Em Nova Délhi, a luta pela sobrevivência se torna cada vez mais angustiante para seus habitantes. A vida na cidade se caracteriza por um profundo e quase insuportável desconforto proporcionado pela poluição do ar, que atinge níveis alarmantes e coloca em risco a saúde de milhões. Esta situação crítica se reflete na experiência de Deepak Rajak, um paciente de 64 anos que, por conta de sua asma, viu sua saúde deteriorar-se drasticamente nas últimas semanas. Como muitos outros, Rajak se vê obrigado a enfrentar a poluição, que não oferece trégua, fazendo com que atos simples como respirar se tornem verdadeiros desafios.
A clínica de especialidade no hospital Ram Manohar Lohiya, inaugurada no ano passado para atender pessoas afetadas por doenças relacionadas à poluição, é um reflexo da crescente demanda por cuidados médicos devido ao ar tóxico que envolveu a capital indiana. Com um clima caracterizado por um manto de fumaça que transforma a luz do dia em uma obscura noite, as autoridades locais se vêem forçadas a declarar uma “emergência médica”, enquanto as escolas são fechadas e os cidadãos são aconselhados a permanecer em casa. Entretanto, para muitos moradores, como Rajak, essa não é uma opção viável; ele conta que, mesmo em um dia tão crítico, ele precisa sair, pois depende de seu trabalho como lavador a seco para garantir a alimentação de sua família.
As condições respiratórias de Rajak são um sintoma de uma epidemia muito mais ampla. De acordo com monitores globais de qualidade do ar, os níveis de poluição em Nova Délhi superam os 1.750 no Índice de Qualidade do Ar, sendo que qualquer leitura acima de 300 é considerada nociva à saúde. Na última quarta-feira, as partículas PM2.5, que são as mais prejudiciais, estavam mais de 77 vezes acima dos limites seguros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. O impacto do PM2.5 nos pulmões é bem documentado: essas partículas podem entrar na corrente sanguínea, ligando-se a uma variedade de doenças, incluindo asma, doenças cardíacas e câncer.
Desafios cotidianos em meio à poluição extrema
A dificuldade de respirar e a sensação de sufocamento são sentimentos comuns expressos por muitos que vivem na metrópole. Mohammad Ibrahim, um motorista que passa horas dirigindo pelas ruas de Délhi, descreve sua experiência com uma frustração palpável. “Sinto como se estivesse com pimenta nos olhos”, afirmou ele, evidenciando a luta diária de se adaptar a condições que fogem ao controle. O cenário é ainda mais crítico para aqueles, como Rajak e Ibrahim, que não conseguem se ausentar do trabalho, mesmo correndo o risco de comprometer sua saúde.
Cidadãos vulneráveis, como o aposentado da Força Aérea Indiana, Aditya Kumar Shukla, sentem-se impossibilitados de escapar dessa crise, ressaltando que, mesmo dentro de casa, o ar poluído invade seus lares, minando o pouco alívio que poderiam achar. Para Shukla, que já foi hospitalizado várias vezes neste ano, a frustração se torna ainda mais intensa pelo fato de não encontrarem opções de tratamento adequadas. “Se eu pudesse, mudaria de Délhi, mas o que fazer?” é a pergunta angustiante que ecoa na mente de muitos, destacando a evasão sistemática da responsabilidade do governo em abordar as causas subjacentes da poluição.
A luta pela mudança diante da inação governamental
As autoridades indiana têm tentado implementar medidas de emergência para conter a crescente poluição, suspendendo a movimentação de caminhões não essenciais e o trabalho de construção civil. Embora essas iniciativas possam oferecer um alívio momentâneo, especialistas apontam que as condições devem ser monitoradas continuamente e que as abordagens atuais são meramente paliativas. A introdução do Programa Nacional de Ar Limpo tem buscado melhorar a qualidade do ar nas cidades, mas críticos afirmam que falta uma abordagem integrada e contínua para tratar a crise da poluição durante todo o ano.
Em meio a essa luta, muitos cidadãos, como Kajal Rajak, filha de Deepak Rajak, sentem-se frustrados e impotentes. Ela expressa sua indignação ao afirmar que, apesar de suas emoções, o que realmente importa é a ação do governo. “Eles precisam fazer algo”, insiste, evidenciando a urgência de uma resposta significativa de autoridades que, até agora, têm sido insuficientes. As condições em Nova Délhi não são apenas uma questão de desconforto passageiro; elas representam uma crise de saúde pública que exige uma resposta coordenada e eficaz com o passar do tempo.
Rumo a um futuro mais saudável: um imperativo urgente
O desafio que a cidade enfrenta não é apenas uma questão local, mas um apelo à ação que ressoa a nível global. Com a crescente conscientização e o clamor por justiça ambiental, as vozes que pedem mudanças não podem ser ignoradas. Nova Délhi, a cidade que um dia foi um símbolo de cultura e história, agora se vê no centro de uma batalha pela sobrevivência. Se as lições da crise de poluição forem levadas a sério, pode surgir uma nova era de políticas ambientais mais rigorosas, que poderiam transformar a vida diária em uma metrópole que, por muitos anos, tem sido sinônimo de poluição e sofrimento.