Sobreviventes e familiares das vítimas do trágico tiroteio em massa no Club Q, em Colorado Springs, que ocorreu em 2022, decidiram dar um passo audacioso e processaram a Comissão do Condado de El Paso, assim como outras autoridades locais. Os demandantes argumentam que as autoridades poderiam ter evitado essa tragédia caso tivessem aplicado efetivamente a chamada “lei de alerta vermelho” contra o atirador, conhecida formalmente como Ordem de Proteção de Risco Extremo. Esta ação legal foi registrada exatamente dois dias antes do segundo aniversário do ataque, uma estratégia que parece não só garantir visibilidade a um problema angustiante como também busca justiça pelos danos irreparáveis causados.
Duas ações judiciais foram protocoladas em 17 de novembro. Uma delas foi apresentada pelas famílias das vítimas fatais e por cinco sobreviventes do ataque, enquanto a segunda foi iniciada por Barrett Hudson, um sobrevivente que sofreu sete ferimentos por bala. Ambas as ações estão tramitando no Tribunal Distrital dos Estados Unidos.
Os processos afirmam categoricamente que “o atirador possuía um histórico de ameaças violentas e comportamentos que claramente justificavam uma intervenção”, relevando uma crítica grave ao que consideram falhas na aplicação da lei.
A lei de alerta vermelho, que permite que familiares, companheiros de quarto ou autoridades solicitem a um juiz a apreensão temporária de armas de fogo de um indivíduo que representem risco, foi promulgada em 2019. O processo alegou que, inexplicavelmente, as autoridades de El Paso se omitiram em fazer uso dessa lei, mesmo diante do histórico preocupante do atirador.
Em 2019, um ano antes da implementação da lei, a Comissão do Condado de El Paso aprovou uma resolução que declarou o local como um “santuário de Segundo Emenda”, onde se comprometiam a “resistir ativamente” a políticas que consideravam como transgressão dos direitos garantidos pela Segunda Emenda da Constituição Americana.
O então xerife do Condado de El Paso, Bill Elder, manifestou publicamente sua oposição à nova legislação, afirmando que a aplicação da lei de alerta vermelho seria um desrespeito ao devido processo legal. Ele faz parte das pessoas citadas no processo. É interessante notar que ele figurou entre cerca de uma dúzia de xerifes que na época se colocaram contra a lei.
No ano seguinte, em 2020, o Escritório do Xerife declarou que, sem fundada causa e um mandado de busca assinado, seus membros não realizariam buscas por armas de fogo. Uma posição que ressaltava o respeito dos agentes às supostas garantias constitucionais dos cidadãos.
Os processos alegam que a inação deliberada de Elder “criou ou aumentou o risco” ao permitir que o atirador mantivesse acesso a armas e materiais que facilitariam a prática de violência em massa, desconsiderando os antecedentes legais e o comportamento do atirador que já envolvia ameaças recusadas e intenções explícitas de cometer um ataque desse tipo.
Vale ressaltar que, em 2021, o atirador foi acusado de ameaçar pessoas com uma bomba e de sequestro, mas as acusações foram posteriormente retiradas e os registros de tais alegações foram selados, o que levanta questionamentos sobre a transparência e a responsabilidade do sistema legal.
A investigação em torno do incidente reforça ainda mais as acusações ao afirmar que “Elder sabia ou deveria saber que o pedido do atirador para recuperar suas armas indicava uma ameaça contínua e crescente”. Essa revelação é desconcertante, considerando o papel crucial do xerife na prevenção de crimes violentos.
O processo sustenta que “essa inação deliberada permitiu que o atirador tivesse acesso contínuo a armas de fogo, habilitando diretamente o ataque ao Club Q”, uma afirmação que ecoa o desespero e a revolta dos familiares e sobreviventes.
Ainda mais pressionados pela situação, as famílias e os sobreviventes também processaram o próprio Club Q e seus proprietários, alegando que a casa noturna permitiram lacunas na segurança do local, mesmo diante do aumento da conscientização sobre a necessidade de maior segurança em clubes voltados à comunidade LGBTQIA+.
Ambas as ações judiciais alegam que, nos anos que antecederam o tiroteio, o Club Q reduziu sua equipe de segurança de cinco funcionários, incluindo um segurança armado, para apenas um funcionário, que também acumulava funções como garçom e ajudante de bar.
Em busca de respostas, a CNN entrou em contato com o Condado de El Paso, o Escritório do Xerife do Condado de El Paso, Elder e o Club Q para uma declaração. O xerife se manifestou, por meio de uma fonte associada, que não fará comentários sobre os processos.
Esse ataque brutal resultou na morte de cinco pessoas: Daniel Aston, Raymond Green Vance, Kelly Loving, Ashley Paugh e Derrick Rump, além de ferir outras 19. O horror do evento ainda ecoa na comunidade, levantando discussões sobre a violência armada e a necessidade urgente de discutir políticas mais eficazes.
Anderson Lee Aldrich, que cometeu o crime, se declarou culpado de uma série de acusações, tanto estaduais quanto federais, assegurando sua permanência na cadeia por toda a vida. Enquanto isso, familiares e sobreviventes lutam por justiça, buscando respostas e tentando garantir que tragédias como essa não voltem a ocorrer.