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Recentemente, o festival de cinema Camerimage proporcionou uma visão fascinante sobre a produção do filme ‘Emilia Pérez’, em particular em relação à desafiadora cena final. O diretor de fotografia Paul Guilhaume compartilhou detalhes sobre como essa cena culminante foi planejada e filmada, oferecendo uma visão detalhada do processo criativo envolvido nas complexidades de trazer essa narrativa à vida nas telas. Neste artigo, exploraremos a fundo a produção cinematográfica deste filme aclamado, ilustrando não apenas os desafios enfrentados, mas também as inovações tecnológicas utilizadas, que fazem parte do que é considerado um marco na cinematografia contemporânea.
A trama de ‘Emilia Pérez’ gira em torno de Emilia, que é abordada de maneira emocionante quando é mantida refém por sua ex-esposa Jessi, interpretada por Selena Gomez, e o novo amante Gustavo, vivido por Edgar Ramírez. A chegada de Rita, que é interpretada por Zoe Saldaña, marcando o início de uma troca de reféns, desencadeia uma sequência intensa de eventos. Durante essa troca, uma troca de tiros eclode, revelando a verdadeira identidade de Emilia através de uma canção, tornando a cena uma reflexão poderosa sobre identidade e transformação. Guilhaume destacou que essa sequência foi uma das mais difíceis de filmar, refletindo não apenas o conteúdo da cena, mas também o esforço tecnológico e narrativo que a sustenta.
O ato final do filme é marcado por uma operação noturna destinada a resgatar Emilia. Guilhaume revelou que embora grande parte do filme tenha sido filmada em um estúdio na França, as sequências no deserto foram capturadas em uma pedreira, com extensões de fundo adicionadas na pós-produção. Essa multiplicidade de locais e condições apresentou o desafio de manter a continuidade visual e a energia da cena, uma tarefa na qual Guilhaume se destacou ao equilibrar a estética entre o realismo sombrio e a leveza musical característica do filme.
A cinematografia para essa sequência estava profundamente inspirada na necessidade de evocar a sensação de uma noite envolvente e sombria, que contrastava fortemente com a iluminação clara da primeira parte do filme. Guilhaume explica que eles optaram por uma abordagem semi-translúcida no teto do cenário, permitindo uma iluminação que parecia vir de nenhuma parte específica, permitindo que a cena girasse em torno da peça e de seus personagens. As tomadas externas foram igualmente desafiadoras, com uma estrutura de iluminação de 200 pés montada em um guindaste, permitindo um controle preciso sobre a queda da luz nos fundos.
Um dos momentos favoritos de Guilhaume durante a filmagem foi quando filmaram Rita e os soldados se preparando para o ataque. A câmera se posicionou estrategicamente do lado de fora da sala, capturando a expectativa com um zoom suave que encerrava o foco no rosto de Rita, expressando sua emoção e ansiedade. Essa contínua movimentação da câmera dá ao espectador a sensação de que os eventos estavam inevitavelmente se desenrolando, capturando a tensão de uma situação já prevista.
Guilhaume compartilha que desejava que o filme fosse um mix do leve senso musical com um realismo sombrio; algo que remetessem a uma estética de palco operático, porém incluindo elementos modernos de iluminação, como LED e projeções, conferindo um toque contemporâneo à narrativa visual. A paleta de cores elétrica do filme foi cuidadosamente escolhida, harmonizando-se com o figurino e a composição do cenário. Ele enfatiza que em todas as cenas noturnas, teve total liberdade para explorar a escuridão, desde que os rostos dos atores fossem iluminados, resultando em ambientes saturados com tons profundos de vermelho e verde, quase evitando tons pastéis durante todo o filme.
Para a filmagem, Guilhaume optou pela câmera Sony Venice devido à sua sensibilidade à luz, utilizando principalmente uma única câmera, com apenas algumas exceções em que uma segunda máquina foi usada. As lentes Blackwing7 ajudaram a alcançar um equilíbrio perfeito entre estilo e suavidade, evitando a aparência excessivamente digital. Durante a pós-produção, o colorista Arthur Paux utilizou texturas que faltavam nas filmagens transmitidas digitalmente, finalizando o filme de forma a manter uma sensação de continuidade, mesmo ao transitar entre os diversos ambientes.
Todas as cenas foram meticulosamente planejadas — Guilhaume possuía um caderno com uma centena de páginas de ideias detalhadas — embora sempre tivessem a flexibilidade necessária para improvisar, um reflexo da abordagem estética de Audiard, que vê a cinematografia como um movimento contínuo. Segundo ele, nada deve ser excessivamente estático, visto que um elemento da imagem deve conter movimento, seja através da câmera, da iluminação ou da performance dos atores.
A produção de ‘Emilia Pérez’ é um exemplo eficaz de como a iluminação e a cinematografia podem potencializar a narrativa de um filme, transcendendo a simples contação de histórias para criar uma experiência visual impactante que ressoa com o público, transformando-o em um formidável meio de expressão artística.
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