Multidões de usuários reagem à substituição forçada do software em meio a proibição governamental
No final de setembro, a Kaspersky, empresa russa reconhecida no setor de segurança cibernética, procedeu de forma controversa ao desinstalar seu software antivírus de cerca de um milhão de computadores de usuários americanos, substituindo-o por um novo produto chamado UltraAV. Tal ação gerou surpresa e indignação entre os usuários, que não haviam dado consentimento para a alteração de software em seus dispositivos. Essa mudança radical foi impulsionada por uma proibição imposta pelo governo dos Estados Unidos, que vetou todas as vendas de software da Kaspersky no país. Embora essa medida, em teoria, represente o fim da operação da Kaspersky na América, a realidade se revela mais complexa, já que muitos usuários ainda buscam formas de contornar a proibição e continuam a utilizar o software russo em seus sistemas.
Relatos de usuários nos Estados Unidos, publicados em plataformas como o Reddit, revelam que há uma significativa parcela de americanos disposta a manter seu relacionamento com a Kaspersky, mesmo após a implementação da proibição. As motivações são variadas: desde dúvidas sobre os fundamentos da proibição até o sentimento de que já investiram financeiramente nos produtos da empresa e, consequentemente, não desejam abandoná-los. Um usuário identificado como Blippyz, que compartilhou sua experiência com o TechCrunch, afirmou que “é bem conhecido que é o melhor [antivírus] do mundo e tem um longo histórico. Não há evidências concretas de que seja ‘spyware’, e não posso simplesmente acreditar em algo que não possui suporte factual”. Essa postura ilustra um ceticismo crescente entre alguns usuários que desconfiam das alegações que envolveram a proibição.
Outro usuário, com o nick YouKnowWho_13, que reside em Nova York, destacou sua indiferença em relação às acusações de que a Kaspersky havia utilizado sua posição de acesso aos computadores para coletar dados sensíveis a favor do governo russo. Ele afirmou que, como um simples caixa, se sente alheio a esse tipo de atenção e considera a proibição das vendas de Kaspersky como “um pouco severa” e desnecessária. “Estou habituado a usar isso há 10 anos. É um bom produto e uma questão de hábito”, desabafou. Esse tipo de resistência evidencia que, apesar das restrições legais, muitos usuários não estão prontos para abrir mão de produtos com os quais se familiarizaram ao longo do tempo.
As estratégias adotadas por esses usuários para contornar a proibição são notáveis. Em primeiro lugar, muitos adquiriram suas licenças ou chaves antes do veto, evitando, assim, o envio de dinheiro para a Kaspersky e se mantendo dentro da legalidade. Em segundo lugar, a utilização de uma VPN (Rede Privada Virtual) se torna um recurso chave, assim como a adição manual de um servidor fora dos EUA à lista de servidores de atualização, permitindo que esses usuários continuem recebendo atualizações e serviços da Kaspersky como se não fossem baseados nos Estados Unidos. A Kaspersky não comentou os relatos após a solicitação do TechCrunch.
Avi Fleischer, um usuário de longa data da Kaspersky que vive em Brooklyn, NY, enfatizou que permanece utilizando o software em seu computador residencial, ressaltando que, embora o “Kaspersky Security Network” não esteja mais disponível devido à proibição, ele conseguiu continuar recebendo atualizações para definições de vírus ao redirecionar o servidor de atualização para fora dos Estados Unidos. “Agora ele é capaz de atualizar as definições de vírus automaticamente”, afirmou. Outra abordagem interessante foi compartilhada por YouKnowWho_13, que comprou sua chave de licença internacional no eBay, e, assim como outros, adicionou um servidor de atualização fora dos Estados Unidos na aplicação da Kaspersky, garantindo assim que as atualizações de segurança continuem a ocorrer sem interrupções.
À medida que as conversas no Reddit se intensificam, muitos usuários revelam seus planos futuros em relação ao software. Das1996, outra voz que se manifestou, mencionou que está utilizando uma VPN para obter atualizações e possui uma chave de licença que expira em cerca de três ou quatro meses, enfatizando que se a opção de VPN continuar eficaz, pretende se manter com a Kaspersky. Por outro lado, Domingothegamer, que solicitou ajuda em um fórum, expressou sua relutância em deixar a Kaspersky dada a sua licença de três anos, que ainda possui dois anos restantes para dez dispositivos. Para ele, abandonar a Kaspersky “parece um grande desperdício apenas por conta da proibição”. Essa dissonância entre a percepção dos usuários e as diretrizes legais reflete um dilema moderno em relação à dependência de softwares e à liberdade de escolha em contextos de segurança cibernética.
Concluindo, a controvérsia em torno da Kaspersky tem gerado um debate significativo sobre a autonomia do usuário e a confiança em softwares de segurança em um ambiente de crescente vigilância e regulamentação cibernética. À medida que os usuários continuam a encontrar caminhos para contornar a proibição, fica evidente que a lealdade à marca e a familiaridade com o produto desempenham um papel crucial nas decisões dos consumidores, tornando-se um reflexo das complexas dinâmicas entre política, segurança digital e preferências pessoais.