Uma derrota de 2-1 para a Dinamarca, uma derrota de 2-1 para a Finlândia e um empate de 1-1 com a Letônia; para a maioria das seleções de futebol, estes seriam resultados que indicariam uma fase ruim, passando longe das esperanças de seus torcedores, e possivelmente um sinal de que a equipe busca um novo treinador. No entanto, para a seleção de San Marino, esses resultados são considerados alguns dos melhores da história do país, que é amplamente reconhecido como a seleção mais mal classificada do mundo. Desde sua estreia em 28 de março de 1986, San Marino jogou 216 partidas, nos quais perdeu todas, exceto 14, conquistando apenas três vitórias.

A melhor posição já alcançada pela equipe, conhecida como La Serenissima, no ranking da FIFA foi a 118ª colocação em setembro de 1993. Desde então, a seleção experimentou um declínio constante, além de quedas acentuadas e extraordinárias, com a última vez que não esteve na última colocação do ranking há mais de três anos, situando-se em 209ª posição por apenas 35 dias. É, inegavelmente, a seleção nacional de futebol mais fraca do mundo, segundo as estatísticas.

“Você faz o seu melhor sempre que pode, mas se o adversário estiver em um bom dia, então eles podem fazer o que quiserem com você”, comentou o defensor Dante Rossi em entrevista. San Marino, um microestado com apenas 33.600 habitantes, está localizado dentro da Itália. Para se ter uma ideia, se fosse uma cidade dos Estados Unidos, teria aproximadamente a 1.400ª posição em termos de população.

A república é reconhecida por suas belíssimas paisagens, por suas famosas tortas e por ser a mais antiga república do mundo ainda existente. No entanto, não é lembrada por sua habilidade no futebol. Essa ineficácia foi um desafio constante para atletas como Marcello Mularoni, um dos principais jogadores de San Marino, que se aventura entre a carreira de jogador e de consultor de negócios. Com 48 jogos pela seleção, Mularoni já encarou adversários como Itália e Inglaterra, e recentemente foi capitão pela primeira vez.

Mularoni explica que a maioria do time é composta por jogadores semi-profissionais que conciliam suas vidas profissionais com os treinos para a seleção. Com uma equipe formada por trabalhadores de escritório, personal trainers, estudantes e até mesmo um designer gráfico, apenas um jogador, Nicola Nanni, é profissional em tempo integral, atuando pelo Torres na Série C, a terceira divisão italiana. Mularoni descreve a peculiaridade de viver essas duas vidas: “É estranho. Durante o dia, você se concentra no seu trabalho e, então, precisa mudar para o treinamento. Se você está cansado, ainda precisa treinar. Fazemos isso por paixão e pela grande oportunidade de enfrentar jogadores como (Jude) Bellingham, nossos ídolos que vemos na TV, como se fossem amigos normais.”

Mularoni ainda frisou a necessidade de ter respeito com seus chefes, já que durante o ano o time disputa muitas partidas, o que pode afastá-los de seus compromissos profissionais. Rossi, também, observou a dificuldade que a equipe enfrenta devido à falta de dedicação plena ao futebol, citando que a maioria dos jogadores tem ocupações que consomem seus tempos e atenção. “Temos muitas pessoas no elenco que trabalham ou estudam. Isso consome muito tempo e, sem dúvida, nossa concentração,” afirmou Rossi.

refletindo sobre as dificuldades

O cenário se torna ainda mais difícil quando se considera a série de humilhações que a equipe sofreu. Entre 2006 e 2023, San Marino tinha o indesejado recorde de maior derrota na história das eliminatórias da UEFA para o Campeonato Europeu, com uma impressionante derrota de 13-0 para a Alemanha. Momentos como esses podem fazer qualquer jogador se perguntar o que significa realmente fazer parte de uma equipe que venceu apenas uma de suas primeiras 210 partidas, essa uma vitória sendo um 1-0 sobre Liechtenstein em um amistoso em 2004. É onde os sentimentos de orgulho e tristeza se entrelaçam, e cada derrota se torna uma lição.

