Um novo estudo do Pew Research Center revela um dado alarmante e revelador: quase 40% dos jovens adultos americanos, na faixa etária de 18 a 29 anos, estão se informando principalmente através de influenciadores de mídias sociais. Essa tendência, que se afasta das fontes tradicionais de notícias, ilustra uma mudança significativa no comportamento informativo dessa faixa etária, que se sente cada vez mais atraída pelos comentários e análises de pessoas comuns que ganharam notoriedade online. O estudo destaca que a maioria desses influenciadores é composta por homens e tende a ter uma orientação política à direita, um elemento que desperta interesse e reflexão sobre o futuro do jornalismo e da informação na era digital.

De acordo com a pesquisa, enquanto um em cada cinco adultos nos EUA declarou que “regularmente” obtém suas notícias de influenciadores online, esse número salta para quase 40% entre os jovens adultos. Entre os que se informam através desses influenciadores, surpreendentes 65% afirmaram que esse conteúdo ajudou a moldar sua compreensão sobre os eventos atuais e questões cívicas. Essa situação é preocupação tanto para os jornalistas tradicionais quanto para os experts em comunicação, que observam com crescente inquietação essa nova dinâmica informativa.

O estudo do Pew, que analisou 500 influenciadores de notícias com mais de 100 mil seguidores e entrevistou 10.658 americanos sobre seus hábitos de consumo de informações, foi realizado ao longo de três semanas em julho e agosto, período que antecedeu as eleições presidenciais. Durante essa campanha, influenciadores de mídias sociais, incluindo podcasters como Joe Rogan e Alex Cooper, desempenharam um papel essencial nas estratégias de alcance eleitoral de figuras como a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump, que visaram influenciadores da chamada “manosphere” para conquistar diretamente o eleitorado masculino.

Galen Stocking, um dos cientistas sociais da pesquisa, comentou sobre a ascensão dos influenciadores de notícias, afirmando que eles surgiram como uma alternativa viável às fontes tradicionais de informação, especialmente para os jovens. A relevância crescente desses influenciadores se destaca ainda mais em um ambiente político acirrado, onde a conexão pessoal proporcionada por plataformas digitais pode facilmente superar a formalidade das instituições de notícias convencionais.

A pesquisa indicou que, em contraste ao que foi alegado por algumas vozes sobre a censura da direita nas mídias sociais, a maioria dos influenciadores de notícias tende a se inclinar para a direita política. O estudo registrou que 27% desses influenciadores se identificam explicitamente como republicanos ou pró-Trump, enquanto apenas 21% se dizem liberais. Essa discrepância foi mais pronunciada em plataformas como Facebook e Instagram, onde números consideráveis de influenciadores de perfil conservador superam seus congêneres progressistas.

As relações entre influenciadores e seus seguidores são estruturas distintas das que normalmente se encontram em organizações jornalísticas. Um surpreendente 77% dos influenciadores pesquisados afirmou não ter qualquer afiliação anterior ou atual a meios de comunicação tradicionais, resultando em um universo onde a maior parte das notícias é moldada por vozes sem treinamento formal em jornalismo. Essa situação levanta questões sobre a veracidade e o desempenho ético da informação disseminada.

Um dos desafios significativos que essa nova forma de informar apresenta está na forma como os influenciadores reportam os fatos. Muitas vezes, eles entrelaçam suas próprias opiniões com as notícias, apresentando-as às vezes como se fossem fatos consumados. Assim, o fluxo contínuo de “notícias” se confunde com postagens opinativas, ofuscando a linha que separa a reportagem da análise crítica.

Com as eleições se aproximando, o conteúdo político compartilhado por esses influenciadores tornou-se crucial para as campanhas eleitorais, já que eles utilizam suas bases de fãs significativas para dialogar com os eleitores indecisos. Diferente dos anúncios políticos em TV, os influenciadores não têm obrigação de declarar se foram pagos por um candidato para discutir um assunto relevante, o que gera outro nível de complexidade na ética da informação.

Contudo, o uso estratégico de influenciadores na campanha variou entre candidatos. O ex-presidente Trump, por exemplo, optou por interagir quase exclusivamente com influenciadores que não questionavam suas políticas ou histórico, formando assim uma narrativa favorável que moldou a percepção de milhões de jovens eleitores.

É digno de nota que a pesquisa do Pew revelou também um predomínio masculino entre os influenciadores de notícias, com 63% se identificando como homens e apenas 30% como mulheres, uma disparidade que se reflete em plataformas como Facebook e Instagram. Entretanto, o TikTok apresentou o menor desvio de gênero e, surpreendentemente, foi o único local onde os influenciadores conservadores não superaram os liberais, com muitos deles mostrando apoio a causas como os direitos LGBTQ.

Após as eleições, muitos usuários e figuras prominentes das mídias sociais deixaram o X, quando o proprietário Elon Musk adotou uma postura aberta em relação a Trump, espalhando alegações enganosas. Isso gerou movimento para plataformas concorrentes, como o Bluesky, que rapidamente conquistou espaço na App Store da Apple, impulsionado pela adesão de milhões de novos usuários. Com essa conversão de estruturas digitais, vemos um quadro em que a maneira como a informação é compartilhada e consumida continua a evoluir – uma dinâmica que certamente terá implicações significativas para o futuro do jornalismo.

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