A questão da gestão das emoções, especialmente a raiva, tem despertado crescente preocupação entre os pais que se veem diante da possibilidade de que sua própria irascibilidade influencie negativamente a forma como seus filhos lidam com sentimentos intensos. Este fenômeno, aparentemente comum no universo familiar, foi objeto de um estudo recente realizado pelo C.S. Mott Children’s Hospital, que revelou que 12% dos pais acreditam que a raiva manifestada por suas crianças pode conduzir a sérios problemas emocionais e comportamentais.
As manifestações de raiva entre crianças, que frequentemente se manifestam em crises devido a brinquedos perdidos, desentendimentos entre irmãos e restrições de tempo de tela, são vistas por muitos adultos como mais do que simples fases de desenvolvimento. Sarah Clark, diretora do estudo e cientista de pesquisa em pediatria, observa que “cada ano traz novos desafios” para as crianças, como a dinâmica de uma sala de aula ou conflitos interpessoais que podem despertar a frustração e, consequentemente, a raiva. O levantamento foi realizado em agosto e envolveu 1.031 pais de crianças com idades entre 6 e 12 anos, revelando insights alarmantes sobre o estado emocional da infância nos dias atuais.
Um dado particularmente interessante da pesquisa é que 70% dos pais admitiram possuir dificuldades em gerir a própria raiva, às vezes modelando comportamentos inadequados que poderiam servir de exemplo negativo para os pequenos. Clark ressalta que “há uma quantidade significativa de demonstrações públicas de raiva por adultos”, observando que tanto o comportamento dos pais quanto o de outros adultos pode impactar negativamente as crianças em seu aprendizado sobre como lidar com emoções intensas.
No entanto, existe a possibilidade de que os adultos se tornem modelos positivos na gestão da raiva, influenciando a maneira como os filhos respondem a conflitos emocionais. Dr. Neha Chaudhary, psiquiatra de adolescentes e crianças, enfatiza a importância da modelagem de reações saudáveis. “Se os pais responderem à raiva de maneira saudável, as crianças tendem a observar esse comportamento e tentar replicá-lo,” observa. Essa abordagem não é apenas benéfica para o bem-estar emocional dos filhos, mas também molda o futuro deles.
Além da preocupação dos pais sobre como influenciam as emoções de seus filhos, o estudo revelou que 14% dos entrevistados afirmaram que seus filhos manifestam raiva com mais frequência do que crianças da mesma idade. Os pais desse grupo tendem a se sentir ainda mais preocupados com as consequências do comportamento agressivo de seus filhos, como autolesões, conflitos com amigos e problemas escolares. Um aspecto notável é que 43% dos pais de meninos reportaram experiências negativas relacionadas à raiva de seus filhos, comparado a 33% entre pais de meninas, indicando uma possível diferença de gênero nas manifestações e ensinamentos acerca da raiva.
Dr. Katie Hurley, terapeuta infantil e adolescente, destaca que meninos muitas vezes não são ensinados a reconhecer e articular a raiva, o que torna difícil encontrar formas saudáveis de lidar com essa emoção. O estresse resultante da rotina atribulada também pode exacerbar esses episódios; muitas crianças podem já estar sobrecarregadas socialmente durante o horário escolar, o que deixa pouco espaço para atividades recreativas extras em casa.
Para muitos pais, as estratégias de regulação emocional podem ser benéficas, porém, a assistência profissional pode ser necessária quando os desafios persistem. Se o comportamento agressivo continuar sem mudança mesmo após tentativas de aplicação de habilidades de enfrentamento, ou se a criança não parecer ser o seu “eu usual”, é aconselhável buscar ajuda profissional. Dr. Chaudhary alerta que “episódios contínuos de raiva podem ser um sinal de que a criança está lidando com depressão, ansiedade ou outra condição de saúde mental”, e um diagnóstico adequado é vital.
Com 30% dos pais relatando que não receberam orientações em como ajudar seus filhos a gerenciar a raiva, e considerando que mais de 60% afirmam que suas crianças aprenderam técnicas de gerenciamento da raiva na escola, a falta de recursos para que os pais possam apoiar esses aprendizados em casa é um ponto negativo a ser abordado. Especialistas sugerem a implementação de um “rastreador de gatilhos”, uma ferramenta prática para registrar hábitos de sono e alimentação, e as circunstâncias de episódios de raiva, permitindo a identificação de padrões que podem eventualmente ser tratados.
O foco deve estar em não culpar as crianças por suas emoções intensas, mas sim ensiná-las a lidar de maneiras mais eficazes. Dr. Chaudhary recomenda que os momentos em que as crianças não estão emocionalmente sobrecarregadas sejam utilizados para praticar técnicas de gestão. Respirar profundamente, realizar atividades que exigem concentração ou até mesmo exercitar-se ao ar livre são algumas das estratégias sugeridas.
Embora haja técnicas específicas que possam ser úteis, como as tradicionais brincadeiras de “basquete com o lixo” para meninos, é imperativo lembrar que a paciência é fundamental ao ajudar as crianças a navegar por suas emoções. Em última análise, entender a raiva como uma emoção a ser compreendida pode ser um caminho mais eficaz do que tratá-la como um vilão a ser derrotado. Isso requer uma abordagem educativa e compreensiva por parte dos pais, que, ao modelar comportamentos saudáveis, pavimentam o caminho para que seus filhos aprendam a gerir suas próprias emoções de forma equilibrada e produtiva.