Com a nova série Cruel Intentions da Amazon, as altas expectativas que acompanharam o recomeço de um clássico dos anos 90 foram quase todas derretidas na frustração. Em palavras simples, a série é desnecessária e não traz nenhuma inovação substancial. Desde a estreia do filme original de Roger Kumble, em 1999, que reinterpretou ‘Les Liaisons Dangereuses’, o gênero teen se transformou, e a narrativa de manipulação e traição poderia ter encontrado uma nova vida, mas não foi o que aconteceu nesta série.
O filme de Kumble ofereceu uma experiência intensa e repleta de reviravoltas em apenas 97 minutos, enquanto a série parece se arrastar através de oito episódios sem nem mesmo conseguir proporcionar um fechamento satisfatório. A ideia central, que envolve relações interdependentes, traições ardilosas e jogos psicológicos, ficou superficial, expandindo uma proposta que já havia sido bem explorada no formato cinematográfico. As interpretações dos protagonistas são esquecíveis, e o enredo se perde em meio a referências a uma elite estudantil, mas sem a profundidade necessária para fazer com que o público se importe.
A Amazon tentou trazer atualizações ao material, mas as mudanças são em sua maioria vazias de significado. A nova presidente da fraternidade, Caroline Merteuil, interpretada por Sarah Catherine Hook, apresenta-se como uma manipulatória que deseja provar seu valor, mas seu plano para conseguir isso — recrutando a filha do vice-presidente dos Estados Unidos para a fraternidade — é tão absurdamente frágil que faz você questionar a inteligência dos personagens modelados para seguir esse jogo.
Entre as tentativas forçadas de dramáticas e as referências a questões contemporâneas, a série apresenta um enredo que se transforma em um grande “por que isso novamente?”. Enquanto a dinâmica da fraternidade parece uma cópia enfraquecida do glamour e do privilégio que o filme original sabia pintar, aqui se revela uma série de eventos que em última análise não causam impacto. Aqui, a relação entre os personagens principais não carrega o peso emocional que deveria.
Se o filme possui momentos de virada marcantes, a nova série não consegue entregar esse mesmo tipo de emoção. Os problemas são exacerbados pela falta de química entre os atores, enquanto vemos a nova geração de estrelas se esforçando para trazer vida a uma história sem alma. Um olhar para a nova geração de produções adolescentes que já fazem sucesso, como Gossip Girl e The Sex Lives of College Girls, revela como Cruel Intentions não tem mais espaço em uma paisagem onde a ousadia e as tramas envolventes já são esperadas.
Em última análise, a série acaba se assemelhando a uma cópia de algo que já havia sido feito e deixado de lado. O deslocamento da narrativa de uma escola de elite para uma universidade genérica, como a Manchester College, só evidencia ainda mais essa falta de identidade. A série não conseguiu criar uma atmosfera opulenta que poderia realmente capturar o sentimento do que se espera de uma história de “Cruel Intentions”. Filmar no Canadá e usar designs de produção que se parecem com vinte outros dramas universitários apenas ampliam essa desconexão.
Em sua conclusão, apesar dos esforços para pegar carona na nostalgia, Cruel Intentions da Amazon falha em trazer o prazer voyeurístico que seus antecessores proporcionavam. A falta de uma visão inovadora e de uma eficácia dramática significativa faz com que a série se sinta como uma repetição monótona de temas que, na era moderna, exigem uma abordagem mais audaciosa. As constantes comparações ao original são inevitáveis, e o resultado acaba sendo uma reformulação que não gera interesse ou envolvimento emocional algum.