duas subsidiárias da TuSimple China registraram um aumento conjunto de ativos no valor de $150 milhões, conforme destacado na declaração de Hou.
“Esses registros mostram um aumento suspeito em ativos registrados entre essas duas subsidiárias em um único dia como um precursor a uma grande transferência de dinheiro dos EUA para a China”, expressa a declaração. “O cenário mais provável é que esses registros na China foram passos preparatórios antes que a TuSimple EUA transfira dinheiro para aquelas subsidiárias na China.”
Esse tipo de transferências volumosas é descrito por Hou como “além do normal nas operações comerciais”, fazendo uma comparação com o auge da TuSimple China, quando operava uma grande frota de caminhões autônomos em Xangai e tinha cerca de 700 funcionários. Atualmente, diz-se que a TuSimple China conta com aproximadamente 200 empregados.
Com a janela de oportunidade para os acionistas, como Hou, para se recuperarem começando a se fechar, a pressão sobre a TuSimple aumenta. O cenário regulatório também traz algumas incertezas. Embora a empresa tenha sido deslistada, ela ainda permanece registrada junto à SEC, o que a subjuga à fiscalização nos Estados Unidos. Uma vez que o dinheiro seja transferido para a China, os acionistas americanos perderão a capacidade de reaver os fundos de seus investimentos iniciais.
O desenrolar da controvérsia e as observações da alta direção da TuSimple
A comunicação com a SEC por parte de veículos de mídia como o TechCrunch busca apurar se a agência está investigando a TuSimple em relação a queixas de acionistas. Por sua vez, Cheng Lu, CEO da TuSimple, não respondeu ao pedido de esclarecimentos sobre a potencial transferência de aproximadamente $150 milhões. Em declaração, Lu descreveu o pedido de restrição de Hou como uma “retaliação desesperada” contra a atual litígio da TuSimple contra a Bot Auto. O executivo também alegou que Hou é um CEO desgraçado, que tem tentado interromper as operações da empresa nos últimos dois anos e tentar levar a empresa à falência para poder se apropriar indevidamente de segredos comerciais.
Adicionalmente, a TuSimple havia solicitado uma própria ordem de injunção temporária contra a Bot Auto, mas um tribunal do Texas parece propenso a negar esses pedidos, já que a empresa não conseguiu sustentar suas alegações de forma convincente. O desfecho deste caso parece cada vez mais incerto, à medida que as partes envolvidas continuam a se confrontar em um ambiente jurídico tenso.