Na mais recente escalada de apoio militar da administração Biden à Ucrânia, um oficial americano confirmou que o governo dos Estados Unidos começará a fornecer minas antipessoais controversas ao país europeu, que está em guerra com a Rússia. Essa decisão, que foi tornada pública na última terça-feira, levanta questões significativas sobre as implicações dessa medida, não só para a Ucrânia, mas também para os civis afetados pelo uso desse tipo de armamento. As restições sobre o uso de armas por parte da Ucrânia foram reduzidas, permitindo ações mais ousadas contra as forças russas.
As minas antipessoais, também conhecidas como APLs, são projetadas para serem utilizadas contra pessoas, ao contrário de veículos, e têm como objetivo dificultar o avanço das forças terrestres inimigas. Segundo o oficial, essas minas são consideradas úteis na defesa da Ucrânia contra os avanços das tropas russas na região oriental do país, onde o conflito tem sido mais intenso. Contudo, é importante destacar que o governo dos Estados Unidos buscou compromissos da parte ucraniana em relação ao uso dessas minas, com a intenção de limitar os riscos aos civis. O oficial enfatizou que os ucranianos se comprometeram a não empregar essas minas em áreas densamente povoadas por civis, uma salvaguarda que visa proteger vidas inocentes em um cenário já tão devastador pela guerra.
Uma diferença crucial entre as APLs fornecidas pelos EUA e as milhares de minas terrestres que estão sendo empregadas pelas forças russas é que as minas americanas são classificadas como “não persistentes”. Isso significa que elas se tornam inertes após um determinado período de tempo, que varia de quatro horas a duas semanas. Essa característica é uma tentativa de mitigar o problema das minas que permanecem ativas e perigosas por anos após os conflitos, uma realidade que assombra muitas regiões que enfrentaram guerras recentes. Estas minas são ativadas eletricamente e requerem uma fonte de bateria para detonarem; uma vez que a bateria se esgota, elas não causam mais danos. Essa abordagem pode ser vista como uma resposta às críticas sobre o uso de armas que têm um impacto prolongado em populações civis desprotegidas.
O mesmo dia em que foi anunciada essa nova ajuda militar, marcava 1.000 dias desde a invasão da Rússia à Ucrânia. O evento foi oportuna para a divulgação de uma informação de que o presidente Biden havia decidido levantar algumas das restrições anteriormente impostas sobre o uso de armamentos fornecidos pelos EUA, possibilitando que a Ucrânia procedesse com ataques mais profundos em território russo. Tal decisão, embora controversa, reflete a intensificação da postura de suporte militar dos Estados Unidos à Ucrânia em um cenário que permanece dividido e tenso.
Além disso, informações sobre o uso ativo dos sistemas de mísseis ATACMS fornecidos pelos EUA foram confirmadas, indicando que a Ucrânia está, de fato, utilizando essas capacidades em operações dentro da Rússia. O conflito tem sido marcado por uma quantidade alarmante de minas, com a Ucrânia se tornando uma das nações mais afetadas no mundo em um cenário de guerra desde a invasão russa em 2022. A proliferação de APLs, que muitas vezes recebem nomes que soam inofensivos, como “borboleta” ou “pétala”, pois se dispersam como pétalas de flores quando são lançadas do ar, é uma triste realidade do contexto de combate que a Ucrânia enfrenta. Essa nova remessa de minas, portanto, adiciona mais um nível de complexidade ao já caótico cenário do conflito.
Diversos especialistas têm alertado que a disseminação de minas pelos campos de batalha pode ser devastadora. De acordo com Pete Smith, gerente do programa da HALO Trust na Ucrânia, as APLs são frequentemente espalhadas de forma eficaz e indiscriminada, ascendendo a centenas por vez, e podem permanecer em lugares difíceis de detectar durante vários anos. Elas podem repousar em telhados, nas calhas das ruas e em diversos outros locais onde podem não ser percebidas, aguardando um momento vulnerável para causar danos a civis despreparados que retornam às áreas afetadas.
Ainda que existam tratados internacionais, como a Convenção sobre a Proibição de Minas Antipessoais, a qual já conta com a assinatura de 164 nações, incluindo a Ucrânia, países como a Rússia e os Estados Unidos não se comprometeram com essa proibição. Essas dinâmicas permanecem em evidência desde que o então presidente Donald Trump reverteu uma política da administração Obama que impedia o uso de APLs fora da Península Coreana. A atual política de Biden reinstaurou este banimento, embora com exceções para defesa na Coreia do Sul, evidenciando a complexidade das decisões políticas que permeiam as ações bélicas.
Em conclusão, a decisão dos EUA de fornecer minas antipessoais à Ucrânia é um reflexo das severas realidades do conflito em andamento e da urgência em apoiar um aliado em tempos difíceis. Contudo, essa estratégia traz à tona um debate essencial e necessário sobre a ética do uso de tais armamentos, principalmente em um ambiente onde a segurança civil é constantemente ameaçada. O equilíbrio entre a defesa efetiva e a proteção dos inocentes continua a ser um desafio, especialmente à medida que as consequências do conflito se desdobram.