O recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma escolha que promete provocar um impacto significativo nas relações internacionais e na política de defesa do país: nomeou Matthew Whitaker, ex-procurador-geral interino durante seu primeiro mandato, como seu candidato para embaixador dos EUA na OTAN. A decisão ocorre em um momento em que a aliança defensiva se vê diante de desafios sem precedentes, especialmente em relação ao conflito em andamento entre a Ucrânia e a Rússia, que já se arrasta por mais de dois anos.
Em um comunicado à imprensa, Trump elogiou Whitaker, descrevendo-o como “um forte guerreiro e patriota leal, que assegurará que os interesses dos Estados Unidos sejam promovidos e defendidos”. Ele acrescentou que Whitaker tem a missão de fortalecer os laços com os aliados da OTAN e de manter uma postura firme diante de ameaças à paz e à estabilidade, ressaltando que ele colocará “a AMÉRICA EM PRIMEIRO LUGAR”. Este discurso carrega o tom característico da administração Trump, que frequentemente enfatiza uma abordagem mais assertiva nas relações internacionais.
Caso sua nomeação seja confirmada pelo Senado, Whitaker estará à frente da missão dos EUA na OTAN em um período de intensa pressão. A principal tarefa será encontrar maneiras de garantir que a aliança continue a apoiar a Ucrânia em sua luta contra a agressão russa. A expectativa é que ele também tenha que intensificar as pressões sobre os países membros da OTAN para que aumentem seus gastos com defesa, um esforço iniciado por Trump durante seu primeiro mandato, onde já havia argumentado que as nações europeias deveriam arcar com uma maior parcela do ônus de segurança.
Este ano, a OTAN anunciou a criação de uma missão dedicada a coordenar o fornecimento de equipamentos militares e treinamento à Ucrânia, uma iniciativa que tem sido amplamente liderada pelos Estados Unidos. Alguns analistas interpretaram essa medida como uma tentativa de “proteger” o apoio à Ucrânia, independentemente de quem esteja na Casa Branca. No entanto, Trump e seu vice-presidente eleito, JD Vance, já expressaram dúvidas significativas sobre o compromisso contínuo dos EUA com a causa ucraniana, especialmente com o prolongamento da guerra, que parece não ter fim à vista.
Durante a campanha, Trump deu a entender que o compromisso dos EUA com a defesa mútua da OTAN seria condicionado ao nível de contribuição de cada país para o orçamento de defesa da aliança. Ele relembrou um episódio em que um chefe de Estado de uma grande nação questionou se os EUA ainda defenderiam seu país caso fosse invadido pela Rússia, mesmo que não contribuísse. Trump não hesitou em afirmar que, sob essas circunstâncias, não garantiria a proteção, expressando que os países devem “pagar suas contas”.
No início de outubro, em uma fala em Paris, o Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, apelou por uma colaboração de defesa transatlântica mais robusta e por mais investimentos em defesa. Ele enfatizou a importância de manter a unidade entre a Europa, América do Norte e os parceiros globais para garantir a segurança e a prosperidade das nações aliadas.
Vale mencionar que, embora Whitaker seja um aliado próximo de Trump, sua trajetória não está profundamente ligada à política externa. Ele já foi o procurador-geral interino e assumiu a liderança no Departamento de Justiça após a demissão de Jeff Sessions, cujas ações frustraram Trump, principalmente em relação à sua recusa em intervir na investigação sobre a interferência russa nas eleições de 2016. A relação turbulenta entre Trump e Sessions culminou em uma posição favorável a Whitaker, que criticou a investigação de maneira mais contundente.
Durante seu breve período à frente do Departamento de Justiça, Whitaker foi protagonista em uma série de conflitos com legisladores democratas, que questionaram a legalidade de sua nomeação e criticaram sua recusa em responder a muitas das perguntas durante seus depoimentos no Congresso. Sua postura muitas vezes evasiva, aliada ao histórico de apoio a Trump durante um período conturbado, criam um ambiente de incerteza sobre como ele irá gerir as complexidades diplomáticas envolvidas na OTAN.
Por fim, a indicação de Whitaker como embaixador dos EUA na OTAN por Trump é emblemática das diretrizes que provavelmente caracterizarão a política externa de seu segundo mandato, marcada por uma ênfase no patriotismo econômico e na reavaliação das alianças tradicionais. Com a instabilidade global em crescimento e os desafios à vista, o futuro das relações entre os EUA e seus aliados da OTAN encontra-se em uma encruzilhada, e a atuação de Whitaker poderá determinar a direção que essa história tomará.