A eleição presidencial de 2024 representa um fenômeno raro no século XXI: quase todos os votantes acreditam que os resultados das eleições são legítimos. Este clima de aceitação é uma mudança significativa em relação às reações em anos anteriores, especialmente em 2016, quando Donald Trump foi eleito pela primeira vez. As recentes pesquisas revelam que a grande maioria dos eleitores, independentemente de suas preferências políticas, reconhece a validade da vitória de Trump nesta nova corrida eleitoral, refletindo uma evolução nas atenções e na mentalidade pública em relação às eleições nos Estados Unidos.
A reação dos democratas após a vitória de Trump em 2024 está longe de ser explosiva, como foi em 2016, quando manifestações massivas ocuparam as ruas. Desta vez, os democratas permaneceram em grande parte silenciosos, um comportamento que poderia ser interpretado como um sinal de aceitação e indiferença. É notável que, neste novo cenário político, muitos dos que inicialmente se opuseram a Trump estão agora no estágio de aceitação do luto, que marca uma nova era de compreensão política e emocional do eleitorado.
As pesquisas de opinião recente, como indicadas pela Reuters/Ipsos, mostram que aproximadamente 94% dos eleitores acreditam na legitimidade da vitória de Trump, com 64% apoiando a presidência dele, enquanto 30% aceitam sua vitória, mas expressam oposição a sua administração. Apenas cerca de 6% dos eleitores registrados refutam a legitimidade dos resultados, um número consideravelmente baixo em comparação com anos anteriores. Os próprios democratas, em 2024, demonstraram um sentimento semelhante, com cerca de 90% reconhecendo os resultados como legítimos.
Esse estado de aceitação contrasta fortemente com o que ocorreu nas eleições de 2020, nas quais uma pesquisa da Quinnipiac University revelou que 60% dos eleitores acreditavam que a vitória de Joe Biden era legítima, enquanto 34% não acreditavam. Uma comparação ainda mais intrigante pode ser feita entre 2024 e 2016, onde, após a eleição de Trump, um em cada três apoiadores de Hillary Clinton acreditava que a sua vitória não era legítima. Esse nível de desconfiança em relação aos resultados das eleições é bem menor em 2024, o que indica um potencial amadurecimento na natureza das disputas eleitorais e a aceitação do resultado, independentemente de quem possa ter sido o vencedor.
A principal diferença notável entre as eleições de 2024 e 2020 está no comportamento dos candidatos derrotados. A atual vice-presidente Kamala Harris aceitou a derrota e condescendeu com as formalidades de reconhecedor a vitória de Trump. O mesmo ocorreu em 2016, quando Clinton reconheceu sua derrota, mas o clima de aceitação não estava presente, refletido nas reservas de seu partido. Nas eleições de 2020, republicanos forneceram um forte suporte à deslegitimação da vitória de Biden, com Trump não apenas se recusando a condecer, mas também incitando crenças de que a eleição estava viciada, cria um padrões negativos que persistiram após as eleições.
Aos olhos dos eleitores, a aceitação é uma mudança fundamental em relação ao passado. Historicamente, a percepção da legitimidade de um presidente tem variado drasticamente, refletindo divisões profundas na sociedade americana. Após a eleição de George W. Bush em 2000, por exemplo, 76% dos democratas acreditavam que sua vitória não era legítima. Além disso, a aceitação dos resultados em 2024 parece ecoar a falta de objeções explícitas dos republicanos durante as vitórias de Obama, onde também não houve contestações ou deslegitimações significativas.
O cenário pós-eleitoral de 2024 pinta um quadro intrigante sobre o futuro político dos Estados Unidos. No entanto, a pergunta que persiste é se essa era de aceitação se manterá. A história sugere que as tensões políticas podem ressurgir rapidamente. Embora os democratas tenham aceitado a vitória de Trump nesta rodada, o potencial de ameaça que seu retorno representa promete perturbar a tranquilidade política. Afinal, após o que já foi um ciclo eleitoral tão polarizador, como as novas dinâmicas de seu segundo mandato moldarão a política e a interação social nos EUA?
Com a possibilidade de algo histórico em jogo, como a presidência de Trump após um intervalo de séculos entre mandatos não consecutivos, a dinâmica do panorama político poderia se desviar do que estamos acostumados. Portanto, as implicações das eleições de 2024 vão além de simplesmente aceitar resultados; elas redefinem a narrativa, a resistência e o diálogo entre todos os envolvidos no próximo capítulo da história da política americana.