O crescente desafio da escassez de mão de obra em estufas agrícolas tem levado empreendedores e inovadores a encontrar soluções tecnológicas que possam mitigar os impactos desse problema no setor. Nesse cenário, a empresa Four Growers, apoiada pela Y Combinator, está se destacando com um projeto inovador: robôs autônomos capazes de realizar a colheita de hortaliças nas estufas, um feito que pode transformar o modo como a agricultura moderna opera. Fundada em 2018 por Brandon Contino e Dan Chi, a empresa nasceu após um intenso período de pesquisa e desenvolvimento, onde os cofundadores se imergiram completamente na realidade do cultivo em estufas.

Brandon Contino, que atualmente ocupa o cargo de CEO da Four Growers, recorda-se do tempo em que trabalhava em um pequeno espaço na estufa, vivendo a rotina dos agricultores. “Nós começou a realizar todos os testes com um laptop e, muitas vezes, eu estava no meio das plantas escrevendo o código, enquanto o Dan realizava alterações mecânicas. Era um momento muito divertido, basicamente, vivendo na fazenda”, conta Contino. O resultado desse trabalho árduo foi um robô capaz de identificar frutas no ponto de maturação ideal, utilizando múltiplas câmeras estereofônicas que permitem ao robô manobrar suas extremidades sem danificar os produtos ainda não maduros, um aspecto crucial para atender a demanda do agricultor.

Os robôs da Four Growers têm um diferencial: atualmente, eles trabalham com a colheita de tomates, mas Contino assegura que em breve estarão disponíveis para a colheita de outros produtos, como pepinos. O caminho de Contino até a construção de robôs agrícolas, no entanto, não foi linear. Inicialmente, seu interesse estava voltado para próteses neurais, mas, ao perceber que não desejava seguir por esse caminho, direcionou sua atenção para a escassez hídrica e os desafios enfrentados pelos agricultores. Durante esse processo, ele descobriu que a automação poderia oferecer soluções significativas para os problemas dos agricultores, especialmente a falta de mão de obra.

Em suas pesquisas iniciais, Contino e sua equipe começaram a contatar diversos agricultores, buscando entender quais eram os principais desafios que enfrentavam. A resposta foi unânime: a mão de obra escassa era uma grande dor de cabeça. “Estávamos ligando para uma série de agricultores em estufas e sempre ouviamos que a falta de trabalhadores era o principal desafio”, explica Contino. E a situação não é apenas uma questão local; uma análise da National Association of State Departments of Agriculture revela que a indústria agrícola dos Estados Unidos enfrenta uma “escassez crítica” de mão de obra, uma tendência que não parece desaparecer a curto prazo.

A importância de ter trabalhadores disponíveis para a colheita não pode ser subestimada, uma vez que se os produtos não forem colhidos no momento certo, podem apodrecer e resultar em prejuízos significativos para os agricultores. Para Contino, focar nos agricultores de estufas é uma decisão estratégica, pois essas estruturas permitem uma produção quase durante todo o ano, reduzindo a distância até o consumidor final e oferecendo maior eficiência em relação às fazendas ao ar livre. “As estufas têm um cronograma de colheitas mais frequente do que as fazendas externas, o que as torna alvos perfeitos para a adoção de tecnologias”, afirma o CEO da Four Growers.

Em 2023, a empresa lançou sua atual linha de robôs, que já colheu milhões de tomates e trabalha atualmente com cinco clientes. Recentemente, a Four Growers levantou uma nova rodada de investimento de 9 milhões de dólares, tendo Basset Capital como líder, com a participação de Y Combinator, Ospraie Ag Science e outros investidores existentes. No total, a empresa já arrecadou 15 milhões de dólares em financiamento de risco, que serão usados na construção de mais robôs, uma necessidade premente diante da demanda crescente.

Curiosamente, essa nova rodada de financiamento ocorreu logo após a gigantesca Bowery Farms, uma startup de agricultura indoor bem capitalizada, encerrar suas operações devido a doenças nas plantações e margens apertadas. Contino expressa seu desejo de ver todas as empresas desse setor prosperarem, mas observa que as fazendas verticais enfrentam desafios particularmente difíceis, tanto econômicos quanto operacionais. Ele revela que a Four Growers, antes de se lancar no desenvolvimento de robótica, analisou a viabilidade de iniciar uma fazenda vertical, mas decidiu que teria um retorno melhor desenvolvendo tecnologia para fazendas já existentes.

O mercado de robótica agrícola está em expansão, com várias empresas em busca de soluções para a colheita, como a Carbon Robotics, que já levantou 143 milhões de dólares em capital de risco, e outras, como Blue River Technology e Bear Flag Robotics, que foram adquiridas pela John Deere após angariar fundos. Por outro lado, a Seso, uma startup de agtech, aborda a escassez de mão de obra por um ângulo diferente, facilitando a contratação de trabalhadores migrantes para as fazendas. Contino ressalta que a Four Growers está atenta ao futuro e pretende expandir sua tecnologia além da colheita, incluindo uma possível atuação em fazendas ao ar livre nos próximos anos. “Não se trata de substituir a mão de obra, mas de aprimorar as condições dos trabalhadores, permitindo que eles desempenhem suas funções de forma mais confortável e produtiva”, conclui.

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