Nos últimos dias, o Festival de Cinema Camerimage, que acontece em Toruń, na Polônia, deixou em evidência a problemática da inclusão de mulheres nas funções de cinematografia. O diretor do festival, Marek Zydowicz, chocou o público ao proferir declarações que insinuavam que a presença de mulheres cinegrafistas poderia comprometer a qualidade das produções, gerando protestos e a ausência de notáveis como Steve McQueen e Coralie Fargeat, que decidiram não participar do evento em resposta aos comentários considerados sexistas.

Essas declarações criaram um clima de urgência para discutir a representação das mulheres no cinema, principalmente entre as cinegrafistas. Dados publicados pelo USC Annenberg Inclusion Initiative trazem uma visão alarmante sobre o cenário atual. Medindo a participação de mulheres em cargos de cinematografia em 465 filmes que arrecadaram pelo menos 1 milhão de dólares entre 2019 e 2023, os números são desanimadores. Apenas 21 produções contaram com mulheres cinegrafistas, totalizando alarmantes 4,5% do total, enquanto homens ocupavam as câmeras em 95,5% dos casos. Esta estatística não apenas ilustra uma disparidade gritante, mas também evidencia a resistência à mudança dentro da indústria cinematográfica americana.

Diante deste contexto, é apropriado perguntar: por que essa resistência persiste? O que se observa é uma clara tendência de subestimar a capacidade das mulheres, especialmente das mulheres de cor, no universo cinematográfico. Para exemplificar, apesar dos escores altos de filmes com mulheres como cinegrafistas em comparação com aqueles com homens — com médias de 66,1 e 58,9 pontos, respectivamente, segundo o Metacritic — a discussão permanece voltada para a necessidade de justificar a inclusão das mulheres na indústria, ao invés de focar em maneiras de aumentar sua representação.

Além disso, se considerarmos que a maioria das 21 produções com mulheres cinegrafistas também foram dirigir por mulheres ou homens de cor, vemos esse fenômeno refletido numa estrutura de oportunidades que, infelizmente, é bastante limitada. Apenas cinco diretores homens brancos colaboraram com mulheres cinegrafistas, o que demonstra uma necessidade crítica de diversificação nas vozes criativas que conduzem as narrativas de cinema. Assim, é válido perguntar: o que acontece com as histórias e perspectivas que são deixadas de fora? Não são essas vozes igualmente importantes para enriquecer a experiência cinematográfica?

O que resta, portanto, é uma missão clara: reconhecer talentos que têm sido ofuscados pela notória predominância masculina. A crítica sexism e a barreira de gênero no setor criam um ciclo vicioso que repele novas vozes. A presença de cinegrafistas mulheres não é apenas uma questão de igualdade de gênero, mas um impulso vital para a inovação e a criatividade no cinema. Chamar atenção para esse aspecto é essencial para iniciar um diálogo que promova mudanças.

Especificamente, ao questionar as premissas que fundamentam a ideia de que “cinematógrafo” equaciona-se a “masculino”, devemos integrar um entendimento de que o que realmente enriquece uma obra cinematográfica são as diferentes perspectivas e experiências que cada artista, independentemente de gênero ou raça, traz consigo. Portanto, é imprescindível encontrarem-se soluções práticas para transformar essas estatísticas deprimentes em histórias vibrantes e inclusivas, fazendo do cinema um espaço onde todas as vozes possam se expressar plenamente. Ao fim, a sociedade precisa ponderar: será que estamos prontos para ouvir e ver essas vozes? O tempo é agora.

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