Shiva Suri teve uma experiência única que mudou sua perspectiva sobre a profissão de radiologista. Durante um período de quarentena, ele compartilhou um escritório em casa com sua mãe, uma radiologista respeitada. Observando sua rotina de trabalho, Suri percebeu que a maior parte do tempo dela era gasta em tarefas operacionais tediosas, limitando o uso de seu conhecimento especializado. “Eu a observava trabalhar dia após dia e via que ela desperdiçava cerca de sete a oito horas em tarefas que não agregavam valor. Apenas 5% do seu tempo ela estava realmente concentrada no que faz de melhor, que é a interpretação de exames”, lamentou Suri.

Motivado por essa realidade observada, Suri, que na época atuava como engenheiro em uma empresa de análise de big data chamada Confluent, decidiu criar a New Lantern. Este startup tem como objetivo automatizar tarefas relacionadas à radiologia que consomem tempo, como a realização de medições em exames e a redação de relatórios. A partir da experiência com sua mãe, Suri percebeu que seu dia de trabalho girava em torno de dois sistemas de software: o PACS, que é a biblioteca digital de imagens médicas onde os médicos visualizam os exames, e o software de relatórios que traduz essas imagens em diagnósticos acionáveis.

A transição entre essas ferramentas parecia desnecessariamente complicada, levando Suri a concluir que a New Lantern deveria combinar esses sistemas em uma única plataforma. Eric Vishria, sócio da Benchmark, observou que já havia analisado outras startups que utilizam inteligência artificial na radiologia, mas a maioria focava na análise de imagens. Ele decidiu não investir nos demais projetos, em parte porque a tecnologia ainda não está madura o suficiente para substituir os radiologistas humanos.

Nos últimos anos, muitos previram que a inteligência artificial tornaria os radiologistas obsoletos, porém a realidade é bem diferente: há uma escassez desses profissionais. A percepção de Suri é que, em vez de utilizar a inteligência artificial apenas para analisar imagens, ela pode desempenhar um papel fundamental em aliviar o trabalho repetitivo, permitindo que os médicos se concentrem no que realmente amam e em que são especialistas: a leitura de exames. “A ideia é deixar os médicos livres para fazerem o que sabem fazer e apreciam”, afirma Vishria.

A New Lantern alega que seu software pode aumentar significativamente a eficiência dos radiologistas, permitindo que eles completem até o dobro de casos no mesmo período. Para Vishria, essa promessa de otimização foi um fator determinante para seu investimento. Em um movimento significativo, na quarta-feira, a New Lantern anunciou que levantou US$ 19 milhões em uma rodada de investimentos Série A, liderada pela Benchmark.

O objetivo da New Lantern é não apenas modernizar como os radiologistas trabalham com a ajuda da inteligência artificial, mas também garantir que todos os dados sejam armazenados na nuvem, uma abordagem que contrasta com alguns fornecedores de PACS que ainda operam em sistemas locais. Os fornecedores tradicionais de PACS incluem gigantes como GE Healthcare e Philips, enquanto a Microsoft, com sua plataforma Nuance, domina o mercado de software de relatórios. No entanto, a New Lantern busca disruptar completamente o software de radiologia com seu produto inovador.

“Um momento significativo na radiologia foi a transição do filme físico para o PACS, que aconteceu há 25 anos. Nós queremos ser a maior evolução do mercado desde a invenção do PACS”, enfatizou Suri. Embora tenha se recusado a divulgar nomes de clientes, ele mencionou que algumas práticas de radiologia já estão utilizando os produtos da empresa. Uma coisa é clara: sua mãe é uma grande fã da New Lantern, apoiando assim a visão do filho e a transformação que ele busca trazer para a profissão.

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