“É muito difícil de entender, porque o futebol é um esporte em que a coisa mais importante – às vezes a única – é vencer e se tornar campeão”, explicou Rossi. No entanto, para ele, em uma equipe como a de San Marino, a persistência é a chave. “Todos têm que olhar para sua própria realidade e o que podem fazer com ela, mesmo nas pequenas coisas”. Essa perspectiva não se limita apenas aos jogadores, mas também aos torcedores, que se tornam parte da história que a seleção está escrevendo.

um empurrão dos torcedores

Os torcedores aprendem a manter-se otimistas, mesmo que um pouco de autodepreciação não esteja de todo fora de questão. Uma conta de torcedores no X, anteriormente Twitter, @SanMarino_FA, conseguiu reunir 182 mil seguidores – mais de cinco vezes a população total do país – com uma abordagem humorística sobre o que é torcer por uma equipe que enfrenta constantes derrotas. Em uma entrevista, Martino Bastianelli, o administrador da conta, riu e disse: “É uma montanha-russa!” e brinca ao afirmar que, apesar dos reveses, sempre espera: “Talvez hoje seja o dia”.

Um dos grupos de apoio que se destaca entre os torcedores é a Brigata Mai 1 Gioia – ou “Brigada Nunca Uma Alegria”. Christian Santini, um membro da Brigata, compartilhou em tom de brincadeira: “Nós somos doidos porque somos torcedores de San Marino”, ao mesmo tempo em que reforça a ideia de apoio a uma equipe que raramente vence. Ele não é residente de San Marino, mas viaja da costa oeste da Itália para acompanhar a equipe, e entre os membros estão pessoas de vários países, incluindo um bávaro que se desloca de Munique. “Essas são pessoas malucas. Simples”, acrescentou.

Essa leveza e humor da Brigata são igualmente acompanhados por um profundo respeito por seus jogadores. Eles apoiam a seleção porque veem neles aqueles que trabalham duro durante a semana. Tanto Santini quanto Bastianelli demonstram que, mesmo vivenciando frequentes derrotas, a paixão pelo futebol e pela equipe sempre prevalece.

a vitória finalmente chegou

Após 38 anos, a possibilidade de vencer uma partida foi finalmente alcançada em 5 de setembro. Nadando em um mar de expectativas e um espírito renovado, a equipe se preparou para enfrentar Liechtenstein novamente, em um encontro de seleções similares. O sentimento era diferente; a confiança emanava de cada jogador.

“Antes do jogo contra Liechtenstein, eu podia ver nos olhos dos meus companheiros que eles acreditavam”, afirmou Mularoni. O momento culminou na primeira vitória competitiva de San Marino, um yay pela entrada em um novo capítulo na história da seleção. Com uma solidão única, os jogadores celebraram enquanto Rossi descreveu a emoção: “Quando o árbitro apitou, tudo parou, como um filme.”

um novo amanhecer

Meses depois, em 18 de novembro, a equipe fez história novamente, conquistando sua primeira vitória fora de casa também contra Liechtenstein. Essa nova vitória trouxe recordes, incluindo o primeiro triunfo em solo adversário e a marca histórica de três gols em um único jogo. Esse feito foi um exemplo do que o trabalho em equipe, a fé e a perseverança podem alcançar, mesmo para aqueles que partiram de um terreno sob intenso desafio.

“É um sonho após anos de sacrifício”, celebrou Mularoni, trazendo à tona as aspirações de todos aqueles ao redor da seleção de San Marino. Não é só uma jornada de derrotas e desafios; é uma história digna de ser contada, de um time que, mesmo nos momentos mais difíceis, nunca deixou de sonhar. Ferrari e outras lendas do futebol permanecem como ícones de superação, e agora essas glórias são compartilhadas por todos os envolvidos na história atual de San Marino.

Os jogadores de San Marino, que incessantemente lutaram e sofreram, agora celebram sua vitória, e a expectativa de sua próxima jornada se torna a esperança de um futuro promissor, onde as histórias de vitória possam, finalmente, igualar até mesmo os desafios mais difíceis do passado.

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