Undercover: Exposing the Far Right, um documentário investigativo sobre as atividades do grupo britânico Hope Not Hate, finalmente fez sua estreia no festival, sendo exibido na seção Frontlight do 2024 Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IFDA).
Dirigido por Havana Marking, o documentário revela as atividades de uma rede de extrema direita no Reino Unido que promove a chamada “ciência racial” e seus vínculos com Andrew Conru, um investidor do Vale do Silício. Originalmente, o filme seria exibido no Festival de Cinema de Londres, mas foi retirado do cronograma às vésperas do evento por motivos de segurança. As preocupações estavam ligadas a possíveis represálias de grupos de extrema direita abordados no filme.
O diretor Marking expressou sua decepção com a retirada do filme, afirmando que a decisão foi baseada em um medo sem fundamentos, uma vez que nenhuma ameaça concreta estava presente. Ela acredita que a crescente audácia da extrema direita fará com que eventos similares se tornem cada vez mais comuns, criando um ciclo de intimidação que pode ser prejudicial para o ambiente cultural.
Com a produção levando mais de dois anos, o documentário investe em uma jornada em que os ativistas da Hope Not Hate infiltram movimentos de extrema direita. O filme analisa a forma como esses extremistas combinam violência com campanhas sofisticadas nas redes sociais para disseminar suas reivindicações pseudocientíficas sobre superioridade racial. A produção, que foi exibida no Reino Unido no dia 21 de outubro, teve um impacto significativo na realidade, levando Andrew Conru a retirar seu apoio à Fundação de Diversidade Humana após a revelação de que ele havia doado mais de um milhão de dólares ao grupo eugênico. Além disso, o influente extremista Stephen Christopher Yaxley-Lennon, conhecido como Tommy Robinson, foi condenado com base em evidências apresentadas pela Hope Not Hate e atualmente cumpre uma pena de 18 meses de prisão.
Marking também destacou que o fortalecimento de partidos políticos de extrema direita, tanto na Europa quanto nos EUA, pode dificultar o financiamento e o lançamento de documentários críticos, como Undercover, no futuro. “As emissoras de serviço público estão se tornando mais avessas a riscos e preocupadas em ofender quem está no governo, temendo a perda de financiamento”, afirmou.
A forma como a recepção do filme mudou após as vitórias eleitorais do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, também foi abordada por Marking. A diretora viu um aumento na dificuldade em vender o filme para festivais e compradores americanos desde a primeira administração de Trump, onde a aversão ao risco se tornou uma norma do setor.
“Alguns festivais europeus estão se posicionando como resistência política ao Trump e à extrema direita”, comentou, acrescentando que iniciativas de apoio na Europa estão crescendo e que a necessidade de produções políticas se tornou mais urgente do que nunca. Marking ressalta, entretanto, a crescente sensação de temor entre festivais menores em regiões como a Alemanha Oriental, onde o partido de extrema direita AfD agora controla o financiamento estatal municipal, o que os torna mais cautelosos na seleção de filmes.
Por fim, Marking disse que o reconhecimento e a audiência para o filme têm sido surpreendentes, recebendo elogios tanto da crítica de esquerda quanto de direita, assim como uma participação de público que se mostrou corajosa. Ela destacou a importância de produzir conteúdo que enfrenta o racismo, a islamofobia e o antissemitismo, afirmando: “Não podemos ser neutros sobre o racismo”.
O impacto e a discussão que Undercover provoca são de extrema relevância, especialmente em um momento em que o extremismo se torna uma preocupação crescente. O filme não apenas apresenta informações sobre os grupos de extrema direita, mas também busca provocar uma reflexão sobre o papel das instituições e a responsabilidade de todos na luta contra a discriminação e a intolerância.