Recentemente, o exército israelense** deu um passo significativo ao emitir 1.126 mandados de prisão contra conscritos ultraortodoxos que não atenderam às ordens de recrutamento. Esta ação, que promete intensificar a tensão social no país, surge em meio a uma decisão controversa que revoga a isenção de serviço militar que esses grupos religiosos desfrutaram por décadas. A mudança é acompanhada por um contexto turbulento de conflito militar e crescente pressão sobre a força armada israelense.
No último relatório apresentado pelo Brig. Gen. Shay Tayeb a uma comissão parlamentar, ele revelou que os conscritos que ignoraram as convocatórias seriam inicialmente contatados para um lembrete formal de seu dever militar. O não comparecimento a esse chamado poderá levar à convocação imediata ou à declaração de evasão, o que acarreta restrições de viagem para o indivíduo e a possibilidade de prisão se abordado pela polícia.
A decisão do governo de buscar a inclusão dos ultraortodoxos no serviço militar ocorreu após mais de um ano de confrontos em Gaza e uma operação terrestre no Líbano, que exigiram um maior contingente de soldados. Contudo, essa estratégia recebeu críticas e resistência da comunidade ultraortodoxa, que tem um papel vital no suporte ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A polêmica em torno da isenção militar começou a borbulhar com uma sentença do Supremo Tribunal em junho, que considerou ilegal a continuidade da isenção concedida aos judeus ultraortodoxos. Desde então, as autoridades israelenses enviaram 3.000 ordens de recrutamento, e o novo Ministro da Defesa, Israel Katz, anunciou um adicional de 7.000 ordens previamente aprovadas por seu antecessor. Porém, mesmo com essas medidas, Tayeb observou que a inclusão de 10.000 conscritos ultraortodoxos pode não ser suficiente para suprir as necessidades do exército, considerando as baixas que têm ocorrido.
No meio desse cenário, a oposição política também entrou em cena, com o líder da oposição, Yair Lapid, convocando o governo a agir rapidamente para emitir as ordens adicionais e reforçar as ações contra aqueles que não se apresentarem. Ele afirmou que essa é uma avaliação crucial que revelará quem apoia os combatentes e quem se alia aos evadores de serviço.
A resposta da comunidade ultraortodoxa e os protestos nas ruas
Em resposta às novas ordens de recrutamento e à iminente aplicação da lei, a comunidade ultraortodoxa expressou um crescente descontentamento, que culminou em protestos turbulentos. No último domingo, confrontos eclodiram entre a polícia e manifestantes em Bnei Brak, uma cidade predominantemente ultraortodoxa perto de Tel Aviv. Os manifestantes ergueram cartazes com frases impactantes, como “é melhor morrer como um judeu religioso do que viver como um judeu secular” e “morte antes da convocação”. Tais demonstrações revelam uma divisão profunda na sociedade israelense, onde muitos acreditam que todos os cidadãos judeus devem participar das forças armadas, especialmente em tempos de guerra.
Um dos manifestantes, Yona Kaye, articulou as preocupações da comunidade ao afirmar que a juventude está nas ruas porque o governo israelense está tentando recrutar jovens religiosos. Segundo Kaye, a história judaica está repleta de casos onde judeus sacrificaram suas vidas para manter sua fé, enfatizando a crença de que muitos estão dispostos a enfrentar pena de prisão em vez de servir no exército, o que, segundo eles, significaria renunciar à sua religião.
Essa situação destaca um profundo dilema enfrentado pela sociedade israelense. A comunidade ultraortodoxa, que tradicionalmente se afasta do militarismo, acredita que seus jovens devem se dedicar integralmente ao estudo religioso, em vez de serem puxados para uma estrutura militar que consideram incompatível com suas crenças. Desde a fundação de Israel, acordos haviam garantido a isenção de certas classes da juventude ultraortodoxa, no entanto, a explosão demográfica dessa comunidade aumentou a pressão para que as autoridades religiosas e políticas busquem um entendimento sobre o recrutamento.
As repercussões dessa situação são complexas, já que muitos israelenses estejam começando a questionar a equidade do sistema de recrutamento militar. Enquanto a nação tenta lidar com seus desafios de segurança, permanece a ansiedade sobre como a sociedade pode unir-se em torno de uma estrutura de defesa que seja aceita por todos os setores da população. O que pode parecer uma clara questão de defesa civil, entrelaça-se drasticamente com as questões de identidade cultural e religiosa, revelando um concerto delicado onde fé e dever se encontram.
À medida que o debate sobre o recrutamento continua, com um cenário interno fervente e a necessidade externa de segurança, os desdobramentos futuros podem alterar não apenas a dinâmica política do país, mas também o próprio tecido da sociedade israelense.