O cenário do cinema sobre wrestling feminina ganhou um novo destaque com o lançamento de ‘Queen of the Ring’, um filme que narra a vida inspiradora de Mildred Burke, uma pioneira da luta livre feminina. Embora o termo “wrestling” possa evocar idéias de entretenimento tipicamente masculino, este filme apresenta uma visão fascinante sobre a força e a resiliência feminina que moldaram o esporte. A trama é baseada no livro de Jeff Leen, intitulado ‘The Queen of the Ring: Sex, Muscles, Diamonds, and the Making of an American Legend’, e promete não só contar a história de Burke, mas também iluminar uma era em que as mulheres precisavam lutar por seu lugar em um mundo dominado por homens.

A história começa com Mildred, interpretada por Emily Bett Rickards, conhecida por seu papel em ‘Arrow’. A trama nos apresenta Mildred como uma jovem mãe solteira trabalhando como garçonete em um restaurante de Kansas. Com grandes sonhos, mas ainda atada às suas circunstâncias, ela decide que o wrestling poderia ser sua saída. Essa transição de garçonete a lutadora é uma jornada rica em desafios e conquistas que não apenas cativa, mas também educa o público sobre o contexto social da época. Assim, Mildred se torna a primeira atleta feminina a ganhar um milhão de dólares, consolidando seu status de ícone.

Por meio de sua determinação e talento inegáveis, Mildred rapidamente se destaca em uma competição masculina, quebrando estereótipos de gênero e desafiando normas sociais. O filme, dirigido por Ash Avildsen, também explora sua relação com o promotor Billy Wolfe, interpretado por Josh Lucas. A história de amor deles, embora inicialmente intensa, é marcada por períodos de tensão e traição, refletindo a luta de Mildred não apenas dentro do ringue, mas também em sua vida pessoal.

Uma das críticas mais recorrentes sobre ‘Queen of the Ring’ é sua estrutura narrativa. Durante um painel no festival de cinema, Avildsen mencionou que o filme realmente poderia ter se beneficiado de um formato de minissérie, explicando que muito do conteúdo original foi cortado. Essa decisão resulta em uma narrativa episódica que, embora fascinante, às vezes faz com que a história pareça apressada. Com muitos personagens e subtramas, o espectador pode sentir dificuldade em acompanhar rapidamente as reviravoltas, especialmente na introdução de outros lutadores femininos, como Mae Young e June Byers. Para aqueles que estão acostumados com uma narrativa mais linear, esse aspecto pode ser um desafio.

Apesar dessas falhas, o filme ainda consegue manter a atenção do público por sua cinematografia impressionante e pelas emocionantes sequências de wrestling. A equipe de filmagem trabalhou meticulosamente para capturar a brutalidade e a beleza das lutas, levando a uma experiência visual cativante. As atuações são consistentes e, mesmo com um elenco diversificado, é Rickards que brilha como a protagonista – sua interpretação é ao mesmo tempo física e emocional, trazendo à vida a luta de Mildred tanto dentro quanto fora do ringue.

Sem dúvidas, ‘Queen of the Ring’ se destaca por ser um vislumbre histórico emocionante sobre uma fase pouco reconhecida da luta livre feminina. O filme não faz apenas isso, mas também reverbera a longa luta das mulheres na busca por reconhecimento e respeito em um ambiente onde o machismo ainda prevalece. Assim, ao acompanhar a vida de Mildred Burke, o espectador é convidado a refletir sobre o progresso que foi feito — e o que ainda precisa ser conquistado. Assim, a obra mantém-se relevante, fazendo jus ao legado da lutadora e inspirando novos fãs e lutadores a seguir seus sonhos, sem se deixar limitar por preconceitos.

No final das contas, ‘Queen of the Ring’ é mais do que uma simples biografia; é um tributo à força feminina. Os que assistirem poderão desfrutar não só de uma narrativa envolvente, mas também de um importante capítulo na história do esporte feminino, que, por algum tempo, foi ignorado. Com sua estreia no Fort Lauderdale International Film Festival, a película é uma ode a todas as mulheres que lutaram e continuam a lutar pelo seu espaço no wrestling e em muitas outras esferas da vida.

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