O documentário ‘Stella Stevens: The Last Starlet’, dirigido por Andrew Stevens, filho da atriz, é uma homenagem ao legado de sua mãe e à imagem que ele deseja resgatar perante o público. Apresentado recentemente no Fort Lauderdale International Film Festival, o filme revela o valor subestimado da atriz, destacando suas contribuições tanto nas telas quanto na sociedade, especialmente seus papéis marcantes em filmes como *A Aventura do Poseidon* e *O Professor Aloprado*. Ao longo da obra, o diretor usa uma mescla pecaminosa de clips de seus melhores trabalhos e comentários de figuras icônicas do cinema, como Quentin Tarantino e Vivica A. Fox, para fundamentar o argumento de que Stevens não recebeu o devido reconhecimento durante sua carreira.

O trabalho do diretor se destaca por enfrentar a dura realidade da relação tumultuada que teve com a mãe durante sua infância e juventude. Nascida em Yazoo City, Mississippi, Stella casou-se aos 16 anos e, apenas seis meses depois, deu à luz Andrew. Com o fim do casamento, a atriz mudou-se para Hollywood em busca de uma carreira na atuação, levando o filho com ela de forma clandestina. O que se seguiu foi uma batalha judicial marcante pela custódia que faria com que Andrew não tivesse um relacionamento verdadeiro com Stella até os 16 anos.

Dentre as sequências retidamente montadas neste tributo, o filme percorre a trajetória de Stella desde sua assinatura com a 20th Century Fox, onde a moldaram para ser a nova Marilyn Monroe, até seu êxito como uma das primeiras atrizes a protagonizar cenas de amor interracial no cinema, especialmente a emocionante sequência com Jim Brown no filme *Slaughter*. O filme não se esquiva de explorar os desafios que enfrentou, como o estigma de ser vista apenas como um símbolo sexual, uma impressão reforçada por sua aparição como a Playboy centerfold, da qual tentou remover as fotos, mas foi impedida por Hugh Hefner.

O documentário avança com detalhes curiosos e anedóticos sobre sua vida, incluindo um episódio em que seu colega de cena Bobby Darin teve uma ereção incontrolável durante uma cena de beijo, e revela a hesitação de Stella em trabalhar ao lado de Elvis Presley na produção *Garotas! Garotas! Garotas!*, um projeto que ela só aceitou após a promessa de que contracenaria com Montgomery Clift em um próximo filme que nunca se concretizou.

Além disso, a narrativa sugere que a ausência de uma menção justa a Stella na memória da Academia durante a cerimônia do Oscar reflete a falta de reconhecimento ao longo de sua carreira, especialmente considerando suas importantes contribuições ao gênero cinematográfico com sua forte presença cômica em diversos filmes, como *O Professor Aloprado* e *Como Arruinar um Casamento*. O filme ainda destaca seu papel em *A Balada de Cable Hogue*, dirigida por Sam Peckinpah, um trabalho que mesmo sendo recebido como um fracasso financeiro, garante a ela reconhecimento por sua atuação excepcional.

É notável a maneira como Andrew Stevens estrutura o documentário, utilizando comentários de cineastas e acadêmicos, como Leonard Maltin, para prover insights sobre a carreira de sua mãe, mas o grande destaque é mesmo Tarantino, que expressa seu admiração por Stevens com fervor. Ao apresentar o filme no festival, Andrew deixou claro que confiou a Tarantino a condução desse tributo, permitindo que o cineasta compartilhássemos seus pensamentos sobre o impacto que Stella teve sobre a indústria e sobre ele pessoalmente.

Enquanto sua carreira nos cinemas gradualmente declinava, o documentário ressalta que Stella nunca parou de trabalhar. Sua capacidade de adaptar-se a novos formatos incluiu a participação em diversos filmes diretos para vídeo e em séries de televisão, culminando com seu último trabalho em *Megaconda*, um filme que representa a sua determinação em permanecer ativa na indústria cinematográfica até os últimos dias de sua vida.

Por fim, o documentário vislumbra a vida de Stella Stevens, sua batalha contra a doença de Alzheimer, que a levou à morte em 2023, aos 84 anos. A conclusão é um apelo por um reconhecimento que deveria ter sido dado há muito tempo: uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, um tributo merecido para uma artista que, apesar das adversidades pessoais e profissionais, continuou a lutar e a brilhar. Com isso, *Stella Stevens: The Last Starlet* não apenas informa, mas também provoca reflexão sobre a importância do reconhecimento artístico e a luta por um legado justo.

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